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Pedalando

(brpress) - Outro dia, li que Sorocaba tem 50 quilômetros de ciclovias e que isso está causando uma verdadeira revolução na cidade. Lembrei da minha primeira bicicleta. Por Paulo Betti.

Paulo Betti*/Especial para brpress

(brpress) – Amigos,

Sempre fico atento para notícias de Sorocaba (SP) nos jornais. O nome da cidade funciona para mim como atrativo imediato. Quero logo saber o que aconteceu na terrinha.

Mantive muito forte minhas relações com a cidade. Lá estão meus irmãos e o projeto social Quilombinho, que funciona na casa onde fui criado. Lá estão também memórias da aurora da minha vida.

Outro dia, li que Sorocaba tem 50 quilômetros de ciclovias e que isso está causando uma verdadeira revolução na cidade. A venda de bicicletas subiu e muita gente tirou as velhas, quase enferrujadas, das garagens e botou na rua – ou melhor, na ciclovia.

Aro 18

Sempre fui apaixonado por bicicleta. A minha primeira, ganhei de minha mãe num Natal, acho que eu tinha uns sete anos. Era uma Caloi, aro 18, com breque na mão, pneu com câmera, muito bonitinha. Minha mãe comprou de segunda mão.

A bicicleta estava com o garfo da frente quebrado, e ela me levou na oficina do “seu” Neves para soldar . Eu fui junto ver o reparo no meu presente de Natal. Papai Noel? Nunca se falou desse assunto na minha casa quando eu era criança.

Eu vi a operação da soldagem. Aquela luz azulada que não se podia olhar de frente para não ficar cego. “Seu” Neves, como um verdadeiro super-homem, por detrás dos óculos manuseando a solda. Saí com meu presente com uma enorme cicatriz quelóide na frente, andei nela sempre com medo que aquele garfo quebrasse no mesmo lugar. Por isso nunca relaxei completamente com aquela bicicletinha, mas aproveitei bastante, até que, crescido, meus joelhos começaram a bater no guidão.

Enfeitava a bichinha com flâmulas na frente e encobria as partes enferrujadas com fitas adesivas. Coloquei um selim todo incrementado. Às vezes, colocava um palito de sorvete amarrado de forma a fazer um barulhinho nos raios da roda de trás.

Linda

Gosto da forma da bicicleta. É um objeto lindo. Lembro das figurinhas que colecionavámos; vinham enroladas em balas. Uma página a se preencher era uma bicicleta. Quem completasse ganhava uma. Ficava sempre faltando uma parte, uma roda, um guidão. Nunca ganhei, mas ficou marcado com uma solda na minha memória o desenho insuperável, a forma perfeita da bicicleta.

Tive diversas depois daquela. Lembro de uma Monark com pneu balão e  um bagageiro atrás para carregar um botijão de gás. Tenho a impressão que era bicicleta de pedreiro, operário – daí o detalhe comovente do bagageiro.

Tive uma de corrida que me roubaram em São Paulo. Agora estou com uma que comprei há uns 15 anos. Uma Peugeout estilo antigo, com um dinâmo que alimenta a lanterna da frente retirando a energia do giro da roda traseira.

Nunca fui vaidoso com relação a carro, se bobear nem me lembro da marca do meu, mas sou bastante com relação à minha magrela. Tento mantê-la sempre limpa, brilhando, tomo cuidado com o pneu ao descer nas sarjetas, passo antiferruginoso nos raios.

Santos Dumont

O Rio de Janeiro é o único lugar do Brasil que tem mais extensão de ciclovia do que Sorocaba. Dá para ir do Leblon até o aeroporto Santos Dumont, mais ou menos 2 horas de passeio direto, sem sair da ciclovia. Adoro fazer esse trajeto. Passando por Ipanema, Copacabana, Botafogo, aterro do Flamengo e Urca.

O aeroporto do Rio é o único que conheço onde se pode, práticamente, entrar na pista. É só dizer que se vai a Escola Naval e pronto. Um perigo. Não vamos espalhar, senão algum idiota vai ter uma idéia estúpida.

Uma vez , um táxi foi arrastado até as pedras antes do mar, pela rajada de vento da turbina de um avião que subia. Depois disso colocaram uma singela cancela e uma sirene que dispara quando aviões estão para subir.

Filme italiano

Meus cunhados Jota e José Marcolan, como bons operários da Votorantim, tinham as suas bikes. E usavam aquelas presilhas no tornozelo para não sujar a barra da caça na graxa da corrente. A saída da fábrica parecia filme neorealista italiano.

Vittorio De Sica fez da bicicleta o objeto principal dum filme, Ladrões de Bicicleta, onde um operário passa pelo drama de ter seu veículo roubado. No filme Nós que Nos Amávamos Tanto, de Ettore Scola, outro clássico italiano, De Sica conta como conseguiu fazer o menino chorar na cena que o pai tem a bicicleta roubada.

Ameaçou o menino dizendo que iria dizer ao seu pai que ele era um ladrãozinho. De Sica conta isso ao microfone numa cerimônia num estádio de futebol, diante de milhares de pessoas. Quem critíca a preparadora de atores Fátima Toledo (Pixote, Cidade de Deus) pelos seus métodos desumanos para conseguir interpretações impressionantes, vai ter que pixar também o grande ator/diretor, gênio do cinema italiano.

Não vejo a hora de andar de bicicleta às margens do Rio Sorocaba, agora totalmente limpo, onde pescadores exercitam sua habilidades papudas. Antes de construírem ali aquela bendita marginal, era possível ficar embaixo dos chorões namorando.

Frequentei muito aquele lugar com uma estrela da televisão brasileira: Eliane Giardini (ahahahah!).

(*) Paulo Betti é ator diretor.

Paulo Betti

Paulo BettiPaulo Betti é ator e direitor e sua coluna foi publicada pela brpress.

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