Acesse nosso conteúdo

Populate the side area with widgets, images, and more. Easily add social icons linking to your social media pages and make sure that they are always just one click away.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

Spike Lee fala sobre Chi-Raq em Berlim. Foto: DivulgaçãoSpike Lee fala sobre Chi-Raq em Berlim. Foto: Divulgação

Spike Lee denuncia violência nos EUA

(Berlim, brpress) - Cineasta fala sobre o que mais lhe choca sobre o tema e fatos que o inspiraram a fazer seu novo filme Chi-Raq, exibido na Berlinale. Por Rui Martins.

(Berlim, brpress) – Chi-Raq, o novo filme de Spike Lee, é uma peça de teatro com lances de comédia musical rap simplesmente espetacular, que denuncia a violência diária nos Estados Unidos, envolvendo tanto negros como brancos. Em Midwest Chicago, morre tanta gente vítima de violência quanto num país em guerra – daí ter sido utilizada a contração das palavras Chicago e Iraque no título do filme (ainda sem previsão de estreia no Brasil).

    Chi-Raq é adaptação de uma peça teatral grega de Aristófanes, Lisístrata, escrita na época da guerra do Peloponeso , envolvendo espartanos e troianos, enfraquecendo o país diante da ameaça de invasão persa. Na peça, Lisístrata, que seria hoje uma líder feminista, consegue convencer a mulheres a lançarem uma greve de sexo, se os homens não pusessem um fim à guerra.

    No filme, Lisístrata, negra de cabelos tipo Angela Davis, mobiliza a população feminina do Midwest Chicago, depois do assassinato de uma jovem. Em defesa da vida de seus filhos ou de seus irmãos, as mulheres declaram greve de sexo. “No peace, no pussy” é o lema, que, numa tradução livre, seria mais ou menos: “Sem paz não há trepada”.

    A situação se torna insustentável porque as mulheres se vestem de maneira ainda mais provocante, com suas coxas, seios e bundas quase nus, provocando desespero e mesmo crises de nervos na população masculina carente de sexo. E o filme mostra a greve de sexo se alastrando pelo mundo, até com feministas de São Paulo com cartazes na linguagem da periferia, prometendo não haver mais “foda” se continuar a violência.

    Logo depois da sessão de Chi-Raq no 66o. Festival Internacional de Cinema de Berlim, Spike Lee foi se encontrar com a imprensa e denunciou a violência nos Estados Unidos. Seguem alguns trechos selecionados.

Houve um aumento da violência nos EUA?
Spike Lee – Só no mês de janeiro deste ano, foram assassinadas 53 pessoas nos EUA – num aumento de mais de 80% sobre o ano passado. Já morreram neste ano 90 pessoas e, só nesta semana, 17 foram mortas a tiros.

Estes dados se refletem em protestos nos EUA?
SL – A juventude atual parece insensível à violência, que está por todos os lados. Nos jogos, nos vídeos, na televisão, na música, a violência é glorificada e se faz na mídia a apologia da violência de uma maneira atroz, de tal forma que, em Chicago, se tem a impressão de um retorno à selvageria.

Quais fatos mais te chocam nessa violência?
SL – Quando há troca de tiros, se contam os disparos como se fosse um videogame, dando a impressão de que,  para tais pessoas, a vida não tem nenhum valor. Seja por tendência social ou por falta de melhor educação, isso é muito triste. A referência dos jovens se tornou os games. Os EUA se tornaram um país extremamente violento e as estatísticas de mortes dão a impressão de haver combates nas cidades.

E se Donald Trump for eleito presidente dos EUA?
SL – Bom, por enquanto ele é apenas candidato a candidato. Certos Estados americanos se utilizam da violência, considerando-a legítima quando isso lhes convém. Uma das razões dessa violência é o dinheiro e a ganância dentro da sociedade americana. E essa violência ocorre também entre os brancos. E é sempre assim, entre a vida humana e o dinheiro, é sempre o dinheiro quem ganha nos EUA. No setor público, a privatização faz com que as estruturas sejam deixadas ao abandono.

Você pretende mesmo boicotar o Oscar 2016?
SL – Eu e minha mulher decidimos não ir à cerimônia do Oscar – não se trata de convocarmos um boicote. Simplesmente nós não iremos. Cada ano, há 20 indicações para o Oscar. Ora, nos últimos dois anos, não houve nenhuma indicação para atores negros. Como se pode chamar isso? Nos esportes, ocorre o inverso, há muitos negros. E tudo ia ser feito em silêncio, se eu e outros não tivéssemos protestado.

Dá para comparar o júri do Oscar ao de Berlim?
SL – Veja bem, aqui em Berlim, são sete jurados, mas no Oscar são 1500 jurados, sobre os quais são exercidas pressões e do lobby.É como são as coisas: dois meses de filmagens e depois o resto do ano são prêmios e promoções do filme. Portanto, não vamos exagerar também na importância do Oscar. É uma tradição do passado. O problema do Oscar são os seus guardiães ou responsáveis. Esse pessoal de alto nível, produtores nos estúdios, nas redes de televisão e do mundo do cinema, se reúne cada três meses e decide o que vamos ver, e depois enviam seus representantes ao júri. Falta diversidade própria do cinema. Foi o que eu disse ao receber o Oscar honorário.

Qual é, na sua opinião, esse modelo de curadoria do Oscar é sustentável num mundo cada vez mais diverso?
SL – As estatísticas dizem que, em 2026, os americanos brancos serão minoria. Ora, mesmo se não acreditam na diversidade, sei que acreditam na força sacrossanta do dinheiro e do dólar, mas se não levarem em contra essa mudança de maioria demográfica, esse modelo será catastrófico porque existe um mercado enorme a se levar em consideração.

A violência aumentou nos EUA depois do 11 de Setembro?
SL –  Depois do 11 de Setembro a violência se espalhou pelo mundo, não só nos EUA. Por essa razão, eu não votarei naqueles que utilizam a violência com o objetivo de salvar a economia. Se for para votar num democrata contra Donal Trump, eu votarei democrata, com preferência para Bernie Sanders, que vem do Brooklyn. Outra coisa: o presidente dis EUA viaja sempre com uma maleta onde está o código secreto no caso de guerra nuclear. Imagine se  Donald Trump tem acesso a essa maleta. Isso dá medo!

Esta entrevista também foi licenciada e publicada pelo Diário de Cuiabá. Leia também no Issuu da brpress.

Leia mais sobre Chi-raq e assista ao trailer do filme aqui.

(Rui Martins*/Especial para brpress)

REPRODUÇÃO TOTAL E/OU PARCIAL DESTE CONTEÚDO SOMENTE AUTORIZADO PELA BR PRESS.

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate