O adorável mentiroso de Moura

(São Paulo, brpress) - Um louco vôo de um menino à procura de identidade. Assim é o premiado VIPs, protagonizado por Wagner Moura, que estreia sexta (25/03). Por Juliana Resende.

(São Paulo, brpress) – Um louco vôo no incosciente de um menino à procura de identidade. Assim pode ser definido o argumento de VIPs, longa nacional e vencedor do Festival do Rio 2010 dos prêmios de Melhor Filme, Melhor Ator (Wagner Moura), Melhor Ator Coadjuvante (Jorge D’Elia) e Melhor Atriz Coadjuvante (Gisele Fróes), que estreia nesta sexta (25/03).

Trata-se da nova produção da O2 ‘Cidade de Deus’ Filmes e uma grata surpresa do neocinema made in Brazil, envolvendo nomes que se tornaram “selos de qualidade”, como Wagner ‘Capitão Nascimento’ Moura e o roteirista Bráulio ‘Cidade de Deus’ Mantovani. Toniko Melo assina direção desta adaptação do livro VIPs – Histórias Reais de um Mentiroso, de Mariana Caltabiano, inspirado na história verídica do falsário Marcelo Nascimento da Rocha, que entre muitos golpes, se fez passar pelo empresário Henrique Constantino, filho do dono da empresa aérea Gol.

Controvérsia

O filme já chega mergulhado em controvérsia, sendo que o verdadeiro Marcelo, preso desde o golpe-mor, ameaça processar os produtores e até o ator Wagner Moura por sua interpretação “falsa” do fatos. O ator baiano, parte do elenco, Melo e Mantovani conversaram com a imprensa na manhã desta segunda-feira (21/03) e comentaram sobre a acusação, sobre o personagem e sobre o filme em si.

“Temos os direitos autorais do livro”, diz Toniko, com certo ar de desprezo à ameaça. Nem ele nem Moura nunca sequer viram o Marcelo real e garantem que a história do filme tem muito de ficção, caso contrário não seria cinematográfica o suficiente. “As histórias reais são pitorescas, mas inventantamos muita coisa para ter o que filmar”, diz o diretor, para quem o ‘seu’ falsário não é, necessariamente, um criminoso, muito menos o filme uma glamurização do crime.

Psicanálise

A inspiração de Toniko Melo para fazer VIPs veio de uma frase de Jung pixada num muro, em Londres, que lhe chamou atenção, em 1999: “Tudo o que fazemos de forma não consciente surge depois como destino”. Em Marcelo, ele encontrou o personagem capaz de colocar a frase em prática.

O filme foi exibido para psicólogos e psiquiátras e ninguém dignosticou Marcelo: bipolar, esquizofrênico, psicótico… Muito menos VIPs tem a pretensão de diagnosticar o rapaz que queria mais que tudo na vida ser piloto e saiu em busca de seu sonho, criando um mundo paralelo de fraudes e identidades diferentes.

Defesa

“Todos estão buscando se encontrar”, acredita Moura, ressaltando a sinceridade e a candura de seu personagem. “O que fizemos foi colocar uma lente de aumento no Marcelo. Mas é evidente ele se perde nessa busca”, completa o ator baiano. Ele diz que o falsário americano Frank Abagnale Jr., personagem vivido por Leonardo Di Caprio no filme Prenda-me se For Capaz (2002), não foi uma inspiração.

Marcelo é um papel desopilante, com o qual Moura pode se libertar das algemas do Capitão Nacimento, de Tropa de Elite 1 e 2 – personagem que levou a ser convidado a fazer a da ficção científica Elysium, em Hollywood. “Neill Blomkamp, diretor de District 9, me convidou e eu topei”, disse, sem poder revelar mais detalhes da produção americana.

Outros vôos e Legião Urbana

Como Marcelo, o ator parece muito à vontade como piloto, empresário e cantor de rock. Uma  “canja” com sua banda Sua Mãe – “sempre dou um jeitinho pra colocar o grupo nas paradas”, assume Moura – é um momento ótimo do filme e funciona bem como mais uma das versáteis e convincentes encarnações de Marcelo: “Essa noite meu nome é Renato Russo”, brada, numa das poucas horas vagas de seu trabalho como às das perigosas pistas de pouso do tráfico, na fronteira do Brasil e Paraguai.

O espectador é brindado com cenas adrenalínicas, quando o assunto são os vôos de Marcelo – até piloto da Esquadrilha da Fumaça entrou em cena –, e referências dos  anos 80, quando o assunto é música. Há uma homenagem à Legião Urbana e Renato Russo, com o qual Toniko conviveu (“ele também tinha suas tiradas de loucura”, lembra). O diretor fez o primeiro videoclipe da cultuada banda de Brasília, Será?, que aparece na TV no filme e é a música que Moura e banda interpretam em cena.

Materna

A influência da mãe também é exacerbada no filme. E rendeu a cena predileta de Moura: quando Marcelo volta para casa e pergunta “Assim como?”, quando a mãe conclui “É… Você sempre foi assim”, sem mais explicações, tão ansiadas pelo então menino sonhador e solitário. “Primeiro, eu estudei o filho; depois, fui compor a mãe”, explica a atriz Gisele Fróes, soberba na pele da cabelereira fútil.

Todos os públicos

VIPs tem ingredientes para agradar a crítica e público – sem distinção de classe social e idade. Como seu protaginista, é camaleônico e versátil. Um dos porteiros do cinema onde houve a sessão para a imprensa elogiou o filme, empolgado, feliz por ter tido a oportunidade de assisti-lo.

Um dos críticos mais reconhecidos do país, Luiz Carlos Merten, confessou ao diretor que assistiu ao longa três vezes. “Trata-se de um filme cheio de camadas e desafio a quem assistir que desvende qual é o delito que todos os personagens que mais contracenam com Marcelo – menos a milionária desajustada Sandra (Arieta Corrêa) – cometem”.

Senhores, façam suas apostas.

(Juliana Resende/brpress)