Acesse nosso conteúdo

Populate the side area with widgets, images, and more. Easily add social icons linking to your social media pages and make sure that they are always just one click away.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

Menina se recusa a cumprimentar o general FigueiredoMenina se recusa a cumprimentar o general Figueiredo

31 de março de 1964 não é um marco para a democracia brasileira

(Londres, brpress) - Data entra, sim, para a história do país, mas como um marco de ruptuda ordem democrática do Brasil, com reflexos até os dias atuais. Por Geraldo Cantarino.

(Londres, brpress) – Na Ordem do Dia Alusiva ao 31 de Março de 1964, o Ministério da Defesa afirmou que o “Movimento de 1964 é um marco para a democracia brasileira”. A afirmação está errada e merece uma reflexão.

Pode um movimento que depôs um presidente legítimo ser considerado um marco para a democracia brasileira? Seria o termo “movimento” o mais adequado para denominar o conjunto de ações daquela fatídica terça-feira, que, para muitos observadores, consumou-se de fato no dia seguinte, 1º de abril, Dia da Mentira?

Poder à força

A meu ver, o que ocorreu há 56 anos foi nada menos do que “uma tomada inesperada do poder governamental pela força”, conforme clássica definição de golpe de Estado em qualquer dicionário.

E essa tomada de poder estava impulsionada não apenas por motivos ideológicos, mas por poderosos grupos econômicos associados ao capital multinacional, interessados em conquistar e transformar o Estado a seu bel-prazer. E esse golpe empresarial-militar permitiu isso, a conquista do Estado, como tão bem demonstrou o cientista político René Armand Dreifuss, em sua obra seminal 1964 – A Conquista do Estado (Ed. Vozes, 1981)  

O 31 de março de 1964 entra, sim, para a história do país, mas como um marco de ruptura da ordem democrática do Brasil, com reflexos até os dias atuais.

Graves violações de direitos humanos

Um movimento que dá início a um regime responsável por graves violações de direitos humanos como sequestro, detenção ilegal e arbitrária, tortura, execução extrajudicial, desaparecimento forçado, ocultação e destruição de cadáveres não pode ser um marco para a democracia brasileira.

Um movimento que dá início a um regime responsável por pelo menos 434 mortes não pode ser um marco para a democracia brasileira.

Regime autoritário

Um movimento que dá início a um regime autoritário que fica no poder por 21 anos, suspende eleições diretas para presidente e promove uma série de arbitrariedades, como cassação de mandatos eletivos, suspensão de direitos políticos por dez anos, recesso do Congresso Nacional, proibição de manifestação de natureza política e suspensão da garantia de habeas corpus não pode ser um marco para a democracia brasileira.

Sem investigação, sem punição

Um movimento que dá início a um regime que aprova uma Lei da Anistia, que vinculou a anistia aos militantes políticos aos crimes cometidos pelos agentes da repressão, impedindo assim a investigação, julgamento e sanção dos responsáveis por graves violações de direitos humanos não pode ser um marco para a democracia brasileira.

Corrupção

Um movimento que dá início a um regime acusado de corrupção, tráfico de influência e arbítrio nos altos escalões do governo e de desperdiçar milhões de dólares em projetos duvidosos ou inacabados, em detrimento de investimentos urgentes em serviços básicos de saúde e educação para a população não pode ser um marco para a democracia brasileira.

Um movimento que dá início a um regime que, como disse o antropólogo Darcy Ribeiro, promoveu “o enriquecimento mais escandaloso dos ricos e o empobrecimento mais perverso dos pobres” não pode ser um marco para a democracia brasileira. Nem em país algum.

Não. Definitivamente, 31 de março de 1964 não é um marco para a democracia brasileira. Não é uma data para ser esquecida, nem comemorada. É uma data para nos fazer lembrar do quão frágil e vulnerável é a nossa incipiente democracia.

(Geraldo Cantarino*, especial para brpress)

(*) O jornalista e escritor Geraldo Cantarino vive há 20 anos na Inglaterra, onde fez mestrado pelo Goldsmiths College, e é autor dos livros 1964 – A Revolução para Inglês Ver, Uma Ilha Chamada Brasil, Segredos da Propaganda Anticomunista e A Ditadura que o Inglês Viu (publicados no Brasil pela Mauad Editora) e prepara novo livro Geisel em Londres.

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate