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Primavera cinzenta

(brpress) - Eyjafjallajokull... Uma nuvem cinzenta carregada de substâncias tóxicas e partículas de corrosão cobrindo como um manto o céu da Europa. Por Leda Lu Muniz.

Leda Lu Muniz*/Especial para brpress

(brpress) – Interessante como os grandes impactos e as grandes reviravoltas derivam de coisas aparentemente insignificantes.  Foi assim num 11 de setembro, em que passageiros quase incógnitos com armas brancas, mudaram o rumo da história.
O território estadunidense e os americanos nunca mais foram os mesmos depois daquele dia… e nem o restante do mundo…

    Eyjafjallajokull… Um nome difícil de pronunciar. Um vulcão numa pequena ilha.  Colisão entre o magma ardente e a capa de gelo. Resultado: torrentes de lama com partículas tóxicas e gotículas de ácido sulfúrico lançadas a 11 quilômetros de altitude. Uma nuvem cinzenta carregada de substâncias tóxicas e partículas de corrosão cobrindo como um manto o céu da Europa.

    Uma paralisação quase global num efeito dominó devastador…Tráfego aéreo suspenso em 313 aeroportos, 80 mil vôos suspensos, sete milhões de passageiros impedidos de voar, prejuízo diário das companhias aéreas de US$ 200 milhões, totalizando US$ 1,7 bilhão, em menos de uma semana. 

À mesa

Famílias, homens de negócios, trabalhadores, diplomatas, turistas, impedidos de continuar rumo a seu destino.  E mais: falta de aspargos nos supermercados, milhares de garrafas de uísque escocês paradas nos aeroportos da Grã-Bretanha; peixes da Islândia e outros produtos correm o risco de desaparecer da mesa de muitos europeus, enquanto a situação não normalizar totalmente.

Embora tenham sido utilizadas as alternativas viáveis para contornar o problema (as balsas  operando em sua capacidade máxima; o Eurostar com trens adicionais para cruzar o Canal da Mancha totalizando 50 mil passageiros a mais por dia), ainda assim, a volta a normalidade carregará em si as consequências de um descompasso difícil de acertar.

    As ações das companhias aéreas cairam vertiginosamente(Iberia 2,6%; Air France 2,9%; British Airways 1,4%; Lufthansa 2,6%). Os cientistas da Universidade de Bristol lembram que em 1783 um vulcão da Islândia provocou um grande impacto agrícola gerando uma onda de fome na França. Outros cientistas lembram que o mesmo vulcão Eyjafjallajokull ficou 20 meses em erupção, terminando em dezembro de 1823.

     A questão é que, em tais ocasiões, o tal “mundo globalizado” não existia, e seus efeitos devastadores foram locais e direcionados. Mesmo provocando prejuízos, não tiveram impacto nos cinco continentes.

Acusação e defesa

Especialistas de várias áreas se  acusam e se defendem. Cientistas e especialistas em segurança aérea acreditam que a paralisação foi a melhor opção para a preservação de milhares de vídas. A Iata (Associação Internacional do Transporte Aéreo), AEA (Associação Européia das Companhias Aéreas) e ACI Europa (Conselho Internacional dos Aeroportos da Europa) culpam os governos dos países por não assumirem as decisões.

Enfim, o caos e o descompasso se revela em seus vários aspectos: político, econômico, social. Todos querem encontrar culpados e querem ser ressarcidos dos próprios prejuízos. Mas a questão é muito mais profunda…

Natural rebeldia

Curiosamente, após o fracasso da COP-15, 15ª Conferência das Partes, realizada pela UNFCCC – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em  dezembro de 2009, em Copenhague (Dinamarca),, em que não houve avanços significativos na tomada de posição por parte das nações  mais desenvolvidas e mais poluidoras do planeta, parece que a “mãe terra” começou a se rebelar.  Terremoto no Haiti … Ameaça de Tsunami no Pacífico … Terremoto no Chile … Vulcão na Islândia … Terremoto na China …

Os cientistas explicam: as placas tectônicas estão se movendo – se “ajustando”. Será? Este “ajuste” não será  quase como um pedido de socorro do planeta, exigindo uma solução para manter-se vivo, a despeito do egoismo e dos desmandos do homem?
 
Parece uma ironia que após a ECO 92 e depois de quase duas décadas, na COP 15, o avanço tenha sido de milímetros. Milímetros de “ajustes” no documento final. O planeta está se “ajustando”… E a comunidade internacional? Quando vai se  “ajustar”?

(*) Leda Lu Muniz é mestre em Sociologia pela Universidade La Sapienza/Roma, especialista em Política Internacional (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), pesquisadora, consultora e analista de Relações Internacionais.

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