Cristina Kirchner pré-reeleita
(Londres, brpress) - É o que mostrou o primeiro de três turnos, numa controversa "inovação" no sistema democrático argentino. Por Isaac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress
(Londres, brpress) – A presidente argentina Cristina Kirchner foi praticamente reeleita antes que houvesse uma eleição geral. Isto devido a uma controversa “inovação” no sistema democrático.Oficialmente, o primeiro turno argentino será realizado em 23 de outubro e um provável segundo turno em 20 de novembro.
Entretanto, aos 28.853.223 cidadãos inscritos coube votar num controverso plebiscito que não elege ninguém para cargo público, mas através do qual o caminho fica aberto para que Cristina se converta na primeira mulher do mundo a ser reeleita à presidência.
A Argentina criou um sistema de “três turnos presidenciais”. Se nos EUA e no México o candidato é eleito em apenas um turno, e na França e na maioria das Américas do Sul e Central existe a possibilidade de que aconteçam dois turnos, na Argentina criou-se uma nova eleição nacional obrigatória prévia que se chama “internas”.
Pré-eleição
Estas internas não se parecem com as que há em outras democracias, onde os partidos elegem seus candidatos em processos voluntários, em que participam seus associados e agregados. Na Argentina todos devem votar no candidato/aspirante de algum partido, ainda que não apóiem ou simpatizem com dita organização.
De fato, trata-se de uma “pré-eleição” ou de uma “eleição antes de uma eleição”, onde se eliminam os partidos pequenos (anulam-se todos aqueles que não chegam a 1.5%), evitando, desta forma, que o peronismo volte a apresentar-se dividido nas eleições presidenciais.
No último domingo (14/08) votaram 21.757.053 argentinos, uma quantidade superior aos 20.673.170 que compareceram às urnas nas eleições gerais passadas, de 28 de outubro de 2007.
Cristina Kirchner obteve 10.363.319 votos (50.07%), um número e porcentagem de votos muito maior do que obteve em 2007, quando chegou à presidência com 8.651.066 votos (45.29%), e em 2003, quando foi eleita como primeira-dama de Nestor Kirchner com apenas 4.312.517 votos (22.24%).
Alfonsín
Nestas “internas nada internas” ficou em segundo lugar Ricardo Alfonsín (filho do presidente argentino de 1983-89) com apenas 2.517.839 votos (12.17%) e apenas 0.1% acima de outro candidato peronista (o ex-presidente Duhalde).
Segundo a constituição, a Casa Rosada será de quem ganhe com mais de 45% (ou, em todo caso, com mais de 40%, mas com uma diferença de mais de 10 pontos percentuais sobre seu mais imediato rival).
A estas alturas, resulta praticamente impossível que uma vantagem de 4 a 1 sobre se, em 2003, a primeira dama do presidente menos votado da América Latina (Kirchner herdou a presidência após ter ficado em segundo lugar, com menos de 22.5%), hoje pode vir a ser a mulher que ocupará uma presidência com a diferença e a percentagem mais altas da história.
Seus rivais, ao invés de unir-se contra ela, podem acabar disputando entre si melhores posições no Congresso e encabeçando a oposição.
(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e PolíticaEconômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latinapela London School of Economics. É um dos analistas políticoslatino-americanos mais publicados do mundo. Tradução de AngélicaCampos/brpress. Fale com ele pelo [email protected] ou pelo Twitter @brpress.