Estefania Miranda: ponto de contato com o Brasil
(Berna, brpress) - Coreógrafa do Teatro de Berna que trabalhou com Ismael Ivo e Gerald Thomas encena impressionante versão de O Castelo, de Kafka. Por Rui Martins.
(Berna, brpress) – Quem acompanha a dança no Brasil deveria ter a chance de assistir ao espetáculo O Castelo, inspirado na obra de Kafka, coreografado por Estefania Miranda, diretora de dança e coreógrafa do Teatro de Berna, na Suíça, há dois anos.
A carreira da chilena Estefania Miranda, iniciada em Edimburgo, na Escócia, e Tilburgo, na Holanda, tem pontos de contato com o Brasil. Ela trabalhou diretamente com o famoso bailarino e coreógrafo teuto-brasileiro Ismael Ivo, com quem fez turnê no Brasil. Outra referência ligada ao país é Estefania ter trabalhado com o diretor de teatro Gerald Thomas, em Nova York.
Criatividade e originalidade
Seu currículo é enorme e internacional e sua criatividade e originalidade são marcantes. A prova é a maneira como coreografou e transformou num espetáculo de dança um dos livros mais profundos de Kafka. O Castelo denuncia os complicados e tortuosos caminhos da burocracia e a angústia de seu personagem envolto numa trama da qual não consegue se desvencilhar.
Transplantar um livro de Kafka para a dança e transmitir com a coreografia o mesmo clima do livro para o público poderia parecer missão impossível. Entretanto, apoiada nos sons e na música eletrônica de Jeroen Strijbos e Rob van Rijswijk, Estefania Miranda transporta para o palco o pesadelo kafkiano, com a presença marcante de Winston Ricardo Arnon.
Latino-americano
O bailarino Winston Ricardo Arnon nasceu no Suriname, antiga colônia holandesa na América do Sul, estudou dança em Amsterdã e Londres, na Escola Laban e faz parte do corpo de baile do Teatro de Berna, Suíça. Ele e mais 17 dançarinos, a maior parte do tempo encapuçados, rodopiam numa atmosfera sombria de penumbra e mistério. E não faltaram os coleópteros – ou as famosas baratas – numa alusão ao mesmo delírio de Kafka, no seu livro mais conhecido, Metamorfose.
Os dançarinos rastejam em volta de K, o personagem do livro, contratado para trabalhar no Castelo, no qual nunca consegue entrar. Mas é num espaço fechado que K se sente assediado, ameaçado, quase atropelado pelos habitantes do vilarejo circundante do Castelo.
Os encapuçados assumem a representação do negativo, dos opressores, dos maus, do mal e por coincidência ou desejado por Estefania Miranda, se vestem todos de negro como os integrantes do grupo terrorista Estado Islâmico, razão pela qual a coreografia parece ter saída da atualidade.
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