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Cena de Tropa de Elite 2: lançamento em DVD.DivulgaçãoCena de Tropa de Elite 2: lançamento em DVD.Divulgação

Tropa 2 pede para entrar

(Berlim, brpress) - Exibido pela primeira vez na Europa e lançado em vídeo no Brasil, Tropa de Elite 2 tenta agora carreira internacional. Por Rui Martins.
(Berlim, brpress) – Recentemente lançado em vídeo no Brasil, Tropa de Elite 2 arrancou aplausos do público do teatro Friedrichstadtpalast da capital alemã – de pé e longamente. A estreia do filme na Europa, em 11/02, no Festival de Cinema de Berlim, foi promissora e o longa deverá seguir a trilha do filme precedente, premiado com o Urso de Ouro em 2008.

O capitão Nascimento se redimiu em Tropa de Elite 2 e acabou depondo numa comissão parlamentar de inquérito (CPI), denunciando governador, secretário da Segurança, deputados, enfim, políticos que transformaram o combate ao tráfico nas favelas em manobras para ganhar votos.

Enquanto o herói do primeiro Tropa de Elite chegou a ser acusado de fascista por torturar e matar, a sequência denuncia políticos e, embora feito depois da invasão da favela do Alemão, trata justamente da questão da criação de milícias policiais que achacam diretamente a população, depois de terem eliminado os traficantes.
José Padilha com seu gorro de lã e malha vermelha foi também aplaudido pelo público. Durante a tarde, Padilha e os atores Wagner Moura e Maria Ribeiro tiveram encontros com a imprensa internacional. Falando inglês perfeito de antigo aluno de Oxford, Padilha tratou da corrupção no Brasil e criticou o governo do ex-presidente Lula pelo mensalão.

Ambos contaram que não havia inicialmente a ideia de se dar uma sequência para Tropa de Elite, mas que todos os atores aceitaram o projeto ao serem consulados. Wagner Moura afirmou acreditar no talento de Padilha, razão pela qual voltou a filmar e a participar da produção. “Assim que Padilha me falou numa ideia para a continuação de Tropa de Elite, disse: estou dentro”.

Realidade brasileira

Moura, que se considera orgulhoso por estrelar o filme, está curioso pela reação tanto nos EUA, onde o filme já foi exibido no Festival de Sundance, como na Europa, pois Tropa 2 é bem entendido pelos brasileiros por mostrar uma problemática real no Brasil.

Respondendo a uma pergunta sobre o porquê do sucesso de bilheteria do filme no Brasil, Wagner Moura lembrou que, nestes últimos dez anos, têm sido feitos muitos filmes criticando a sociedade e o governo no Brasil. “Isso porque viveu-se uma ditadura e só houve eleições nos anos oitenta. É natural que todos utilizem o fim da censura para exercer sua crítica, promover o debate sobre as questões cruciais do país”, disse.

Maria Ribeiro acentuou o fato de Padilha ter “ensinado aos brasileiros ver os políticos de outra maneira, por isso esse novo filme não é uma simples continuação, são mais aspectos que Padilha queria mostrar sobre a violência no Brasil. A atriz diz ainda que sua personagem, Rosane, entendeu finalmente o que o marido fazia – “Antes ela ou não sabia ou não queria saber”.

“O primeiro filme”, continua Ribeiro, “queria mostrar as relações da polícia com os traficantes de drogas, porém o segundo cavou mais fundo, mostrando as relação que há entre a polícia e os políticos e, sobretudo, como os políticos manipulam as instituições principalmente policiais para manter o poder”.

Padilha confessava-se curioso pela reação dos espectadores. “Este festival, que considero o melhor do mundo, tem a característica de ser voltado para o grande público e não só para compradores, distribuidores e gente do cinema”.

Tropa 2 explica Tropa 1

O cineasta explicou a necessidade de fazer Tropa 1 e 2: “Meus dois filmes se complementam,  seguem uma certa lógica neles inerente. No primeiro, vê-se a violência sob a ótica de um policial violento. A pergunta decorrente é: por que temos policiais assim, o que produz isso? O personagem principal, que faz parte de uma patrulha, é violento no seu cotidiano mas não entende de onde vem a violência, acha  normal e nós o seguimos, segundo o seu raciocínio”.

Padilha prossegue na explicação para jornalistas estrangeiros: “Em Tropa 2, esse policial vai entender porque ele é o que é: embora seja só uma peça no tabuleiro, ele vê quem mexe nessas peças, ele olha para cima, ou seja, o segundo filme dá mais atenção à ligação entre os policiais e os políticos e explica porque a polícia age violentamente, esclarecendo Tropa 1”.

Distribuição e pirataria

O diretor acredita que o filme também deva estar com uma boa distribuição assegurada nos EUA e na Europa (“melhor do que Tropa 1”. Padilha revela também ter havido muita perda com a pirataria em Tropa 1. Segundo apurou, o filme, no Brasil, foi visto por mais de 13 milhões de pessoas, das quais 11 milhões usaram cópias piratas e dois milhões foram aos cinemas. Para evitar essa repetição, Tropa 2 evitou fazer uma finalização digitalizada.

Cortando a especulação de um Tropa de Elite 3, Padilha disse já ter esgotado a questão da violência policial em três de seus filmes, incluindo-se Ônibus 174. “Costumo dizer que não tenho imaginação porque tudo que coloco nos meus filmes já aconteceu”.

Em Tropa 2, há uma rebelião no presídio e um cara de uma ONG de esquerda que está entre o Bope e a Polícia. “Isso já aconteceu, isso é verdade. Depois ele se torna deputado. Depois ele descobre as milícias, um jornalista é sequestrado e ela tentar criar uma CPI –, isso também é verdade”, diz Padilha.

“E daí, o Rio de Janeiro apresenta um programa para expulsar os traficantes das favelas e utilizar o poder da polícia com objetivo eleitoral. Isso está acontecendo no Rio de Janeiro! E a polícia que fica sem o dinheiro do tráfico de drogas, passa a controlar as favelas e se torna uma milícia. Essa milícia controla metade das favelas no Rio”, completa Padilha.

Governo Lula

Pergunta de um jornalista africano: “A corrupção que se vê no filme significa que o governo de Lula fracassou?”. Resposta de Padilha: “O Brasil é um país muito grande e o governo tem de lidar com diversas questões, ou econômicas ou sociais como a repartição da riqueza, muitas pessoas têm muito dinheiro e outras nenhum, além da corrupção e a violência. Eu diria que Lula foi bem sucedido ao lidar com certas questões e falhou com outras.”

“Mas na questão da corrupção falhou de maneira lamentável, pois o governo Lula foi um governo corrupto, envolvido num esquema enorme de corrupção e todos sabem disso”, afirma o diretor de Garapa – documentário sobre a fome que atinge 11 milhões de brasileiros. “O esquema se chamava mensalão, boa parte do governo estava envolvida nisso e irá a julgamento este ano pelo Supremo Tribunal de Justiça (STF). Mas Lula escapou de alguma maneira, saiu bem, saiu incólume porque conseguiu bons resultados noutros setores. Ele conseguiu que boa parte da população pobre se transformasse em classe média e isso é importante. Esse sucesso econômico lhe garantiu eleger sua candidata”.

Sobre as acusações de fascista feitas ao primeiro filme, José Padilha foi taxativo: “Houve essa acusação ao primeiro filme, mas não contra Tropa 2. Mas digo o seguinte – eu não penso o mundo em direita e esquerda, como se houvesse um Muro no meu cérebro. Não é mais necessário se olhar o mundo segundo uma perspectiva marxista ou liberal. Existem outros modelos para os processos sociais.”

Sobre o capitão Nascimento, Padilha disse considerá-lo como um personagem típico de tragédia grega, que evolui rapidamente e caminha para um final trágico no final: “Em Tropa 2, ele está consciente disso e essa é a diferença entre os dois filmes.”

(Rui Martins/Especial para brpress)

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