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David ShrigleyDavid Shrigley

Turner Prize desafia Derry

(Londonderry, brpress) - Pela primeira vez, prêmio britânico sai da Inglaterra e acontece na Irlanda do Norte. Por Juliana Resende.

(BR Press) – Uma instituição britânica, o Turner Prize, maior prêmio de arte contemporânea do mundo, viajou para fora da Inglaterra, pela primeira vez em seus quase 30 anos de existência, este ano. Seu destino não poderia ser mais inusitado, ainda que continue dentro dos domínios da Rainha: a segunda cidade da Irlanda do Norte –  Derry (para os católicos); Londonderry (como os protestantes gostam de chamar – e o nome oficial do município, com o sufixo mais do que unionista).

    Uma coisa ou outra, a cidade encerra seu controverso reinado como  Capital Cultural do Reino Unido 2013 sediando o Turner Prize num ex-forte do exército britânico, que funcionava durante a ocupação militar nos anos de chumbo do conflito norte-irlandês que durou mais de 30 primaveras. A tinhosa e histórica  Derry – berço do IRA e palco do Bloody Sunday (que o U2 divulgou para todo o mundo com sua música)  – resistiu, ainda que culturalmente, cheia de personalidade, birras e lembranças, que eventualmente aguçam confusões.

      Tive o prazer de estudar e morar em Derry por seis meses, enquanto cursava parte de uma pós-graduação em Conflitos e Processo de Paz, no campus de Magee, na University of Ulster. E posso dizer que trata-se de um lugar sui-generis, de sotaque e ânimos carregados, com um dos mais animados Halloweens do planeta,  dividido pelo Rio Foyle, cujas margens foram unidas pela Peace Bridge, inaugurada por Jude Law, em 2011. Deu briga no final da festa – há fações políticas locais que consideram a permanência britânica e os eventos que representam esse poder uma afronta ao republicanismo irredentista.

Peace Bridge

   A ponte representa fisica e simbolicamente o processo de paz entre católicos – concentrados do lado onde está a cidade murada (uma das poucas que restou na Europa) – e protestantes, maioria no outro lado, chamado de Water Side. É lá que está encravado o forte de Ebrington, datado de 1689 e utlizado como QG militar ao longo dos anos. Com o processo de paz e a grana rolando solta com a chancela da Peace and Reconciliation Commission, as Ebrington Barracks, ou Barricadas de Ebrington, conjunto de 19 edificações, tiveram 14 delas transformadas num centro multiuso para eventos, literalmente ‘state-of-the-art’, cinco vezes maior que a Trafalgar Square, no coração de Londres.

     O hub cultural – onde acontecem as exposições até 05/01/14 e a cerimônia de entrega do Turner Prize 2013, em 02/12 – é conectado ao marco central e outro monumento de Derry: o medieval Guildhall, prédio da Prefeitura. Outra conexão  é certa: o Turner Prize, que tem fomentado a provocação por meio das artes visuais, não poderia ter escolhido lugar mais adequado para sentar praça.

Artistas

    Entre os quatro indicados este ano estão Tino Sehgal (cuja arte não tem representação material, a não ser a junção de pessoas, numa espécie de flashmob), David Shrigley, Laure Prouvost (muito calcada em vídeo) e Lynette Yiadom-Boakye (desenhos feitos em apenas um dia) – todos criadores não convencionais de expressões artísticas.  “Acho o mais importante é mostrar que, nesse mundo cada vez mais conectado, não há certo e errado – e a arte deve refletir isso”, diz Annie Fletcher, curadora de exposições de Van Abbemuseum, em Eindhoven, e um dos membros do júri.

    David Shrigley, famoso por seus desenhos, vídeos e fotografias geralmente envolvendo cães e humor negro, construiu um boneco gigante com orelhas de abano que pisca e faz xixi, reproduzido em diversos desenhos feitos em papel pelos mais diversos grupos de visitantes da exposição e colados nas paredes da sala. “Ter a possibilidade de fazer o público interagir e reinterpretar minha obra é dessa cralizar o que é chamado de arte e democratizar o ato de criar, sem medo ou barreiras – e acho que essa é a essência da arte”, diz David Shrigley.

    Para o artista, o fato de as pessoas poderem expor seus desenhos é uma forma de rebater críticas de que o Turner Prize tem sido elitista e, como muita obra de arte contemporânea, voltada somente para o próprio umbigo e de difícil interpretação. “Acho que todos os trabalhos e exposições do Turner Prize são bastante acessíveis ao público”, completa Shrigley.

    O Turner Prize premia o vencedor em £40 mil (R$ 150 mil) e os demais indicados em £5 mil (R$ 19 mil), e foi criado em 1984, para fometar trabalhos de artistas britânicos com menos de 50 anos que discutam e desafiem os limites da arte contemporânea. As exposições têm entrada franca.

(Juliana Resende/brpress)

Visitação Ebrington Barracks/Exposições Turner Prize:  terças e quartas, das 10h às 17h30; quintas, das 10h às 20h; sextas e sábados, das 10h às 17h30; domingos, das 12h às 17h30. Até 05/01/14.

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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