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Aurélio Michiles quer que seu filme valorize e desperte outros Cosmes. Foto: Marcelo Thomazin/BR PressAurélio Michiles quer que seu filme valorize e desperte outros Cosmes. Foto: Marcelo Thomazin/BR Press

‘São’ Cosme protetor dos filmes

(São Paulo, brpress) - Aurélio Michiles fala de Tudo Por Amor ao Cinema, documentário-homenagem ao cinéfilo amazonense Cosme Alves Netto. Por Juliana Resende.

(São Paulo, brpress) – O que O Cineasta da Selva (Brasil, 1997), longa-metragem de estreia do cineasta manauara Aurélio Michiles, sobre o qual esta repórter fez matéria de capa para o jornal A Crítica, de Manaus, em 24/06/96 (veja link abaixo), tem a ver com Tudo Por Amor ao Cinema [www.tudoporamoraocinema.com.br], documentário-homenagem ao cinéfilo amazonense Cosme Alves Netto, segundo longa do mesmo diretor que estreia agora em circuito comercial? “Tudo”, resume Michiles.

    É que Cosme Alves Netto, a quem O Cineasta da Selva é dedicado, foi o estopim da faísca que encontrou em Aurélio Michiles a combustão realizadora para ambos os filmes. Portanto, estão ligados umbilicalmente. “Foi Cosme que começou a me falar insistentemente de Silvino e acabou me abastecendo de um vasto material sobre Silvino”, conta Michiles –  ele próprio tendo incorporado a missão de salvar a memória fílmica brasileira contando a vida destes destemidos ícones tupiniquins do cinema nacional (ilustres desconhecidos do público).

Desbravadores e obstinados

    Se Silvino Santos, o pioneiro “cineasta da selva”, desbravou a Amazônia produzindo as primeiras imagens da floresta e divulgando a biodiversidade amazônica, Cosme abraçou a causa do cinema como veículo de informação, formação e transformação. Escondia embaixo da cama e exibia em sessões clandestinas filmes proibidos pela ditadura militar.  Nem Silvino nem Cosme pareciam se abalar com as adversidades. Seguiam em frente, obstinados.

    A militância fílmica de Cosme Alves Netto como curador da Cinemateca do MAM RJ por mais de três décadas lhe valeu respeito e reconhecimento praticamente unânimes entre todas as personalidades ligadas ao cinema brasileiro e latino-americano ouvidas por Michiles no filme.

    “Foi essa mesma paixão pelos filmes que tornou possível a criação das cinematecas em todo o mundo”, ressalta o diretor. “Nos EUA, os estúdios tinham medo de que filmes fossem desviados e de não receber direitos autorais por exibições clandestinas. Por isso,  preferiam destrui-los a doá-los”, explica o diretor. “Na Europa, durante a ocupação nazista, filmes foram salvos graças a outros Cosmes”, compara.

’Sonegação cultural’

    Generoso, engajado, querido (por muitos), centralizador (na opinião de alguns) e “ecumênico”, pela definição de Michiles, Cosme  Alves Netto é “um personagem em falta no mundo”. Para o diretor, “está faltando esse amor incondicional à memória”, citando como exemplo de “sonegação cultural” a destruição das referências civilizatórias, da arte e dos monumentos históricos pelo Estado Islâmico. “Meu desejo é que esse filme valorize e desperte outros Cosmes”, brada Michiles.

    No Brasil do Golpe de 1964 (ano em que Cosme assumiu a direção da Cinemateca do MAM-RJ), a dedicação desse enciclopédico cinéfilo o levou à prisão e tortura pelo DOI-CODI, órgão de repressão do Exército a serviço do terrorismo de estado. Leve, divertido e interessante, Tudo Por Amor ao Cinema consegue tratar até dessa parte abjeta da história do Brasil adicionando uma pitada de humor, ao mostrar o sangue frio de Cosme ao esconder embaixo do sofá da antessala da cadeia uma agenda com diversos nomes de amigos.

Excêntrico

    Essas e outras histórias – supostamente verídicas – ilustram a excentricidade de Cosme. “Achei que o conhecia, mas depois vi que não. Descobri que ele amava os filmes de terror, cultuava a morte na juventude, se vestia todo de preto, tinha uma caveira e uma tíbia em casa. Andava de sobretudo pelas ruas de Manaus. Mas, acima de tudo, acolhia as pessoas, era um agregador”.

    Não por acaso, Tudo Por Amor ao Cinema tem uma primorosa montagem reunindo trechos de diferentes filmes entre um depoimento e outro, numa ode metalinguística à memória cinematográfica da qual o Brasil de hoje continua tão carente. Faltam Cosmes, instituições e projetos que se dediquem continuamente à divulgação e preservação do cinema brasileiro. “Como estão nossas cinematecas?”, questiona Michiles.

    Na Cinemateca do MAM-RJ, por exemplo, “o novo diretor, Ricardo Cota, tomou posse com a exibição de Tudo Por Amor ao Cinema, e descobriu que não havia um projetor digital na Cinemateca para  fazer a sessão. Teve de pedir emprestado. No final, deu tudo certo, foram os amigos de Cosme e todos vislumbraram uma possível volta do protagonismo da Cinemateca do MAM-RJ”, diz Michiles. “Se a retrospectiva do Cinema Novo na Cinemateca Brasileira, em SP, teve sessões ao ar livre lotadas, é sinal que há gente, especialmente jovem, querendo ver esses filmes.” 

Assista ao trailer de Tudo Por Amor ao Cinema:

https://www.youtube.com/watch?v=BT1zsUnREoIhttps://www.youtube.com/watch?v=

Leia mais sobre O Cineasta da Selva aqui.

(Juliana Resende/brpress)

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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