Ricardo Salles defende armas contra violência no campo
Indicação de ex-secretário de Alkmin o Meio Ambiente de Bolsonaro está alinhada ideologicamente com o presidente.
(São Paulo, brpress) – A indicação do advogado Ricardo Salles a ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro é tão polêmica quanto a campanha de Salles para deputado federal por São Paulo pelo partido Novo.
Ex-Secretário de Meio Ambiente do governador de SP Geraldo Alkmin, de quem foi também secretário particular, presidente do movimento Endireita Brasil, Salles dialoga ideologicamente muito mais com Bolsonaro, que defende o porte de armas e que conflitos sejam resolvidos à bala.
Violência
O advogado de 43 anos foi advertido pelo Novo pelo teor bélico de sua campanha nas eleições 2018, sob o slogan de ‘Segurança no Campo’, e foi condenado numa ação do Ministério Público de SP por improbidade administrativa, acusado de manipular mapas de manejo ambiental do rio Tietê, “com a clara intenção de beneficiar setores econômicos” – o que ele nega. Cabe recurso e a condenação não fez Bolsonaro procurar um substituto para a pasta.
Salles parece não se intimidar com os acontecimentos. Durante as eleições 2018, ele não tirou das redes sociais uma peça de sua campanha à Câmara dos Deputados sob o número 3006 (uma alusão a balas calibre 30-06 Springfield), na qual defendia o uso de arma de fogo “contra a praga do javali”; “contra as esquerdas e o MST”; “contra o roubo de trator, gado e insumos” e “contra a bandidagem no campo”.
Apologia e incitação ao crime
A postagem da peça no Twitter suscitou, em agosto deste ano, várias críticas, além das vindas de seu próprio partido. A procuradora da República em São Paulo Janice Acari. integrante da Força Tarefa da Lava Jato em SP, twittou: “Num exame rápido, parece enquadrar-se na conduta do art. 286 do Código Penal (incitação ao crime) e não na apologia (art. 287). De qualquer forma, a peça de campanha pode ser impugnada na Justiça Eleitoral”. Salles acabou impugnado pelas urnas. Mas será ministro.
Antes de ser condenado na ação, em dezembro, ele declarou:
“Sou réu, mas não há decisão contra mim. São todas favoráveis a mim. Todas as testemunhas ouvidas, de funcionários do governo e fora, corroboraram a minha posição”.
Bolsonaro disse que manteria o nome de Salles no ministério do Meio Ambiente até que a ação – aberta em 2017 – fosse julgada, podendo ele ser demitido caso condenado. Não foi.
Jornalistas como Reinaldo Azevedo criticaram a campanha de Salles. O site O Antagonista cobrou posicionamento de João Amoêdo, candidato à presidência pelo Novo, com relação ao governo Bolsonaro, e Ricardo Salles. Como todo filiado e candidato do Novo tem de ser ficha limpa e passar por um processo de seleção ao se candidatar pelo partido, o fato de Salles ser réu e ser do Novo suscitou cobranças de que o partido se posicione sobre a indicação. Mesmo com a condenação, o Novo ainda não se manifestou.
Em nota oficial, o Novo se resume a declarar que “é independente do governo eleito e seus filiados têm a liberdade de prestar serviço público, desde que não contrariem os princípios e valores da instituição”. A nota termina em um tom de aprovação à indicação do advogado ao Ministério do Meio Ambiente: “Desejamos sucesso ao futuro ministro Ricardo Salles”. Segundo a assessora de imprensa do Novo, Gabriela Clemente, “a indicação de Salles não foi feita pelo partido. Por isso, não há muito o que se falar.”
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