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Cena do filme Karl Max Way - A Ilegalidade é uma Ficção.DivulgaçãoCena do filme Karl Max Way – A Ilegalidade é uma Ficção.Divulgação

Karl Max, mas sem o R

(São Paulo, brpress) - Menção honrosa no Festival É Tudo Verdade, documentário Karl Max Way ilustra dia-a-dia de motoboys brasileiros em Londres. Por Eliane Maciel.

(São Paulo, brpress) – Menção honrosa na 15a. edição do  Festival É Tudo Verdade 2010, o documentário Karl Max Way – A Ilegalidade é uma Ficção (Brasil/UK, 2009), de Flávia Guerra e Mauricio Osaki, de 25 minutos apenas, faz espectador viajar em realidade brasileira – mesmo sendo rodado em Londres.

 Trata-se de um projeto que surpreende. Primeiro, por conseguir transpor a rotina kamikase dos motoboys brasileiros para a capital britânica – onde são chamados de ‘couriers’. Segundo, por mostrar, de forma sutil porém marcante, uma cidade sóbria, tradicional e funcional como Londres subvertida por uma atividade – e um ponto de vista – ” brasileiramente ilegal”.

 A jornalista Flávia Guerra trabalhou ao lado de seu colega e co-diretor, Maurício Osaki, em seu primeiro filme como diretora e diz que amou a experiência: “Nasci com olhar de jornalista e paixão por cinema. No fundo, quando fazemos um filme, só queremos contar uma história”, diz Guerra. E o curta é exatamente isso: uma história de vida real.

 Road movie urbano

 Num ritmo bastante harmonioso, o documentário ilustra o dia-a-dia dos motoqueiros de uma forma realista e acaba se transformando num road movie urbano. Como a própria Flávia Guerra observa, “assistindo, é possível quase sentir o vento batendo na cara”.

 A diretora continua: “Em vez do chamado ‘talking head’ , ou seja, um personagem que fala, fala, fala, Max percorre a cidade com o espectador, que, ao acompanhá-lo em sua garupa, enxerga também Londres sob uma ótica que nem sempre estamos acostumados a ver. É uma história de vida, com tudo de bonito e feio que ela possa ter”.

 Com o desenrolar das gravações, foi Karl Max quem mais abocanhou espaço e fez o projeto ser o que é hoje. “Além de ser um dos milhares brasileiros que vivem em Londres e que trabalham como motoboys, Max é um cara especial. Ele é supersimples, mas, ao mesmo tempo, é capaz de chegar conclusões complexas”.

 Filósofo

 Por exemplo, em um momento do filme, ele diz: “Assustei quando cheguei aqui, achei tudo muito rápido. Mas me adaptei. O ser-humano se adapita (sic) ao meio em que vive. E eu sei que ajudo a movimentar a economia do país quando levo e trago documentos importantes”.

 “Quem tem esta ideia da importância que tem para uma economia global sendo um imigrante ilegal? Pouquíssimos!”, defende Flávia. A diretora contou que conheceu Max durante a fase de pesquisas para o filme quando frequentou oficinas mecanicas onde os motoboys ficavam. Ela queria ganhar intimidade com os personagens antes de decidir quem seria a peça central.

 Em uma de suas andanças, por uma oficina do East London, ouviu um cara dizer: ‘Meu nome é Karl Max. Tipo o filósofo, mas sem o R. Minha mãe lê muito. Um dia ela leu um livro, O Capital, e ficou encantada. E meu pai chamava Dimax. Então, ela juntou uma coisa com a outra e resolveu me chamar Karl Max, que eu acho que é um nome bonito, diferente”.

 Flávia acrescenta: “Quando procurei o dono da voz, era um cara de quase dois metros de altura, vestindo a camisa da Seleção brasileira. Não tive dúvidas. Tinha achado o meu ‘filósofo’ do cotidiano dos motoboys brasileiros em Londres”.

 Acidente

 Durante a fase de filmagem, em maio de 2009, Max sofreu um acidente que causou comoção. “Ele caiu da moto, que se arrastou pelo asfalto e o levou junto. O pé foi literalmente queimado no asfalto e quase amputado. Mais de dez cirurgias foram necessárias em 46 dias de internação”, contou Flávia.

  “Mas o curioso foi que quando resgatado, poderia ter sido denunciado ao Home Office, mas ninguém no hospital pediu documento algum– foi tratado como um legítimo cidadão europeu. E quando ainda teve de fazer transfusão de sangue, teve o bom humor de dizer: ‘Quero ver alguém me deportar agora; ninguém mais vai poder dizer que não tenho sangue inglês’”.

 Imponderável

 O acidente, na opinião de Flávia, não prejudicou o projeto, mas o revolucionou. “Eu tinha outra ideia de narrativa e tive de mudar tudo, me adaptar. Mas esta é a magia do documentário. Diferentemente da ficção, o risco não é tão controlado assim e o imponderável dita as regras. Muitas vezes atrapalha, outras tantas ajuda”.

 A jornalista também disse ter se sentido impotente, se vendo diante de alguém que quase perdeu um pé, com uma mulher e uma filha para nascer, sem um tostão no bolso, sem documentos (nem mesmo os falsos), sem cidadania, sem pátria. “Não sabia o que era mais desesperador: o fato dele poder perder o pé ou o risco de ser deportado sem direito a nada”.

 (Eliane Maciel/Especial para brpress)

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