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Benicio Del ToroBenicio Del Toro

Lobo mau

(brpress) - Inevitavelmente, depois do aterrador banquete de sangue e maldição, servido frio em O Lobisomem, deixa-s e a sala de cinema com a sensação de que já não se fazem mais filmes do gênero como antigamente. Por Juliana Resende.

(brpress) – Pense numa ópera, expressionismo alemão, um filme escuro, gótico, dramático, trágico. Assim é O Lobisomem (The Wolfman) – remake do original de 1941 – visualmente. Este é, todavia, o grande charme do longa de Joe Johnston, responsável no passado, como diretor de arte e de efeitos visuais, por obras primas como a trilogia Guerra nas Estrelas e Caçadores da Arca Perdida, ambas com o selo de qualidade da dupla Spielberg-Lucas. O problema é que, querida,  Johnston encolheu seu lobo mau, tal qual em seu filme mais famoso, Querida, Encolhi as Crianças (1989), minimizando a profundidade emocional que esta clássica história de terror pode prover  – além de imagens sensacionais, é claro.

O elenco estelar de O Lobisomem também não serve para muita coisa. Benicio Del Toro, na pele do ator Lawrence Talbot, praticamente some em meio a tipos tão excêntricos como seu próprio pai, Sir John Talbot – Anthony Hopkins, que consegue ser mais assustador que a besta em si – e o inspetor da Scotland Yard encarnado por um sorumbático Hugo Weaving – sempre com cara de ET, agora usando uma linda cartola vitoriana, época em que o filme se passa. Há ainda o loucaço diretor do medonho sanatório Dr. Lloyd (Michael Cronin) e o mordomo Singh (Art Malik).

Falta alma

A esse desfile de figuras bizarras que parece dominar a miserável cidade de Blackmoor, na sombria Inglaterra do final do século 19, soma-se o lobisomem propriamente dito – um cachorrão de fazer realmente medo e muitos estragos –, que opera coisas terríveis, do tipo despedaçar gente nas luas cheias, uivar horrivelmente e parecer imortal. Sim, o filme é assustador. Mas falta sutileza, um quê de humor negro, alguns alinhavos no roteiro, algo especial que o faça ser amado e, com sorte, cultuado como, por exemplo, Um Lobisomem Americano em Londres (1981).

Neste filme adorado, as transformações do culto homem em lobo demoníaco são o grande tchans – perfeitos efeitos especiais para a época. Aliás, a transformação é o big deal de todo filme de lobisomem. No novo O Lobisomem, a dilatação das juntas, o crescimento dos pêlos, o deslocamento do maxilar que faz de um ser humano uma fera como uma megamandíbula ultraprognata, também são de tirar o chapéu. Mal falta alma ao lobisomem de Benicio; o de Hopkins é over, afinal, o ator consegue ser aterrador somente com seu próprio olhar frio – “Veja, Lawrence! Olhe bem nos meus olhos – já estou morto há anos”, sussurra, com aquele sotaque britânico fechado, antigo, o velho Hannibal Lecter vindo à tona.

Inevitavelmente, depois do aterrador banquete de sangue e maldição, deixa-s e a sala de cinema com a sensação de que já não se fazem lobisomens como antigamente.

(Juliana Resende/brpress)

Juliana Resende

Jornalista, CCO da brpress, autora do livro Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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