
Akram Khan e Israel Galván: arrebatadores
(São Paulo, brpress) - Assim é espetáculo Torobaka, da dupla que mescla dança indiana e flamenco, que abriu o Festival O Boticário na Dança, em São Paulo e nesta sexta se apresenta no Rio. Por Juliana Resende.
(São Paulo, brpress) – Arrebatador. Nenhuma outra palavra é capaz de definir tão bem o espetáculo Torobaka, da dupla de bailarinos Akram Khan e Israel Galván, que abriu o Festival O Boticário na Dança, em São Paulo e nesta sexta se apresenta no Rio.
Largue tudo o que estiver fazendo e corra para o Theatro Municipal carioca viver a experiência que estes dois dançarinos endiabrados passam ao público. Misturando flamenco e khatak (Índia), raízes culturais espanholas e indianas (Galván é da Andaluzia e Khan é inglês filho de bengaleses), música ao vivo com instrumentos tradicionais e uma técnica impecável, Torobaka (touro e vaca, animais sagrados em ambas as culturas) tem como inspiração uma poema fonético maori de Tristan Tzara.
O resultado é um dadaísmo dançado, qeu, de tanta beleza e força, pode levar o espectador às lágrimas. Khan e Galván rodopiam como peões, num duelo simbólico entre o touro e a vaca. Batem dos pés à cabeça no chão, entoam cânticos, soltam urros, transformam todos os aspectos ritualísticos em energia pura.
“A tradição me interessa, mas às vezes sinto que é como uma foto do passado. Quero ela viva”, diz Khan – o mais endiabrado da dupla. “Flamenco é uma espécie de religião, da qual não se pode sair. Mas sempre houve gente que dançava de uma forma diferente. Quero dançar para as pessoas, não para essa religião”, diz Galván.
Do sagrado ao pop
Khan transformou a dança clássica indiana unindo-a às mais diversas influências, da dança japonesa a Michael Jackson, seu ídolo na adolescência.Transformou-se também em um dos mais aclamados criadores contemporâneos. E incorporou outros ídolos, como cineastas cult. Cita Stanley Kubrick e David Lynch e afirma que Torobaka é como uma mistura dos filmes desses diretores.
A comparação soa estranha, mas é justamente um pouco de estranheza que pretende causar com o espetáculo. “Há momentos um pouco absurdos, surreais. Galván também questiona suas origens, sem renegá-las. “É flamenco, mas não é igual a todos os outros”, diz Galván. Não mesmo.
Ao final do espetáculo – adorado pela maioria e tachado de “muito longo” por poucos –, a traseira do palco do Auditório Ibirapuera, em São Paulo, abriu para o parque deixando entrar a brisa fria da noite na plateia e integrando as árvores ao espetáculo, que, apesar do espírito cigano, reverencia a terra. Foi lindo.
(Juliana Resende/brpress)
Mais sobre o Festival O Boticário na Dança 2015 aqui.
Assista a um trecho de Torobaka:
Veja como é o processo de criação de Akram Khan e Israel Galván (em inglês):