Acesse nosso conteúdo

Populate the side area with widgets, images, and more. Easily add social icons linking to your social media pages and make sure that they are always just one click away.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

Faixas alertando contra o coronavírus no Complexo do Alemão. Foto: Raul Santiago/Cpletivo Papo RetoFaixas alertando contra o coronavírus no Complexo do Alemão. Foto: Raul Santiago/Cpletivo Papo Reto

Favelas do Rio lutam contra o coronavírus

(Rio de Janeiro, brpress) - Lideranças, organizações comunitárias e instituições, como a Fiocruz, e até tráfico se unem na tentativa de evitar COVID-19, apesar das condições precárias. Por Juliana Resende.

(Rio de Janeiro, brpress) – O Dia Mundial da Água (22 de março), que coincidiu com o começo das medidas de isolamento social no Brasil,  trouxe um paradigma  às favelas do Rio: “Lavar as mãos sempre como, se as pessoas não têm nem água em casa?”, pergunta a ativista Camila Santos, do coletivo Mulheres em Ação no Alemão, se referindo à principal recomendação para evitar a contaminação pelo novo coronavírus. 

 As autoridades “lavam as mãos” enviando carros-pipa onde saneamento básico é luxo. Somando cerca de 250 mil habitantes (dos cerca de 1,5 milhão que vive em favelas no Rio), os complexos da Maré e do Alemão, além de Manguinhos – onde havia pelo menos um caso de COVD-19 confirmado até a última segunda-feira (23/03) –, estão agindo por conta própria, sem esperar iniciativas do poder público. 

#SELIGANOCORONA

 Manguinhos, onde o esgoto corre a céu aberto e o lixo se acumula, tem como vizinha a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), o maior centro de pesquisa e produção científica e tecnologia em saúde da América Latina. A instituição é parceira na campanha #SELIGANOCORONA que está em curso e deve se intensificar nos próximos dias. 

 O primeiro caso de COVID-19 confirmado nas favelas do Rio foi na Cidade de Deus – local que dá nome ao único filme brasileiro até agora a receber quatro indicações ao Oscar, nas categorias de Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Fotografia. Até a última atualização desta reportagem, havia 305 casos de contaminação por cornonavírus nas favelas do Rio. 

 Na Cidade de Deus e outras comunidades, traficantes e milicianos estabeleceram toques de recolher. Além de ameaçar moradores que forem flagrados circulando após as 20h, financiam carros de som dando a ordem: “Fique em casa”. Quem desobedecer poderá ser punido, avisam.

Precariedade 

 As favelas têm um “ecossistema” diferente de áreas mais abastadas – onde até agora se concentram os casos de COVID-19 no Rio –, portanto precisam de um protocolo específico, quase impossível de ser cumprido, contra o coronavírus. 

 Segundo os institutos Data Favela/Locomotiva, o Brasil tem 13,6 milhões de pessoas morando em favelas e no estado do Rio de Janeiro 13% da população vive nestes territórios. São locais densamente populosos – alguns têm mais habitantes que municípios –, aglomerados, com precárias condições de moradia e, em muitas partes, sem acesso à água. 

 Não é só saneamento que falta – não são raros locais onde há escalonamento de disponibilidade nas torneiras. Ou seja: falta água dia sim, dia não.

Torneira seca

 A Defensoria Pública do Rio entregou à Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) um relatório com pelo menos 475 denúncias recebidas de falta d’água. Dessas, 397 são de “torneira seca”. As reclamações vêm de 140 lugares, a grande maioria em favelas, diz a Defensoria.

 Para “lavar as mãos” é preciso estocar água, criando um vetor para outras doenças. “Agir contra o coronavírus nas favelas é uma urgência institucional”, define a jornalista Luiza Gomes Henriques, responsável pela comunicação da Coordenação da Cooperação Social da Fiocruz. 

Emergência institucional

 A velocidade da verticalização da curva epidemiológica da COVID-19 e a impossibilidade de isolamento social nas favelas, em casas pequenas, sem ventilação e com várias pessoas, e a falta de água tornam essa população muito vulnerável. 

  Segundo ainda o Data Favela, 47% da opulação de favelas trabalha por conta própria. Seja na informalidade, na chamada gig economy, que vai de motorista de aplicativos a bicos ou em negócios próprios. Cerca de 19% estão empregados, geralmente em áreas essenciais de serviços ou comércio.

Transporte público

 No transporte público, a orientação é não tocar em nada e higienizar-se com sabão após o uso. “O mais absurdo é que no primeiro dia de quarentena oficial no Rio, o transporte público parecia cheio, com pessoas se aglomerando nos ônibus”, observa o médico Paulo Buss, diretor do Centro de Relações Internacionais da Fiocruz.

 “Com a desculpa da baixa demanda, há pouca frota circulando na cidade”, continua. A Rio Ônibus chegou a ameaçar tirar coletivos de circulação, mas segue com metade da frota inoperante – o que é insuficiente para evitar aglomerações. 

 “Num momento como este deveria ser justamente o contrário, para que os usuários possam manter distância de pelo menos um metro umas das outras”, completa Buss. Passageiros de trens da Supervia e no terminal das barcas em Niterói também lotam vagões e terminais.

‘Lado desigual da desigualdade’

 O movimento se organizou para fazer a própria conscientização na favela, que “por viver do lado desigual da desigualdade”,  como diz o comunicado, “não se vê representada nas dicas do Ministério da Saúde [ao qual a Fiocruz é ligada] sobre como se prevenir do coronavírus”. 

 O ativista Raul Santiago informa que faixas e comunicados foram colados nos postes, panfletos têm sido distribuídos, juntamente com conversas pelas ruas da favela que tentam alertar para o alto risco de  contaminação pelo coronavírus “considerando a nossa realidade”. 

 Aqueles que circulam nas favelas, como os agentes comunitários de saúde, no atendimento corpo-a-corpo, estão sendo  vistos como potenciais vetores. Além de monitorados, esses profissionais de saúde fundamentais também vêm enfrentando preconceitos em comunidades, onde o distanciamento social é praticamente impossível. 

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate