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Rose CanguaRose Cangua

Quênia mostra eficácia contra HIV na África

País é exemplo de sucesso do tratamento de soropositivos abaixo da linha de pobreza, reduzindo infectados. Por Juliana Resende

(Kisumo, brpress) – “O HIV é um desastre nacional”, define o  Dr. Bashir M. Issak, diretor da Divisão de Saúde Reprodutiva do Ministério da Saúde Pública e Sanitária do Quênia. Sendo um microcosmo da África, uma panorâmica da doença no país subsaariano diz muito sobre o impacto e o tratamento do HIV no continente. É o tema desta terceira reportagem que a brpress realizou no Quênia, a convite do International Reporting Project (IRP).

    Atualmente, o HIV mata menos que a velha malária com quem o vírus da Aids abocanha 50% do orçamento anual para saúde do Quênia – correspondente a menos de 5% (US$ 3.2 bilhões) do Produto Interno Bruto (cerca de US$ 65 bilhões), divididos em cuidados gerais (35%) e saúde reprodutiva  (15%).

Diferentemente de outros países da África, o Quênia tem uma das maiores taxas de crescimento do mundo: cerca de 1 milhão de bebês nascem anualmente, não raro de mães soropositivas. São cerca de dois milhões de soroposotivos entre os cerca de 38 milhões de quenianos. Cinquenta por cento da população vive com menos de US$ 1/dia.

Estima-se que entre 25% e 40% dos soropositivos são mulheres entre 20 e 30 anos.

Sobrevivendo com HIV

 A vendedora de tomate e milho Rose Cangua, 40 anos, é uma das pessoas sobrevivendo com HIV em condições subhumanas, sem luz, água encanada e esgoto, em Kibera – a maior favela de Nairóbi e da África subsaariana.

Rose descobriu ser soropositiva há três anos quando o marido morreu de Aids e deixou com ela cinco filhos – o mais novo, de 4, foi infectado. Ambos fazem tratamento com antiretrovirais, fornecidos pela ONG Médicos Sem Fronteiras (e pagos pelo governo, segundo Dr. Issak). No entanto, a família não têm acesso a uma refeição todos os dias.

Ciência em ação

“A desnutrição é um grande desafio para o tratamento do HIV e resvala na necessidade de políticas públicas mais eficazes”, diz a Dra. Kayla Laserson, diretora do Centers for Disease Control and Prevention do Quênia (KEMRI/CDC),

Trata-se de um dos maiores centros de pesquisa e tratamento de doenças no mundo trabalhando com a Global Health Initiative e bancado pelo governo dos Estados Unidos, que investe anualmente US$ 12 milhões no programa de HIV.

O vírus tem quase o dobro de prevalência na população de 15 a 49 anos na província de Nyanza (14,9%) que no resto do Quênia (7,4%). Foi onde o KEMRI/CDC se instalou, há 30 anos, para pesquisar malária. Hoje atende e acompanha cerca de 30 mil pacientes e já testou cerca de 200 mil em Nyanza.

Não à toa, foi justamente nesta região de predominância rural, servida pela terceira maior cidade do Quênia, Kisumo, onde a reportagem acompanhou o aconselhamento e a testagem de HIV por agentes do KEMRI/CDC de um casal vivendo abaixo da linha de pobreza.

O processo é feito em casa mesmo – onde as pessoas se sentem com mais privacidade. Embora a testagem seja condição sine-qua-non para tratamento e controle do HIV, a reportagem sentiu uma certa pressão do KEMRI/CDC e alguma resistência do casal a fazê-la. O marido já sabia ser soropositivo.

Para a Dra. Kayla Laserson “aqui [em Nyanza] há muito menos estigma. As pessoas vivem e conversam sobre HIV. É melhor ter um número maior de soropostivos conscientes de seu status e em tratamento”, completa.

Sucesso

O fato de, em 2011, ações do KEMRI/CDC terem conseguido reduzir em 96% a infecção de parceiros sorodiscordantes, administrando antiretrovirais como profilaxia nos negativos, se mostrou um grande avanço na interrupção do ciclo de transmisão do HIV.

Mas novamente, sem uma alimentação regular, higiene e mínima infraestrutura fica difícil ter saúde, apesar de o tratamento ser geralmente mantido e apresentar aderência e eficácia. “Há um imenso progresso no tratamento do HIV/Aids mas ainda há muito o que fazer”, admite Dra. Laserson.

Nesse contexto de extrema pobreza, o HIV é um problema a mais e tem um alto custo para ser combatido, senão prevenido. Mas há ainda fatores culturais, como a alta tolerância à poligamia e o machismo estrutural, que fazem da luta contra a Aids no Quênia uma aliada à luta pela pela sobrevivência.

(Juliana Resende, brpress)

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Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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