Acesse nosso conteúdo

Populate the side area with widgets, images, and more. Easily add social icons linking to your social media pages and make sure that they are always just one click away.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

Benicio Del ToroBenicio Del Toro

Lobo mau

(brpress) - Inevitavelmente, depois do aterrador banquete de sangue e maldição, servido frio em O Lobisomem, deixa-s e a sala de cinema com a sensação de que já não se fazem mais filmes do gênero como antigamente. Por Juliana Resende.

(brpress) – Pense numa ópera, expressionismo alemão, um filme escuro, gótico, dramático, trágico. Assim é O Lobisomem (The Wolfman) – remake do original de 1941 – visualmente. Este é, todavia, o grande charme do longa de Joe Johnston, responsável no passado, como diretor de arte e de efeitos visuais, por obras primas como a trilogia Guerra nas Estrelas e Caçadores da Arca Perdida, ambas com o selo de qualidade da dupla Spielberg-Lucas. O problema é que, querida,  Johnston encolheu seu lobo mau, tal qual em seu filme mais famoso, Querida, Encolhi as Crianças (1989), minimizando a profundidade emocional que esta clássica história de terror pode prover  – além de imagens sensacionais, é claro.

O elenco estelar de O Lobisomem também não serve para muita coisa. Benicio Del Toro, na pele do ator Lawrence Talbot, praticamente some em meio a tipos tão excêntricos como seu próprio pai, Sir John Talbot – Anthony Hopkins, que consegue ser mais assustador que a besta em si – e o inspetor da Scotland Yard encarnado por um sorumbático Hugo Weaving – sempre com cara de ET, agora usando uma linda cartola vitoriana, época em que o filme se passa. Há ainda o loucaço diretor do medonho sanatório Dr. Lloyd (Michael Cronin) e o mordomo Singh (Art Malik).

Falta alma

A esse desfile de figuras bizarras que parece dominar a miserável cidade de Blackmoor, na sombria Inglaterra do final do século 19, soma-se o lobisomem propriamente dito – um cachorrão de fazer realmente medo e muitos estragos –, que opera coisas terríveis, do tipo despedaçar gente nas luas cheias, uivar horrivelmente e parecer imortal. Sim, o filme é assustador. Mas falta sutileza, um quê de humor negro, alguns alinhavos no roteiro, algo especial que o faça ser amado e, com sorte, cultuado como, por exemplo, Um Lobisomem Americano em Londres (1981).

Neste filme adorado, as transformações do culto homem em lobo demoníaco são o grande tchans – perfeitos efeitos especiais para a época. Aliás, a transformação é o big deal de todo filme de lobisomem. No novo O Lobisomem, a dilatação das juntas, o crescimento dos pêlos, o deslocamento do maxilar que faz de um ser humano uma fera como uma megamandíbula ultraprognata, também são de tirar o chapéu. Mal falta alma ao lobisomem de Benicio; o de Hopkins é over, afinal, o ator consegue ser aterrador somente com seu próprio olhar frio – “Veja, Lawrence! Olhe bem nos meus olhos – já estou morto há anos”, sussurra, com aquele sotaque britânico fechado, antigo, o velho Hannibal Lecter vindo à tona.

Inevitavelmente, depois do aterrador banquete de sangue e maldição, deixa-s e a sala de cinema com a sensação de que já não se fazem lobisomens como antigamente.

(Juliana Resende/brpress)

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate