Quincas grande baladeiro
(brpress) - Quincas Berro d'Água sempre teve tudo para dar um bom filme mas, antes de Sérgio Machado, ninguém encarou o desafio. Sorte dele – e nossa. Por Rod Carvalho.
(brpress) – Ah, se Jorge Amado estivesse vivo! Seu sorriso estampado no rosto já diria tudo. Sérgio Machado acertou em cheio. A perfeição de sua transposição de Quincas Berro d’Água – vivido por Paulo José – de para o cinema é indiscutível. De um baiano para outro, o nome de Jorge não poderia ter sido mais bem representado.
A história do ex-funcionário público, rei dos botecos, bordéis e gafieiras da Bahia, Quincas Berro d’Água é uma das mais clássicas obras da literatura brasileira. A saga de seus amigos de baderna que, ao encontrarem-no morto na cama, “roubam” seu corpo para o levarem para uma última noite regada à festa e muita bebida, sempre teve tudo para dar uma boa trama para o cinema, mas, antes de Sergio, ninguém encarou esse desafio. Sorte dele. Sorte nossa.
Fotografia e elenco afinados
Como já havia provado em Cidade Baixa, a direção de Machado é primorosa em todos os detalhes. Aliada então a seu fiel fotógrafo, Toca Seabra, a preciosidade dessa obra aumenta ainda mais. Como uma pintura em movimento, as seqüências de frames são delineadas com pinceladas fortes de Almodóvar, sublinhadas com o melhor de De Sica. E tudo isso embalado nos encantos e referências explicitas de Dona Flor e seus Dois Maridos, de Bruno Barreto.
O time de atores que levam o filme nas costas, ou melhor, o próprio Quincas, parece não ter sido apenas escolhido para o projeto, e sim nascido para ele. Irandhir Santos, Flávio Bauraqui, Luis Miranda e Frank Menezes saíram do livro direto para a tela. Não apenas a entrega deles aos personagens, mas a nítida cumplicidade e simpatia que passam são dignas de fartos aplausos.
Machado faz desse filme uma sincera reverência ao prazer do imaginário que uma boa leitura pode nos dar – e aos encantos que a sétima arte consegue produzir com ela.
(Rod Carvalho/Especial para brpress)