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FOTO - Burca: vale a pena proibir?operationitch.files.wordpress.comFOTO – Burca: vale a pena proibir?operationitch.files.wordpress.com

Com ou sem burca?

(Genebra, brpress) - Barcelona é primeira cidade espanhola a proibir centenas de mulheres vestidas como um pacote; Bélgica já proibiu, França pretende proibir, depois será vez da Suíça. Por Rui Martins*.

Rui Martins*/Especial para brpress

(Genebra, brpress) – Você já ouviu falar em burca? Provavelmente sim – e não apenas durante o início da guerra do Afeganistão. É uma roupa feminina que sem ter desfilado nas passarelas, sem ter sido desenhada por um estilista como Jean Paul Gaultier, sem promoção pelas revistas Elle ou Marie-Claire, ocupa constantemente a primeira página dos jornais europeus.

 A burca é um traje inteiriço, sem franjas, desenhos ou pregas, que cobre a mulher desde o alto da cabeça aos pés. Como a mulher precisa respirar, existem uns furinhos à altura da boca e do nariz. E como a mulher  precisa ver por onde anda, existe uma abertura retangular, longa como a distância entre os olhos e larga de apenas dois centímetros.

 Essa é a burca, quase sempre de cor preta, tecido não transparente, na qual o marido muçulmano fundamentalista encobre o corpo e o rosto de sua bem-amada, para que ela possa sair às ruas ou para fazer compras, passear os filhos ou simplesmente dar uma volta pela praça da cidade.

 Não regulamentada

 O uso da burca não foi regulamentado pelo Corão, pois nos escritos do Profeta não se fala nessa vestimenta extrema, , bastante usada no Afeganistão – sob o regime do Talibã – e em alguns países do Oriente Médio e onde mais predomine o fundamentalismo religioso muçulmano. Por isso, a burca é causadora de discussões nos Parlamentos dos países europeus.

 Discute-se se o preceito ocidental da liberdade individual inclui o de mulheres fechadas dentro de uma túnica, que impede mesmo sua identificação. E ainda: se a mulher, como  que embalada com um pacote, assim se veste por convicção própria ou se a isso foi obrigada pelo marido religioso ciumento ou pelo pai zeloso.

 Multa e prisão

 Esta semana, Barcelona foi a primeira grande cidade espanhola a banir a burcaem prédios municipais, por dificultar identificação e não devido questões religiosas. Na Bélgica, onde é grande a presença das comunidades muçulmanas, muitas delas vivendo à parte da sociedade belga mas sem nelas se integrar, o Parlamento decidiu proibir que os “vestidos” saiam às ruas sob pena de multas e de prisão.

 Na Itália, algumas províncias já baixaram idêntica proibição. Na França, existe um projeto-de-lei para indexar a burca, e na Suíça, onde já se proibiu os minaretes, é provável um próximo voto popular contra o uso desse assustador e opressor vestido.

 Entre os próprios muçulmanos as opiniões divergem – a grande maioria é contra a burca por não haver nenhum escrito do Profeta impondo essa “moda” feminina. As mulheres religiosas ou as que vivem nos países árabes só devem usar o chamado chador, véu que cobre a cabeça e se fecha embaixo do queixo, cobrindo também o pescoço.

 É verdade que algumas mulheres muçulmanas liberais, geralmente intelectuais – como a anglo-iraniana Doris Lessing, Prêmio Nobel de Literatura em 2007 – criticam essa exigência do véu, que também inclui o uso de mangas compridas e de saias até os pés. Mas as críticas ecoam só quando vivem na Europa. Caso contrário, podem ser alvo de represálias nas ruas, como lhe jogarem ácido no rosto ou mesmo serem presas por atentado ao pudor ou acabarem como alvo de uma fátua ou condenação à morte.

 E então: deve-se ou não proibir às mulheres o uso desse traje extremo? Quantas mulheres saem vestidas de burca nas ruas européias? Dizem que na França não chegam a mil, na Bélgica e na Suíça algumas centenas e daí a pergunta: por que tanto alvoroço?

 Burca fashion

 Em Londres, é comum ver mulheres de burca às compras – algumas com detalhes fashion, como bordados e brilhos. Ou seja: já existe até a burca glitter – pelo menos na sempre ousada, inventadora e lançadora de moda capital britânica.

 Em lugar de se encarar a burca como símbolo religioso, por que não considerar a burca simplesmente como uma escolha de como se vestir? Ainda há 50 anos, todas as viúvas e senhoras idosas portuguesas, espanhola e gregas cristãs vestiam-se de preto com seu chalé na cabeça e, hoje, esse hábito vai desaparecendo.

 Proibir cria resistências. Deixar ao critério de cada mulher, permitirá que muitas delas – se conseguirem escapar ao autoritarismo do marido, do pai, dos irmãos e das sociedades fundamentalistas mulçulmanas – avaliem se é essa a maneira adequada de se vestir no Ocidente.

 Confinamento acentuado

 Outra coisa: se proibirem que saiam às ruas essas mulheres serão obrigadas a ficar confinadas em casa e não terão sequer a chance de serem tentadas a experimentar uma outra maneira de viver. Haverá sempre momentos nos quais elas terão de descobrir o rosto, seja nos bancos, nos cartórios, nas repartições públicas ou nos aeroportos para se identificar.

 E é claro: se existem professoras lecionando com chalé e mesmo parlamentares com chador em alguns países europeus, não será possível exercer qualquer profissão dentro de uma burca.

 Em lugar de se pressionar, talvez o melhor seja deixar o excesso e o ridículo mostrarem que a mulher de rosto e corpo livre são uma conquista da nossa civilização, onde já não se discute mais o uso disso ou daquilo mas a igualdade total entre homens e mulheres, principalmente  nos salários.

(*) Colaborou Juliana Resende, da brpress, em Londres.

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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