Street art pulsa em Bristol
Cidade de Banksy, que revolucionou o conceito do graffiti e arte de rua, é palco do maior festival do gênero da Europa: See No Evil.
(Bristol, brpress) – Bristol, no sudoeste da Inglaterra é o palco de See No Evil, o maior festival de street art da Europa. Não poderia ser diferente. Afinal, Bristol é cidade de Banksy, o artista que revolucionou o conceito do graffitti e arte de rua.
Parte do London 2012 Festival, a chamada Olimpíada Cultural que reúne eventos culturais em Londres e em todo o Reino Unido, paralelamente aos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos, See No Evil é um projeto de arte urbana internacional, cujo coração bate forte na Nelson Street, uma das principais artérias do centro de Bristol.
Aquela que era uma rua considerada pouco convidativa e até insegura tornou-se uma galeria a céu aberto, onde, ao longo de uma semana em agosto, alguns dos melhores artistas de street art do mundo espalham a sua arte, transformando paredes cinzentas em murais vivos de cor e movimento.
Reinvenção
O conceito é reiventar o espaço público – mas tudo dentro da lei. Cada um dos proprietários dos edificios cujo exterior é transformado dá a respectiva permissão para que o artista dê asas à sua criatividade. Entre eles estão um restaurante, um centro para jovens, uma residência universitária, uma ponte e até uma delegacia de polícia.
Bristol, considerada uma das melhores cidades para se viver na Inglaterra, é, definitivamente, um cenário perfeito para um evento tão alternativo, criativo e provocador – algumas das características que fizeram a fama da obra do misterioso e cultuado Banksy (até hoje, sua identidade não foi revelada em mais um irônico golpe de marketing do artista, que diz querer se preservar da espetacularização da celebridade).
Tinta fresca
Inkie, o curador do evento, é um artista de rua já estabelecido cujas origens vêm dos tempos de Banksy – anos 90. É o mentor e a força por trás do festival que está apenas engatinhando – este ano foi sua segunda edição. De 2011, três obras ficaram permanentes na cidade, escolhidas pelos leitores de um dos jornais de Bristol. Assim se percebe a dimensão do festival e a importância da street art para a cidade e seus habitantes.
See No Evil não se prende apenas às artes visuais. A música (leia-se hip hop/rap) sempre foi um componente da cultura de rua e da arte de rua. E o graffiti em Bristol não é exceção. Depois de todas as obras estarem terminadas, uma festa, no estilo Block Party de Nova York, reúne todos os tons e sons da street art e celebra a comunhão entre os artistas, suas obras, os espaços e o público.
Que mal tem?
A pergunta estava na boca de todos os repórteres, que foram a Bristol a convite da organização do London 2012 Festival, em 17/08. Por que, afinal, See No Evil? Ninguém sabia explicar exatamente a origem do nome, mas não é difícil associar a resposta ao preconceito enfrentado pela street art, tornando-a, inicialmente, maldita, taxada de pixação e tratada como delinquência pela sociedade.
Nomes como Banksy – cujas obras hoje valem astronômicas cifras, como, por exemplo, o conjunto de imagens da modelo Kate Moss leiloado em 2006 pela Sotheby’s por £50,400 (cerca de R$ 162 mil), cinco vezes acima do preço estipulado, ou o seu stencil de uma Mona Lisa verde, vendido por £57,000 (cerca de R$ 183 mil) – ajudaram a abrir o caminho.
Difícil mesmo é saber se existiria um festival como este sem o papel precursor de Banksy. Novos talentos não param de surgir – de Bristol a São Paulo, metrópole que deu ao mundo Os Gêmeos. Homens e mulheres – estas ainda que em minoria – conquistam o seu lugar no mundo da street art.
Moças (de bigode)
Kashink é o perfeito exemplo. Uma jovem francesa de look provocador que, com o seu talento, marca presença consecutiva no festival. “No ano passado, meu mural era o menor. Nesta edição é o maior. Sinto que conquistei meu lugar com a minha arte”, festeja.
Kashink pinta com afinco e dedicação, horas a fio. A sua arte é um misto de elementos tribais, muita cor e vida. Seu trabalho já esteve em exposição em galerias na França, Suíça, Itália, Reino Unido, Canadá e Estados Unidos. “Inspiro-me nas viagens que faço, no que vejo, no artesanato e na cultura que encontro.”
A jovem se refere ainda à influência latino-americana em sua obra, tendo Frida Khalo como o expoente máximo. O bigode que Kashink faz questão de pintar diariamente em seu rosto entrega essa fixação. A street art ainda é um mundo masculino e Kashink faz questão de dar a cara para bater, mostrando que sabe disso. “Mas aqui sou avaliada pela minha arte, e não pelo meu gênero”, acredita.
A street art é masculina e feminina, é homogênea e heterogênea, é tudo e nada. Abstrata, simples e complexa. Arte e estilo de vida. “Você sente que tem um trabalho que pode ser feito em qualquer lugar?”, pergunta esta repórter. “Sim, e eu vivo disso, das exposições que faço pelo mundo e também de workshops que dou em Paris para crianças e jovens”. O melhor é que, nesse “emprego”, não há mal nenhum em ser mandado para a rua.
(Helena Alves, especial para brpress)
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