Carnaval do Leão da Vila
(Rio de Janeiro, brpress) - Vem chegando o Carnaval e essa palavra mágica me joga direto na aurora da minha vida. Era a única oportunidade de chegar perto de uma garota. Por Paulo Betti.
Paulo Betti*/Especial para brpress
(Rio de Janeiro, brpress) – Amigos,
Vem chegando o Carnaval e essa palavra mágica me joga direto na aurora da minha vida. É interessante como alguns sons ou cheiros têm o poder mágico de provocar uma sensação de bem estar, como se nos encaminhasse direto em busca do tempo perdido. É claro que, na maioria das vezes, a esperança é apenas o último porre, nada acontece. Mas a palavra promete delícias, quase todas ligadas à carne, claro.
Lembro de quando era menino e ia pular o Carnaval no Independência, clube popular que fazia matinês inesquecíveis.
Pelo menos para mim, era a única oportunidade de chegar perto de uma garota. Eu aguardava o Carnaval ansiosamente na esperança de pegar alguma. Pegar é um exagero para coisa simples como troca de olhares, toque de mão ou, no máximo, a possibilidade de algum amasso, um sarro no canto do salão. Aí era a glória. Mas, confesso, nunca fui bem sucedido em meus intentos. Nunca fiz nenhum gol.
Lembro mais da ansiosa expectativa do que dos feitos que não aconteceram. Mas o Carnaval continua acendendo a expectativa e agora tenho um motivo bom para sempre ir a Sorocaba no Carnaval: o projeto social Quilombinho e seu maravilhoso bloco Leão da Vila, que sai no sábado, na Vila Leão. Na frente da minha casa, onde está instalado o Quilombinho, o bloco apresenta seu maracatu, comandado pelo Ramon e a Telma, e o Carnaval faz sentido – em todos os sentidos.
Volto a ser o menino bonito e me lembro de uma crônica do grande escritor português Antonio Lobo Antunes. Resumindo ele se olha no espelho e pergunta: “Onde foi para o menino bonito, agora escondido atrás das rugas e do cabelo ralo e grisalho?” Eu me pergunto: o menino bonito pode voltar? Sim, claro! Se o Bazaninho fizer um belo gol de falta, se o Afonsinho der um drible no zagueiro, se o Gonçalves matar uma bola na canela no meio do campo, se o Raimundinho fizer um gol da entrada da área…
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Vibrei com a coluna de Xico Sá na Folha, onde ele diz que o campeonato mais empolgante é a segundona paulista – onde está a tradição de nosso São Bento!
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E o Boris Casoy, hein? Ninguém mais fala a respeito… Mas alguém tinha alguma dúvida de que aquele moralismo todo de “isso é uma vergonha” apenas encobria um reacionário de quatro costados?
Não deu outra. O lobo perde a pele, mas não perde o vício.
O que é revelador no comentário do Boris sobre os garis é a falta de sensibilidade. A falta de consideração.
Como o mundo é injusto! Alguém tem dúvida de que um lixeiro vale mais do que 100 Boris Casoy?
(*) Paulo Betti é ator e diretor.