Zadie Smith sobre maquiagem e meninas

(Edimburgo, brpress) - Premiada autora presente no Edinburgh International Book Festival diz que garotas perdem tempo se embelezando, a julgar pela filha de sete anos. 

(Edimburgo, brpress) – O Edinburgh International Book Festival (Festival Internacional do Livro de Edimburgo) é imenso, como todos os festivais que tornam a capital da Escócia talvez a cidade mais cosmopolita e artística do mundo, em agosto. São mais de 700 eventos e reunindo mais de 800 autores de todo o planeta, com destaque para os britânicos. Entre eles, Zadie Smith, duas vezes incluída na prestigiosa lista da revista literária Granta dos 20 melhores jovens escritores ingleses (2003 e 2013). 

Autora do best seller Sobre a Beleza (Cia das Letras), que não é exatamente sobre a beleza, Zadie Smith, 41 anos, recebeu o Orange Prize for Fiction e o Anisfield-Wolf Book Award em 2006 e seu romance Dentes Brancos foi incluído na lista da revista Time dos 100 melhores romances de língua inglesa escritos entre 1923 e 2005. Mas, neste festival, ela ganhou manchetes não pelo lançamento do novo livro, Swing Time, mas por causa de uma discussão justamente sobre beleza. 

Perda de tempo

Para ela, garotas são bobas de passar tanto tempo se embelezando. “Enquanto elas passam horas em frente ao espelho, os meninos já estão na rua fazendo e acontecendo”, disse. O tema veio à tona porque sua filha de sete anos, Kit, estava passando cerca de uma hora por dia fazendo maquiagem (uma técnica chamada contouring, que resulta num look natural, porém perfeito). 

“Eu acho que esse negócio de contouring está indo longe demais e resolvi limitar o tempo dela se maquiar em 15 minutos”, revelou a escritora, numa discussão acalorada com mais participantes sobre gênero e beleza. “Aquilo me deixou enfurecida”, revelou a escritora. 

Cultural

Em países como o Reino Unido, Canadá e EUA, o uso de maquiagem por mulheres de todas as idades e classes sociais (incluindo meninas e adolescentes) é algo comum, diferentemente do Brasil, por questões socioeconômicas, culturais e climáticas. A discussão – em torno do exagero e sexualização precoce de meninas – ganhou espaço até no sério programa jornalístico da BBC Two, Newsnight. 

A âncora Kirsty Wark, cujo quadro discute mais a fundo notícias que estão em destaque, chamou duas jornalistas para falar sobre a questão na última terça (22/08): Claire Coleman, consultora de marketing de marcas de maquiagem, e Madeleine Spencer, editora de beleza da StyleUK. 

Coleman não escondia sua revolta, apesar de representar a indústria: “Acho totalmente errado criança usar maquiagem. Alguém ter que fazer algo a respeito”, declarou. Para Spencer, “não há problema em uma menina se cuidar e gostar de parecer bonita. Acho que cabe aos pais educar as crianças e dizerem que quem você é vale mais do que a maneira que você aparenta”. 

Efeito YouTube

Alguns blogs de beleza – segmento dos que mais faturam na internet com milhares de tutoriais de maquiagem no YouTube, turbinados por polpudos patrocínios das marcas de cosméticos – acusaram Smith de criticar quem simplesmente gosta de se maquiar. “Como feminista, eu jamais vou determinar o tempo que alguém deve estar em frente ao espelho”, argumentou Coleman.

Gênero e padrões (além de cobranças) de beleza foram outros ingredientes que contribuíram para a ebulição das discussões. “Acho que, cada vez mais, mulheres e homens vivem esta pressão de estarem bonitos – embora ficar mais de uma hora se maquiando seja tempo demais”, opinou Spencer. “Não acho absolutamente que homens sofrem a mesma pressão que as mulheres”, finalizou Spencer.

(A brpress viajou a Edimburgo a convite do VisitBritain)