Eduardo Kobra diz que não vai falar de Dória na Campus Party
São Paulo, brpress) - Grafiteiro paulistano torna-se uma das principais atrações do evento, após polêmica da prefeitura de SP com grafites e pichações; Kobra assina mural de Bod Dylan, em Minneapolis.
(São Paulo, brpress) – O grafiteiro paulistano Eduardo Kobra ganhou status de uma das principais atrações da Campus Party 2017, onde faz palestra nesta sexta (03/02), às 20h. Não que ele não mereça, já que sua arte urbana é extremamente autoral e original. Mas foi depois que o novo prefeito de São Paulo, João Dória Jr. (PSDB), resolveu apagar grafites e pichações na cidade, criando enorme polêmica, é que Kobra se viu no olho do furacão. Solicitado pelos jornalistas cobrindo a CP, ele já avisou que não vai comentar sobre a ação de Dória.
Kobra, cujo trabalho vem sendo elogiado pelo próprio Dória, teve seu maior mural na cidade – retratando a São Paulo antiga na avenida 23 de Maio – completamente apagado no último sábado (28/02). O muro ganhou a mesma cor cinza dos demais grafites apagados pela Prefeitura de São Paulo na ação Cidade Linda – depois que foi pichado com o rosto de Dória apagando o grafite, em protesto contra o prefeito.
Obra de arte
Os murais de Kobra são considerados obras de arte urbana, em cidades como Tóquio e Dubai, entre outras. São grafites autorizados – como os de São Paulo – por autoridades e/ou proprietários, diferentemente das pichações. Em maio de 2016, Kobra iniciou uma nova obra no Taiti, na Polonésia Francesa. “Para criar o desenho, procurei inspirar-me na monumental obra de Paul Gauguin, que foi tão influenciado pelas cores, sabores, aromas e, claro, pela gente do Taiti”, disse o artista, sobre a obra de15 metros de altura por 8 de largura, retratando duas taitianas nativas.
Em agosto do ano passado, começou outro em homenagem a Bob Dylan, na cidade natal do Prêmio Nobel de Literatura 2016, Minneapolis (EUA).
Do ‘pixo’ ao graffiti
Kobra nasceu no bairro do Campo Limpo, periferia de São Paulo, e o design sempre foi uma constante em sua vida. Aos 12 anos, já envolvido com meninos mais velhos e ligado à cultura hip hop e “pixação”– assim, com x, definindo uma subcultura de rebeldia e marcação de presença e identidade disseminada entre adolescentes de metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro. Kobra também fez “pixo” clandestinamente muros do centro da cidade no final de 1980.
O contato com o graffiti veio cinco anos depois. Inquieto, ele procurou melhorar suas ilustrações e começou a ter contato com a arte de paredes através de livros, além de conhecer artistas como Diego Rivera e Candido Portinari – duas de suas grandes inspirações. Seguindo os desenvolvimentos da arte urbana em São Paulo no início de 1990, ele criou o Estúdio Kobra, convergindo para uma pintura mural original e aproveitando as suas características como artista experimentador, e habilidoso pintor realista.
Muros da Memória
Assim, ele desenvolve o projeto Muros da Memória, que busca transformar a paisagem urbana através da arte e resgatar a memória da cidade. Este projeto é a síntese do seu modo peculiar de criar, através do qual ele pinta, mas também adere, interfere e sobrepõe cenas e personagens das primeiras décadas do século 20. É uma amálgama de nostalgia e modernidade, instando por meio de pinturas cenográficas, algumas vezes monumentais, das quais ele cria portais para saudosos momentos da cidade.
Era o caso do maior destes murais, medindo 1.000 m2, realizado em 2009, na Avenida 23 de Maio, em comemoração ao aniversário da cidade de São Paulo. Paralelamente ao seu trabalho com o estúdio, Kobra desenvolve sua produção pessoal, com exposições no Brasil e exterior. Além disso, ele está sempre pesquisando diferentes materiais e novas técnicas, tais como a pintura 3D, ou anamórfico, em pavimentos.
O Beijo, Niemayer e Nobel
A convite do município de São Paulo, ele fez a primeira pintura em pavimento 3D do Brasil, na Praça Patriarca, centro da cidade. Kobra também pintou vários murais em Londres, Atenas, Lyon, Los Angeles e Nova York, onde ele pintou o mural O Beijo, uma poderosa reinterpretação da foto mais famosa de Alfred Eisenstaedt, tirada na Times Square no dia 14 de agosto de 1945 – dia em que os americanos saíram às ruas para comemorar o fim da Segunda Guerra Mundial.
No início de 2013, Kobra pintou um enorme mural em homenagem ao arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, que cobre toda a lateral de um edifício de 18 andares na Avenida Paulista, em São Paulo. A obra tem atraído a atenção mundial e reverberou através de vários meios de comunicação e mídia especializada em arte de diferentes lugares ao redor do mundo. Recentemente, o artista tem viajado por todo o mundo espalhando seu estilo e a lista de cidades com obras de arte de Kobra vem aumentando rapidamente, compreendendo cidades como Moscou, Los Angeles e Miami, onde ele pintou seu mais recente trabalho para a feira de arte Miami Art Basel.
Kobra foi também à Suécia, onde pintou o mural Alfred Nobel, na cidade de Boras . Depois de terminar seu trabalho, viajou para a Polônia, a convite do Forms Urban Gallery, que já havia convidado artistas de destaque como Inti, do Chile; Roa, da Bélgica e os irmãos brasileiros OsGêmeos – críticos atuantes da ação de João Dória.
Kobra mantém seu estúdio na Vila Madalena, São Paulo, e seu desenvolvimento como artista bem como o reconhecimento de seu nome como um dos grandes nomes da street art contemporânea vem crescendo cada vez mais. Ele recentemente negou que tenha a intenção de colaborar com um “museu de arte de rua a céu aberto” proposto pela prefeitura de São Paulo, após a reação negativa de parte da população e dos artistas paulistanos com o programa Cidade Linda.