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Aquiles Alencar-BraynerAquiles Alencar-Brayner

Joaquim Barbosa vê raridades na Biblioteca Britânica

(Londres, brpress) - Presidente do STF "ficou fascinado pelos tesouros literários – acho que a coleção brasileira o supreendeu", diz curador brasileiro que guiou visita. Por Juliana Resende.

(Londres, brpress) – Teve tempo para o chá, mas a visita do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, à Biblioteca Britânica (British Library), na tarde da última terça (28/01), foi curta para que o ministro visse todos os tesouros literários que a coleção – especialmente a brasileira – guarda. “Ele ficou fascinado pelos nossos tesouros – acho que a coleção o supreendeu”.

    As informações foram dadas à brpress pelo único brasileiro que trabalha na curadoria da maior biblioteca do planeta: o cearense de Fortaleza Aquiles Alencar-Brayner, atual curador digital da British Library, que selecionou algumas raridades da coleção brasileira para Joaquim Barbosa admirar. “É a melhor coleção do  mundo sobre o Brasil, depois da Biblioteca Nacional. no Rio”, diz Aquiles, não escondendo sua simpatia por Joaquim Barbosa.

    .”O ministro é uma pessoa de vasta cultura, muito erudito”, observou Aquiles, ex-curador da acervo latino-americano da na biblioteca. O interesse do ministro era, principalmente, visitar a Carta Magna – documento original de 1215, que marca o fim do absolutismo, tendo inpirado a constituição dos Estados Unidos e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e que completa 800 anos  em 2015 com uma exposição reunindo os outros três exemplares existentes no mundo na Galeria dos Tesouros.

‘Constituição’ para escravos

    Outras obras de cunho jurídico foram incluídas no roteiro de Barbosa, como  o Projecto de Constituição Para o Imperio do Brasil, de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada Machado e Silva (1823), e Constituiçoens Primeyras do Arcebispado da Bahia, considerada a primeira “constituição” brasileira, datada de 1707, numa tentativa de “regulamentar” direitos religiosos e de casamento dos escravos (leia trecho abaixo).

    Mas, segundo Aquiles,  o  que mais parece ter animado Barbosa foi a edição em couro e acabamento de ouro, rica em ilustrações, que registra o casório do Rei Henrique II e Catarina di Medici, na França, em 1551: C’est La Deduction du Sumptueux Ordre é o título da obra, a primeira a trazer representações de índios brsileiros impressa na França. “Um parque temático que incluia o Brasil foi construído, tendo, inclusive, índios brasileiros em carne e osso, trazidos especialmente à França para a festa”, conta Aquiles.

Segundas intenções

    “O ministro até brincou e disse que o verdadeiro objetivo de Catarina era ser imperatriz do Brasil”, revela Aquiles. E por falar em intenções “régias”, Joaquim Barbosa chegou a dizer que estaria “se divertindo” com as especulações da imprensa brasileira de que ele teria a interção de ser candidato à presidência da República, negando veementemente essa possibilidade. Ele também reclamou do espaço dado pela imprensa brazileira aos condenados do Mensalão.

    Em meio a pergaminhos e mapas, a maioria datando do Brasil imperial, Alencar disse que o Mapa Manuscrito de 1558, c Queen Mary Atlas, assinado por Diego Homem,  e A Arte de Grammatica da Lingoa mais usada na Costa do Brasil, “dicioneario” de tupi guarani escrito pelo padre José Anchieta, em 1595, também chamaram atenção do ministro.  Confederação do Tamoyos, de Gonçalves de Magalhães, impresso pela imprensa régia de D. Pedro II, é um marco da época do indigenismo – febre nacionalista de apropriação da cultura e dos nomes indígenas pelos colonizadores.

Criaturas bizarras

    Livros “enciclopédicos” sobre a vida e os babitantes do então recém-descoberto Brasil também são vedetes da coleção brasileira da British Library, como Historia da Provincia Sa[n]cta Cruz – A Que vulgarme[n]te chamamos Brasil, de Pero de Magalhães Gandavo  (1576), o primeiro livro publicado por um português inteiramente dedicado ao Brasil.

    Dos 14 capítulos de Provincia de Santa Cruz, três são dedicados a descrever o gentio e seus costumes, enfatizando a vida guerreira e o ritual antropofágico. No exemplar da BL, há uma anotação de Gandavo descrevendo “a aparição do monstro marinho Ypupiara, na Praia de São Vicente (SP), morto por um navegador português.

    “São histórias que mesclam relatos reais a questões ligadas ao fértil imaginário europeu sobre o Novo Mundo?, observa Aquiles. “Oa ingleses patrocinaram a vinda da Família Real portuguesa ao Brasil, além de algumas expedições de Maurício de Nassau, então é natutal que a British Library tenha muitas rtaridades desta época”, explica Aquiles, radicado no Reino Unido deste 2008, quando veio fazer doutorado em Literatura Brasileira no King’s College – onde o ministro teve seu último compromisso em Londres: uma palestra-aula sobre o judiciário brasileiro, aberta ao púnlcio e com lotação esgotada. Leia mais aqui sobre a palestra de Barbosa.

(Juliana Resende/brpress)

TRECHO DE OBRA RARA DA COLEÇÃO  BRASILEIRA DA BRITISH LIBRARY

Um trecho de Constituiçoens Primeyras do Arcebispado da Bahia, considerada a primeira “constituição” brasileira, datada de 1707, numa tentativa de “regulamentar” direitos religiosos e de casamento dos escravos, diz o seguinte:

“Conforme o direito divino e humano, os escravos e escravas podem casar com outras cativas ou livres e seus senhores lhe não podem impedir o matrimônio nem o uso dele em tempo e lugar conveniente, nem por esse respeito os podem tratar pior, nem vender para outros lugares remotos, para onde o outro, por ser cativo ou por ter outro justo
impedimento, o não possa seguir, e, fazendo o contrário, pecam mortalmente e tomam sobre suas consciências culpas de seus escravos, que por este temor se deixam muitas vezes estar e permanecer em estado de condenação”, escreve D. Sebastião Monteiro de Vide.

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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