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O montador Daniel Rezende atuou como diretor-assistente em Tropa de Elite 2.Divulgação/cinetotal.com.brO montador Daniel Rezende atuou como diretor-assistente em Tropa de Elite 2.Divulgação/cinetotal.com.br

‘Montador tem de ter ritmo’

(Rio de Janeiro, brpress) - É o que diz Daniel Rezende, montador de nove entre dez sucessos do cinema nacional, incluindo Cidade de Deus e Tropa de Elite. Por Rod Carvalho.

(Rio de Janeiro, brpress) – Indicado ao Oscar de melhor montador em 2004 por Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, Daniel Rezende continua colhendo frutos de sua gloriosa indicação e vem trabalhando com diretores renomados como José Padilha (Tropa de Elite 1 e 2), Walter Salles (Diários de Motocicleta, Dark Water), Cao Hamburguer (O Ano que Meus Pais Saíram de Férias), Meirelles novamente (Ensaio sobre a Cegueira), Laís Bodanzky (As Melhores Coisas do Mundo) e Terrence Malick (Tree of Life).

    Na entrevista exclusiva a seguir, Rezende fala sobre sua carreira, curiosidades e especialmente sobre a experiência de trabalhar em Tree of Life, com Sean Penn e Brad Pitt, e sobre Tropa de Elite 2. Você cinéfilo e fã da nova safra do cinema nacional guarde este nome, pois tudo indica que Daniel Rezende deve estrear como diretor em breve.

Quando surgiu essa vontade de ser montador? Como e quando você começou?

Daniel Rezende – Não sei dizer uma data exata. Quando eu era adolescente, o tio de um amigo tinha uma ilha de edição VHS. Fiz alguns trabalhos da escola lá e fiquei, de alguma forma, fascinado com aquilo. Na faculdade, eu era responsável pela direção e edição de um programa da TV interna. Queria ser o diretor apenas do programa, mas acabou sobrando a edição pra mim também. Acabei me divertindo mais com a segunda parte do que com a primeira.
Quando comecei a trabalhar com comerciais, não pensava exatamente em ser montador, mas acabou sendo um caminho que se abriu para mim e eu apostei. Tem dado certo.

Quais cursos você fez e qual foi o mais importante?

DR – Sou formado em Comunicação Social com ênfase em Marketing na ESPM. Comecei minha carreira no ramo da publicidade. Nunca fiz nenhum curso de cinema, muito menos de edição/montagem. Tive de aprender na marra, quebrando a cabeça.

Como você distingue um bom montador de um mau montador?

DR – Não sei responder essa pergunta. Mas tenho uma “teoria” para detectar problemas de montagem. Quando você está assistindo a um filme e está pensando na conta que você tem de pagar amanhã, nos compromissos da semana que vem, ou se mandou aquele e-mail ontem que não podia mais ser adiado, significa que sua atenção, de alguma forma, não está na história. Pode não ser culpa única e exclusiva da montagem (ou do montador), mas uma parcela dessa culpa é dela. Montagem engloba, entre outras coisas, ritmo. Isso não quer dizer que o filme deve ser muito rápido ou muito cortado. Quer dizer apenas que ele deve ter o ritmo certo para aquela história que está sendo contada. A atenção e a emoção do espectador deve estar na história durante todo o filme.

E quando a montagem é o melhor de um filme?

DR – Outra “teoria” que tenho é sobre a percepção da montagem. Idealmente, você não deveria prestar atenção nela. Quando ela se destaca muito num filme, isso pode ser um sinal de problema e não uma qualidade. Algumas pessoas associam muitos cortes a uma “boa montagem”, o que, geralmente, é um erro. Um filme pode ser muito cortado e/ou a montagem pode ser percebida, se o filme que está sendo contado pedir isso.

Qual a emoção de ser indicado ao Oscar por Cidade de Deus? Como isso mudou sua carreira?

DR –  No meu caso foi uma reação de espanto, porque fomos uma exceção à regra. As quatro indicações do Cidade de Deus foram algo completamente fora do padrão e nos pegou de surpresa. A gente sabia que a Miramax estava fazendo uma forte campanha, mas daí a acontecer a indicação era uma diferença muito grande. E aconteceu. A primeira sensação foi, com certeza, surpresa! Claro que mudou minha carreira! Ainda hoje isso é citado e será por algum tempo. Tento pensar sobre isso como uma exceção à regra, da qual tive a sorte de participar.

Como é montar um filme no exterior e montar no Brasil? Existem diferenças? (aparatos técnicos, prazos, e etc.)

DR – Os aparatos técnicos, no caso da montagem, são basicamente os mesmos. Não estamos muito atrás dos gringos, não. O que muda, geralmente, são os prazos e a estrutura, não só por causa da grana, mas porque o pensamento é outro. Sai um filme, entra outro. É uma indústria. No Brasil,  todo filme é uma conquista, uma luta. Do mais simples ao mais elaborado. Ficar montando um filme grande nos EUA por um ano ou mais não é um absurdo. Aqui isso não existe. A não ser em casos de documentários sem grana, que muitas vezes se estendem por anos a fio…

Seu mais recente trabalho no exterior foi no filme Three of Life, do consagrado diretor Terrence Malick, com Sean Penn e Brad Pitt. Conte um pouco sobre essa experiência de trabalhar com um diretor perfecionista como Malick.

DR – Foi um trabalho divisor de águas. Aprendi muito. Terrence é um dos poucos diretores que conseguem visibilidade, respeito e dinheiro para fazer filmes e que, ainda assim, conseguem fazer um cinema 100% autoral. Não é para todos os gostos, mas ele tem uma legião de fãs. Eu inclusive. Ele é realmente muito perfecionista e gosta de trabalhar testando outros métodos. Fui um dos cinco montadores de Tree of Life. Fiquei durante uma parte apenas. Nenhum montador ficou o tempo todo, pois foram mais de dois anos de montagem. O filme deve estrear no final do ano nos EUA. Não sei quando chega aqui.
 
Você acabou de montar Tropa de Elite 2 no Brasil, no qual também trabalhou como diretor de segunda unidade. Soube que você é conhecido como o “garoto do ar-condicionado”, aquele que vive na sala de montagem. Como foi a experiência de ralar no calor do set, no caso de Tropa?

DR – Foi incrível. José Padilha me chamou para ficar no set, acompanhando todo o processo. Fiz algumas cenas como diretor de segunda unidade, mas fiquei quase que o tempo todo no set principal, pensando no filme, junto com o Zé. Muitos dos possíveis problemas que poderíamos enfrentar numa ilha de edição, pós-filmagem, foram resolvidos ali mesmo no set, durante os takes. Isso ajudou muito o filme. Tínhamos um montador adicional, o Renato Martins, que fez o primeiro corte de quase todas as cenas. Eu saia do set e ia pra ilha acompanhar o que ele estava fazendo e direcionar os caminhos. Ao final da filmagem, assumi a ilha de edição e fizemos uma montagem muito rápida para um filme desse calibre. Depois do término das filmagem, chegamos ao corte final em menos de quatro meses.

(Rod Carvalho, do CineTotal/Especial para brpress)

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