Rolling Stones: 50 anos a mil

(Londres, brpress) – Crossfire Hurricane, documentário sobre cinquentenário da banda, tem estreia mundial no London Film Festival. Por Maysa Monção.

(Londres, brpress) – Foi exibido, pela primeira vez, o documentário Crossfire Hurricane, sobre o cinquentenário dos Rolling Stones, em sessão única no 56o. BFI London Film Festival, o Festival de Cinema de Londres. Em pessoa, os Rolling Stones alvoroçaram a multidão que se acotovelava na Leicester Square, onde Mick Jagger (também produtor do filme), Keith Richards, Charlie Watts e Ronnie Wood deram autógrafos, em meio a convidados como Liam Gallagher e Jeff Beck. A brpress assistiu ao filme em primeira mão, e mesmo antes de subirem os créditos na disputada sessão londrina, já publicava esta matéria contando como é Crossfire Hurricane.

    Não espere o preciosismo técnico de Scorsese em Shine a Light, muito menos o olhar afinado e maluco de Nic Roeg, em Performance. Crossfire Hurricane cumpre um simples, embora importante e por vezes negligenciado, papel do cinema: documentar. Neste caso, documentar A Maior e Mais Bem-Sucedida Banda do Mundo ainda em atividade.

O filme antecedeu os disputados shows na O2 Arena, em Londres, nos dias 25 e 29/11/12, e no Prudential Center de Newark, próximo a Nova York, nos dias 13 e 15/12/12. Os ingressos chegaram a cerca de R$ 40 mil no mercado negro. E o novo disco GRRR! chegou às lojas nesse clima de aniversário.

‘Apenas vou e faço’

    O filme é uma coletânea de imagens, muitas delas raras, e depoimentos dos integrantes. A edição, uma colagem mais ou menos cronológica, teve o trabalho de recolher depoimentos de Mick Jagger, Keith Richards e Charlie Watts a respeito dos shows e eventos públicos deles próprios. “Eu não sei de nada. Eu apenas vou e faço”, diz Mick, aos 22, sobre o seu comportamento no palco.“Nós vamos durar dois anos”, prevê o cantor, há meio século. Não foi bem assim.

    Enquanto vêem-se cenas das multidões que se aglomeravam nos aeroportos e locais de shows na propícia Swinging London, Richards comenta que eles foram destinados pelo marketing e a imprensa para serem os anti-Beatles, como que num extra de uma edição em Blu-Ray. Momentos de fina ironia também têm lugar. Um jornalista pergunta, à época: “Mas vocês tiveram uma educação muito boa, por que se comportam deste jeito?”

    Ora, caro puritano da mídia, por que os Stones querem ser o exato oposto do que vocês querem que eles sejam. Mas isso implica numa absoluta perda de controle, o que pode ser comprovado em cenas do concerto no Hyde Park, dois dias depois da morte de Mick Taylor, por overdose, e num célebre concerto em San Francisco, em que um jovem foi morto a facadas. “Nós estávamos com medo. Os seguranças eram os caras do Hell’s Angels sob o efeito de ácido”, diz Mick. Para Charlie Watts, “era como ter contratado os nazistas para fazer a segurança da boca do palco”.

Jumpin’ Jack Flash

    O título de Crossfire Hurricane foi extraído da famosa canção Jumpin’ Jack Flash e  atesta o motor por trás da longevidade dos Stones. Eles nunca sabiam, com certeza, o que poderia acontecer a seguir. Richards, sendo preso na fronteira do Canadá por porte de drogas; o aumento abusivo dos impostos no Reino Unido, obrigando-os a gravar no Sul da França; a química alegre de todos no palco, principalmente quando Ron Wood se juntou ao grupo, trazendo energia nova.

    Crossfire Hurricane pode desapontar um pouco. Mas como os próprios Stones vêm cantando há cinco décadas em You Can’t Always Get What You Want, nem sempre a gente consegue o que quer. Geralmente, conseguimos o que realmente precisamos. E o mundo ainda precisa muito dos Rolling Stones, com toda sua glória e loucura.

(Maysa Monção/Especial para brpress)