De Ceilândia para o mundo
(Brasília, brpress) - Premiado A Cidade é Uma Só? escanc gienização" da capital do Brasil e mostra que violência e exclusão social é muito anterior a Pinheirinho. Por Wemerson Santos.
(Brasília, brpress) – Havia algum tempo, o mercado cinematográfico brasiliense não emplacava sequer um filme nacionalmente. O cenário mudou e com ele surgiram novos nomes. Entre eles, o do cineasta Adirley Queirós, formado pela Universidade de Brasília (UnB) e diretor dos curtas Rap, O Canto da Ceilândia, Dias de Greve, Fora de Campo e do longa-metragem, A Cidade é Uma Só?, que levou o prêmio principal na 15ª Mostra de Tiradentes (MG) e arrancou aplausos intensos de curadores de eventos cinematográficos internacionais como Cannes (França), San Sebastián (Espanha) e Veneza (Itália).
“Foi uma experiência forte, não só pela aprovação da curadoria internacional, e sim por ver em média 800 pessoas por sessão aplaudindo de pé o resultado do nosso trabalho”, conta o cineasta, 41 anos, natural de Morro Agudo de Goiás, radicado em Ceilândia, cidade satélite de Brasília e berço criativo de sua obra.
Espelho do País
Embora a profusão de filmes brasilienses na cena nacional ainda seja um fenômeno limitado, Queirós afirma que a proposta de sua obra fílmica veio para derrubar esse paradigma. O motivo, em sua avaliação: “Por trazer à luz do dia fatos sociais que acontecem em cada canto pobre do país”.
‘Higienização’
A Cidade é Uma Só? escancara em seu enredo a “higienização” de Brasília, o surgimento e a rotina da periferia da capital e a exclusão social. E o filme foi premiado justamente na semana em que a desapropriação violenta da favela de Pinheirinho, com o aval do governo paulista, ganhou manchetes no Brasil e no mundo.
“Basta observar, isso é algo semelhante ao que ocorre hoje em Pinheirinho e em numerosos outros lugares. De modo violento ou sutil, é isso que eu busco mostrar”, diz o cineasta. Sua receita, ao que tudo indica, funcionou.
Foi a primeira vez que um longa-metragem brasiliense arrematou o prêmio principal da Mostra de Tiradentes. “E a concorrência foi forte; além do meu filme, O Entorno da Beleza, de Dácia Ibiapina – excelente – também foi apresentado e avaliado na Mostra”.
Orgulhoso por sua atual projeção, o cineasta que um dia foi padeiro, jogador profissional de futebol e professor particular de química, física e matemática, confidencia à brpress que se sente realizado: “Estou narrando a história de um povo, trabalhando com profissionais que pensam o cinema de modo inteligente e ainda levando o nome de Ceilândia para o cenário cinematográfico nacional. Isso me deixa extremamente feliz”, completa.
(Wemerson Santos/Especial para brpress)