Urso de Ouro é crítica ao Irã
(Berlim, brpress) - Festival de Cinema de Berlim terminou num clima político, enviando uma mensagem inequívoca ao regime iraniano. Por Rui Martins.
(Berlim, brpress) – O Festival de Cinema de Berlim terminou na última sexta (18/02), num clima político, enviando uma mensagem inequívoca ao regime iraniano, dando o Urso de Ouro de Melhor Filme e os prêmios de Melhor Atriz e Melhor Ator ao coletivo de atores masculinos e femininos do filme iraniano Nader e Simin – Uma Separação.
Sem dúvida, o filme iraniano estava entre os melhores da competição e fazia parte dos favoritos entre os críticos de cinema, mas o exagero de premiar todo o elenco e o diretor não passou despercebido – Berlim, ao premiar o filme, aproveita para marcar o apoio do júri ao cineasta iraniano Jafar Panahi, que deveria fazer parte desse júri não tivesse sido preso no Irã e condenado a seis anos de prisão e a 20 anos de proibição de fazer filmes, num flagrante ato de violação dos direitos democráticos de expressão e de opressão a um artista.
Logo no começo da cerimônia de entrega dos prêmios do 61o. Festival Internacional de Cinema de Berlim, o apoio a Jafar Panahi e o protesto por sua prisão ficaram claros ao se colocar no centro do palco a cadeira vazia de cineasta com seu nome e lembrar ter havido uma manifestação em seu favor, no segundo dia do festival. Antes da exibição de alguns filmes, aparecia por alguns segundos o nome de Jafar Panahi.
Dedicado ao colega
Premiado com o Urso de Ouro, o cineasta iraniano Asghar Farhadi repetiu praticamente o que já dissera na entrevista coletiva após a exibição de seu filme, lamentando a ausência do seu colega cineasta iraniano em Berlim, Jafar Panahi, que deveria estar também ali no palco, numa alusão ao grupo do júri, presidido pela atriz e directora Isabella Rossellini, apresentado em conjunto ao público.
Logo depois, um dos atores do filme iraniano afirmou, ao receber o prêmio coletivo, que repetia uma frase de um artista italiano, no sentido de que, quando as coisas não vão bem num país, o melhor para um artista é fazer bem o seu trabalho.
O filme iraniano trata da separação de um casal no Irã, e mostra um país cuja classe média quer modernidade, enquanto a classe pobre continua apegada ao fundamentalismo religioso. Exatamente como ocorre nos atuais conflitos entre os revolucionários Verdes e o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, apoiado por aiatolás e imãs.
Béla Tarr, grande prêmio do júri
O cineasta Béla Tarr, considerado por muitos como o provável premiado com o Urso de Ouro, acabou sendo o prejudicado pela decisão do júri de marcar claramente sua oposição à política autocrática do governo iraniano.
Seu filme O Cavalo de Torino, inspirado num episódio da vida de Nietzsche, e considerado como sua visão pessimista do fim do mundo ou do insuportável e efêmero cotidiano da vida – como dissera o cineasta em entrevista à imprensa, ao citar Milan Kundera –, apesar de não prometer entusiasmar o grande público marcou o apogeu da carreira do diretor húngaro.
Visivelmente contrariado por receber o Urso de Prata do Grande Prêmio do Júri e não o Urso de Ouro, Béla Tarr se negou a ir diante do microfone para fazer uma declaração.
Melhor direção – Urso de Prata
O cineasta alemão Ulrich Koehler, nascido na África, com estudos na França e universidade na Alemanha, dirigiu o filme “africano” do festival, rodado nos Camarões, Doença do Sono, e ganhou o Urso de Prata como melhor diretor.
Doença do Sono trata do sentimento de alienação dos europeus em longa missão humanitária ou vida na África e suas dificuldades em se definirem como africanos ou europeus. E igualmente da dificuldade dos filhos de africanos, nascidos da imigração na Europa, de se identificarem como africanos ao chegarem na África.
Seu filme aborda também a questão do desvio de verbas das grandes organizações humanitárias por ONGs locais e entidades africanas encarregadas de aplicarem programas de saúde.
Melhor roteiro, câmera e produção
O prêmio de melhor roteiro, com Urso de Prata, foi para os autores do filme The Forgiveness of Blood, Joshua Marston e Andamion Murataj. O filme era considerado um dos possíveis premiados e o simples prêmio de Melhor Roteiro decepcionou muitos críticos.
O prêmio de Melhor Câmera foi para Wojciech Staron, da coprodução mexicano-franco-polonesa O Prêmio, dirigida pela argentina Paula Markovitch . E o de Melhor Produção foi para Barbara Enriquez, também de O Prêmio.
(Rui Martins/Especial para brpress)