
Embaixador brasileiro rebate comparação com Venezuela
(Londres, brpress) - Eduardo Santos teve carta-resposta publicada no Guardian, após artigo de brasileira comparar crises em ambos os países.
Londres, brpress) – O embaixador do Brasil no Reino Unido, Eduardo Santos, teve uma carta-resposta publicada no jornal britânico The Guardian, após artigo da escritora e tradutora brasileira Julia Blunck comparar a situação do Brasil com a da Venezuela, publicado no mesmo jornal.
Para Santos, a situação de ambos os países não tem comparação, porque “apesar dos problemas enfrentados, a força das instituições democráticas e republicanas é evidente”. O embaixador argumenta que não há presos políticos no Brasil, que os direitos civis são respeitados e que a imprensa segue livre.
Blunck diz que “o presidente Michel Temer escapou de julgamento pelo Tribunal Superior após comprar o Congresso para votar a seu favor mesmo após uma montanha de evidências, incluindo gravações em que ele discute abertamente favorecimentos ao empresário corrupto Joesley Batista”.
Corbyn – Maduro
Blunck critica a postura da imprensa britânica e da comunidade internacional de não questionar nem discutir mais a fundo o fato de Temer “ter chegado ao poder de maneira duvidosa” e conseguir permanecer nele diante de tais evidências, além da cobrança de retratação do apoio declarado do líder trabalhista britânico Jeremy Corbyn a Maduro, antes da crise em que se encontra a Venezuela (que ela descreve como “deplorável e preocupante”).
Para Blunck, a linha editorial da mídia internacional ocidental segue fazendo vista grossa para o que vem ocorrendo no Brasil, “talvez porque um Congresso corrupto não seja tão apetitoso para a audiências estrangeiras e nem mesmo para milhares de brasileiros exaustos e desmoralizados, desde 2015, quando a economia começou a afundar”.
O conflito político na Venezuela reflete na economia e produz imagens no registro da violência que geram manchetes, enquanto no Brasil o desrespeito à democracia acontece “de forma silenciosa”. O embaixador diz que “a crise política, econômica e social no Brasil acontece num contexto de diálogo e transparência”.
Na visão de Blunck “os grandes detentores do capital no Brasil financiaram e incentivaram protestos de uma classe média indignada com a a corrupção, resultando no boicote, pelo Congresso, do governo de Dilma Rousseff e na ascensão de Temer com uma agenda capitalista de austeridade”.
Tiro no pé
Ela admite que a aliança do PT com o PMDB foi um tiro no pé, mas insiste que Temer não tem legitimidade para conduzir as ”reformas difíceis” que o governo Dilma não fez e que, mesmo com essa agenda, o governo Temer não consegue reverter a crise em um país com mais de 13 milhões de desempregados.
Para Blunck, “assim como o socialismo daVenezuela”, o Brasil expõe “o quão antidemocrático o capitalismo pode ser”, com hordas de funcionários públicos sem receber salários há cinco meses tendo protestos dispersados com gás lacrimogênio, com o exército nas ruas para garantir a segurança em estados quebrados e com ativistas de direita defendendo valores indigestos.
E ainda assim, segue operando longe dos holofotes da mídia internacional, como já é uma tradição em se tratando da América Latina. O embaixador brasileiro afirma que o Brasil é um dos países que mais têm se esforçado diplomaticamente para ajudar a Venezuela a encontrar soluções para sua crise humanitária.