Nobre dobradinha
(brpress) - Saiba como preparar – e apreciar – a iguaria portuguesa com feijão branco: uma adaptação mineira das Tripas ao Porto. Por Marcus Campos.
Marcus Campos*/Especial para brpress
(brpress) – Antes de mais nada, menos preconceito com a popular dobradinha, por favor. O atual e tão desprovido de glamour “bucho” merece respeito, pois tem uma nobre história. Com algumas supressões, substituições e acréscimos, originou-se da receita portuguesa e tornou-se uma iguaria menos misturada e mais marcante, de inigualável sabor.
Pelos idos de 1700, no amanhecer do século 18, após as aventuras de Fernão Dias sob a bandeira portuguesa, pelo interior das Gerais, finalmente foram descobertas grandes jazidas auríferas, atraindo colonos que para cá vieram e foram se estabelecendo, criando os primeiros povoados que, com o ciclo do ouro, tornaram-se arraiais – alguns, por suas riquezas, chegaram a ser elevados a progressivas e importantes vilas.
Povaréu faminto
Para cá migraram toda sorte de gente, aventureiros, senhores e seus escravos, comerciantes portugueses, e patrícios filhos de boas famílias (falidas) para ocupar os vários cargos públicos disponíveis e zelar pelos interesses da Coroa (e os seus próprios, é claro!).
Nesta época, em decorrência do aumento da população, havia uma enorme escassez de alimentos, fazendo com que os preços exorbitassem – ao ponto de uma simples galinha chegar a custar 20gr de ouro.
Tripas ao Porto
Esses fidalgos de vestimentas elegantes, gestos afetados e fala polida, muitos deles oriundos da cidade do Porto, também tinham um apurado e saudoso paladar das iguarias da “terrinha”, sendo a principal delas a até hoje tradicional Tripas ao Porto.
Deste prato tão apreciado, que mistura à dobrada (dobradinha) toucinho, galinha, vitela e chouriço, originou-se a nossa atual e saborozíssima dobradinha.
Vamos fazer?
Ao comprar a dobradinha (1 kg) prefira as já limpas e cortadas, encontradas nos supermercados, o que facilita em muito o preparo. Corte os pedaços em tiras e as tiras em pedaços. Ponha a cozinhar em água levemente salgada, com uma folha de louro, numa panela de pressão por uns 40 minutos ou até que fique bem macia.
Deixe o feijão branco (200gr) de molho por uns 30 minutos e cozinhe na pressão por outros 30. Numa panela de pedra (se possível) frite cubos de bacon até dourar, adicione uma cebola grande picada, três dentes de alho amassados, ponha uma pitada de colorau e frite rodelas de linguiça portuguesa (embutido em forma de ferradura levemente defumado).
Junte a dobradinha com o caldo do cozimento, misture, acrescente o feijão branco e deixe ferver por uns dez minutos, para apurar o tempero. Uma pimenta dedo-de-moça ou chifre-de-veado, a seu gosto, dá um realce especial. O caldo deve ficar mais consistente.
Decore com salsa e cebolinha picadas e sirva acompanhada de arroz branco e angu mole.
(*) Marcus Campos é gourmet e cozinheiro ocasional, chef-mor entre os sempre gulosos comensais da brpress. Fale com ele pelo email [email protected] , pelo Twitter @brpress ou pelo Facebook. Colaborou Angélica Campos/brpress.