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Robert Redford e Cate Blanchett em cena do filme Conspiração e Poder: jornalismo levado às máximas consequências. Foto: DivulgaçãoRobert Redford e Cate Blanchett em cena do filme Conspiração e Poder: jornalismo levado às máximas consequências. Foto: Divulgação

Ruídos abalam verdade em Conspiração e Poder

brpress) - Verdade, simplesmente, poderia ser a tradução do título em português do (super)filme de estreia de James Vanderbilt na direção. Mas não é o que acontece. Por Juliana Resende.

(brpress) – Depois do premiado Spotlight – Segredos Revelados, vem aí mais um filme sobre o poder – e as limitações – do jornalismo como uma prática primordial a serviço da democracia, corações e mentes: Conspiração e Poder (Truth, 2015), que estreia no Brasil em 24/03. Baseado em fatos reais e no livro Truth and Duty: The Press, the President and the Privilege of Power, da ex-produtora da CBS, Mary Papes, vivida magistralmente por Cate Blanchett (que entrevistamos recentemente em Londres, durante o 59o. BFI London Film Festival).

    Verdade, simplesmente, poderia ser a tradução do título em português do (super)filme de estreia de James Vanderbilt na direção (ele também assina o roteiro). É sobre a dificuldade que alguns jornalistas têm de divulgar a verdade, desmascarando poderosos e corporações que defendem seus interesses e/ou são acuadas por eles, ainda que a qualquer custo: até mesmo de sua reputação pessoal, sem falar na “condenação” ao degredo profissional e coação moral. Foi o que aconteceu com a produtora Mary Papes, que, depois de colocar todas as suas fichas na apuração e divulgação do fato de que o presidente George W. Bush foi um dos muitos jovens privilegiados que usou contatos para não combater na Guerra do Vietnã.

Pós-11 de Setembro

    Era 2014, ano de eleição presidencial nos EUA pós-11 de Setembro, disputando o republicano Bush filho e o democrata John Kerry, quando, Mary Papes, trabalhava para o programa 60 Minutes Wednesday, da CBS News, famoso pelas reportagens investigativas contundentes que apresentava, a despeito da baixa rentabilidade (problema que parece acometer o jornalismo de fôlego no advento da Era Digital). O programa resolve finalmente dar continuidade à apuração da história de George W. Bush – fato que poderia já ter vindo à tona e influenciado (até evitando) a primeira eleição de W. Bush em 2000, dando vitória a Al Gore, se a mãe de Mary não tivesse adoecido e falecido, tendo ela de interromper a apuração e ficar fora de combate.

    Pois bem. Na tela, o desenrolar dos fatos é absolutamente eletrizante, assim como a luta e o trabalho duro da apuração investigativa jornalística é mostrado com bastante fidelidade – e, claro, algum traço de romantismo e heroísmo (o glamour da televisão também é explorado, entre uma dose e outra de uísque e Chardonnay), além do entrosamento da equipe. Mas a alegria dura pouco – o tempo suficiente para Mary e a equipe que servia ao programa apresentado pelo âncora Dan Rather (interpretado por Robert Redford, em grande forma) conseguirem documentos e depoimentos de fontes que teriam participado da falcatrua na qual Bush júnior teria recebido tratamento preferencial de oficiais da Texas Air National Guard, incluindo sua falta de requisitos mínimos para servir como piloto e muito menos ir à Guerra do Vietnã, nos anos 70.

Histeria

    Depois que a matéria foi ao ar, começaram a chover alegações, tanto de bloggers quanto de órgãos da grande imprensa, como o Washington Post, de que os documentos obtidos por Mary, além de não serem originais, eram falsos e haviam sido forjados em textos feitos no Microsoft Word – portanto, impossíveis de serem datados de 1972, quando somente algumas máquinas de escrever teriam determinada tipografia – e continham assinaturas igualmente falsas. A pressão só crescia sobre a equipe de reportagem do 60 Minutes. Até que a própria CBS resolveu amarelar e abrir uma auditoria externa para apurar se a apuração da matéria havia sido motivada por preferências políticas de Mary Papes, que teria ignorado a veracidade das provas em nome da voracidade jornalística.

    Para complicar ainda mais a vida de Mary, fontes começaram a voltar atrás em seus depoimentos e a principal delas, o coronel aposentado Bill Burkett, admitiu ter mentido sobre a origem dos documentos (alegando que teria queimado os originais). Resultado: todo o trabalho do 60 Minutes é desacreditado pela direção da CBS News, cujos executivos podem a revelação das fontes da matéria e depois as cabeças tanto da produtora e equipe, quando do âncora – que é obrigado e se desculpar no ar. Enquanto demissões rolam – desviando a atenção para o que realmente importava: o fato de George W. Bush ter realmente forjado sua participação na Guerra do Vietnã –, a tal auditoria se encarrega de fritar Mary, que enfrenta também pesada campanha de difamação pública.

    Mary Papes nunca mais trabalhou como produtora de televisão. Mas foi a repórter que trouxe à tona o que rolava na prisão de Abu Ghraib, no Iraque: torturas e abusos sistêmicos dos presos pelo governo americano, cujas imagens chocaram o mundo pela virulência com que desrespeitavam os direitos humanos e a Convenção de Genebra, quando publicadas pela agência Associated Press (AP). O então governo do presidente George W. Bush tentou minimizar e afirmar que os abusos tratavam-se de incidentes isolados e não sistêmicos. Não colou. Organizações de defesa dos direitos humanos, como Cruz Vermelha, Anistia Internacional e Human Rights Watch, rechaçaram com relatórios ricos em detalhes os porões da “guerra ao terror” da administração Bush, e outras prisões no Afeganistão e na base de Guantânamo. Também ficou provado que tais abusos eram autorizados pelo secretário de defesa dos EUA, Donald Rumsfeld.

(Juliana Resende/brpress)

    Assista ao trailer de Conspiração e Poder:

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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