Imigração na tela em Berlim
(Berlim, brpress) - Almanya – Bem-vindo À Alemanha, exibido no Festival, conta história do emigrante de no. 1.000.001 chegado no país, um turco. Por Rui Martins.
(Berlim, brpress) – Vivem hoje dois milhões de turcos na Alemanha. A emigração turca começou nos anos 50 do século passado, pois, mesmo com emigrantes espanhóis e portugueses, faltavam braços na indústria e na construção na Alemanha. No dia 10 de setembro de 1964, ao entrar na Alemanha o milionésimo emigrante, o governo alemão assinalou essa passagem e ofereceu prêmios de boas-vindas ao emigrante, um português. O filme Almanya – Bem-vindo À Alemanha, exibido no Festival de Berlim, conta a história do emigrante que chegou a seguir, o de no. 1.000.001, um turco, e da família que trouxe para a Alemanha, até uma homenagem da chancheler Angela Merkel aos emigrantes daquela época.
Sem dúvida, esse filme positivo sobre a integração dos emigrantes turcos na Alemanha, que omite as lembranças amargas, dirigido por uma neta de emigrante, Yasemin Samdereli, e com cenário de sua irmã Nesrin Samdereli, seria um forte concorrente ao Urso de Ouro, mas não não participa da competição. O momento de sua exibição, paradoxalmente, mostra, tanto na Alemanha como na União Européia, um clima desfavorável à emigração. Faz pouco tempo, Angela Merkel afirmou ter sido um fracasso a política alemã multicultural, enquanto a UE decretou ser crime punível com prisão e expulsão a imigração clandestina.
Integração e identidade
Mas Almanya não é de contestação e sim parte da constatação de que os primeiros imigrantes são hoje avós de netos integrados na Alemanha, alguns deles nem sabendo falar mais o idioma de origem. É verdade que a Alemanha não ajuda nisso, pois embora nas escolas existam o inglês e o espanhol nos currículos, não há o ensino do turco. Entretanto, a integração é um fato.
Tanto que, faz alguns anos, a revista Spiegel publicava uma capa, na qual um turco de bigode era mostrado como o futuro alemão, diante da taxa de natalidade muito mais alta destes emigrantes que a dos alemães. Isso, porém, não impede que muitos imigrantes e seus filhos e netos tenham uma crise de identidade – se são alemães ou se são turcos.
A história da integração do imigrante turco Hueseyin Yilmaz é plena de momentos de emoção, como a ocasião em que recebe seu passaporte alemão. O filme tem momentos de humor que lembram um filme suíço sobre a mesma temática do imigrante, Os Fazedores de Suíços, sobre as absurdas exigências aos estrangeiros para se tornarem suíços.
Assimilação
A história dos imigrantes, e particularmente dos turcos, vem sendo contada por eles próprios ou por cineastas alemães. Porém, a maioria desses filmes fala de não integração, de racismo ou problemas vividos por mulheres impedidas de se integrar por seus maridos.
A diferença religiosa parece deixar de ser problema em pouco tempo, com turcos muçulmanos com árvores de Natal e seus filhos cantando cânticos católicos. No filme Almanya , mostra-se que um dos filhos do imigrante Yilmaz tinha medo do crucifixo e que a ideia de comer “o corpo de Cristo”, na hóstia ou na Santa Ceia, soa como antropofagia.
(Rui Martins/Especial para brpress)