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Regis Myrupu conquistou o prêmio de Melhor Ator no 72º Festival de Locarno por A Febre. Foto: Massimo Pedrazzini/Locarno Film FestivalRegis Myrupu conquistou o prêmio de Melhor Ator no 72º Festival de Locarno por A Febre. Foto: Massimo Pedrazzini/Locarno Film Festival

Índio da Amazônia ganha prêmio de Melhor Ator em Locarno

(Locarno, brpress) - Premiação de Regis Myrupu por A Febre, de Maya Da-Rin, no 72º Festival de Locarno, onde o filme da brasileira teve uma bem sucedida estreia mundial, diz muito ao momento político atual no Brasil.

(Locarno, brpress) – A Febre, de Maya Da-Rin, conquistou o prêmio de Melhor Ator para Regis Myrupu, em participação no 72º Festival de Locarno, que aconteceu de 07 a 17 de agosto, na cidade suíça, e onde o filme da brasileira teve uma bem sucedida estreia mundial. A premiação foi vista por parte da imprensa como um recado à política de ameaça aos povos indígenas do governo Bolsonaro.

Depois de receber três minutos de aplauso em sua exibição no festival, A Febre terá sua estreia norte-americana no Festival de Cinema de Toronto, na mostra Wavelengths (dedicada a filmes de linguagem mais arrojada), que acontece entre os dias 5 e 15 de setembro, na cidade canadense. 

Segue uma rápida entrevista com Myrupu, índio Desano, grupo indígena que habita no noroeste do estado do Amazonas, logo após a projeção do filme A Febre, em Locarno. Ou seja, antes da premiação.

É a primeira vez que um índio amazonense participa de um filme como ator. Conte como isso aconteceu.

Regis Myrupu – Eu sou presidente da associação indígena, dedicada principalmente à divulgação das danças. Paralelamente, criei um projeto chamado Floresta Cultural que procura resgatar, divulgar e conservar nossos conhecimentos ancestrais. Foi nessa condição que fui procurado pela diretora do filme, Maya Da-Rin, que buscava pessoas para trabalharem no filme A Febre. Ela me perguntou se eu conhecia índios na faixa dos 45 anos. Respondi que não, mas ela achou que eu mesmo tinha o perfil procurado para o filme. Respondi ter 38 anos, mesmo assim ela pediu para eu deixar meu nome com a produção. Deixei lá meu nome e logo fui chamado para fazer o primeiro teste. Fui selecionado e aceitei de forma positiva. 

O filme é parte falado em tucano, o que exigirá legendas mesmo no Brasil. Isso deu mais autenticidade? 

Regis Myrupu – Quando escreveu o filme, Maya tratou da cultura indígena de uma maneira geral. Como sou Desano e cada etnia tem uma forma de viver, de se comportar e de se manifestar, procurei ajudá-la a sair da generalização para o filme ser mais próximo da minha etnia. Por isso, ela fez um filme real, muito real.

Os indígenas estão sendo ameaçados por uma política de aculturação e/ou extermínio. Como vê isso?

Regis Myrupu – Sou portador de conhecimentos ancestrais que passam de pai para filho, então pra mim é uma grande preocupação ver essa destruição. Nosso governo está sendo muito cruel com os povos indígenas e está matando a natureza em geral e o próprio planeta. Isso é algo muito sério e precisamos agir logo. 

No filme, há uma cena na qual um dos ‘brancos” fala que vivia entre os indígenas, mas que dormia com um revólver, “porque eles não eram ainda civilizados e domesticados”. Acha que isso ainda traduz a mentalidade do homem branco com relação aos indígenas?

Regis Myrupu – Acho que isso para nós é uma piada, porque aquela pessoa que falou isso para mim é um homem convicto de ser civilizado, referindo-se a indígenas como seres ou animais irracionais. Infelizmente isso ainda existe no nosso dia-a-dia.

No filme, você volta para a floresta. É de lá que nunca deveria ter saído?

Regis Myrupu – Sim, finalmente, depois de minha experiência na cidade, eu retorno para minha casa, com minha mochila, com minhas poucas coisas, mas feliz porque retorno para minha origem, minha natureza, junto da água e com toda tranquilidade. Deixo o estresse para trás e levo minha vida em frente, feliz.

(Colaborou Rui Martins/Especial para brpress)

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