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Thiago Soares em cena de Roots. Foto: DivulgaçnaoThiago Soares em cena de Roots. Foto: Divulgaçnao

Um Thiago Soares ‘made in Brasil’

Concebido no Rio com artistas locais, Roots, estrelado pelo solista brasileiro do Royal Ballet, tem nova e curta temporada. Por Juliana Resende

(Rio de Janeiro, brpress) – Rio, 40 graus. O bailarino carioca Thiago Soares, solista e astro do Royal Ballet de Londres, rodopia no linóleo da sala de ensaios de uma renomada companhia fluminense. Sem ar condicionado, dois ventiladores se encarregam de “refrescar” o ambiente. Thiago e o dançarino Danilo D’Alma ensaiam Roots, um pas-de-deux masculino, que lotou os mais de mil lugares do Teatro João Caetano, de onde se despede neste final de semana. 

É a última chance de assistir ao espetáculo que estreou em julho de 2016, também no Rio, e (pelo menos por enquanto) não tem previsão de viajar pelo Brasil ou exterior. Ver Thiago Soares depois de Roots só em Londres – ele dança a eletrizante Mayerling, coreografia de Kenneth MacMillan, na temporada de abril da Royal Opera House.

Contemporâneo e urbano

Mas até o dia 22 de janeiro, quando encerra a temporada de Roots, Thiago deixa os príncipes e mitos clássicos de lado para viver um de nós, com garra, suor e a visceralidade que o cotidiano brasileiro exige. 

Roots, que mescla clássico e dança de rua – onde estão as raízes de Thiago Soares e o trunfo de Danilo D’Alma (integrante do Grupo de Rua de Niterói) – foi concebido pelo bailarino como um reencontro: dele com o Rio, com parceiros das antigas, como o diretor Ugo Alexandre, com novos talentos, como o próprio D’Alma e o codiretor Renato Cruz (da Cia. Híbrida), além do músico Pedro Bernardes, que executa a trilha sonora ao vivo.

Roots é intenso, emocional, úmido e profundo – talvez uma mistura do inconsciente de Thiago Soares e da catarse coletiva carioca. 

Roots também é contemporâneo e urbano, com uma atmosfera underground, dark, que se intensifica com os movimentos rápidos dos dois bailarinos em cena e a pegada eletrônica dos sintetizadores de Bernardes.

Justamente o oposto do que Thiago Soares tem feito na companhia clássica londrina e em outros trabalhos na Europa. Roots é “made in Brasil”, de sua concepção ao resultado final. Um Brasil contemporâneo, que deu certo – pelo menos no universo da dança.  

Conversamos com Thiago Soares a primeira vez em 2008, em Londres, quando ele já era uma estrela em ascensão no Royal Ballet. Já havia ganhado diversos prêmios, como a Medalha de Prata no Paris International Dance Competition (1998), Medalha de Ouro no Moscow International Ballet Competition (2001) e o Critics Circle National Dance Award de melhor bailarino clássico no Reino Unido (2005). Seu sorriso generoso de moço de Vila Isabel deixava claro um misto de humildade e obstinação. 

Pé no chão

O Thiago de 2017 continua com os pés no chão – apesar das piruetas e da leveza com que salta e sobe como um foguete no disputado mundo da dança clássica. Aos 35 anos, dançando num circuito que inclui as melhores casas de ópera europeias e sem a menor intenção em se reestabelecer no Brasil nem de pendurar as sapatilhas,

Thiago recebeu a brpress com a mesma generosidade do começo de sua carreira “começando por baixo no Royal”, como ele frisou à época, agora suando de bica no intervalo dos ensaios de Roots, no Rio. 

 Aqui vão os melhores trechos do papo com o “puro sangue” – como Deborah Colker definiu o melhor bailarino brasileiro da atualidade. Ele ri quando citamos esse comentário da coreógrafa, com quem Thiago dançou Paixão, em 2015, numa turnê pelo Brasil. “Dançar com ela foi uma das melhores experiências da minha vida”, diz. 

Como você avalia sua trajetória?

Thiago Soares – A vida se relaciona profundamente com a arte quando se vive exclusivamente dela. Estava num momento de mudança em minha vida pessoal, com uma série de rearranjos e, nesse contexto, Roots serviu como um balanço: de onde vim, onde estou e para onde vou. Mas o barato é que o espetáculo não se limitou a algo pessoal e foi virando algo colaborativo, com o Danilo e Pedrão (o músico Pedro Bernardes, que faz a trilha ao vivo), e o resto do time.

Qual é o papel de Roots na coreografia da sua maturidade artística?

TS – Estar aqui fazendo esse espetáculo já é, por si só, uma vitória. O espetáculo nasceu de um reencontro com um grande amigo, [o diretor] Ugo Alexandre, que me introduziu no mundo da dança urbana. E nesse reencontro com o Ugo, eu me reencontro comigo mesmo, com aquele Thiago da Zona Norte do Rio de Janeiro, que tomou um rumo lírico, no balé clássico, mas que agora se reencaixa nesse cotidiano que me define na minha essência. Na verdade, Roots é um espetáculo terapêutico para mim, ao refletir quem sou.

Você já conhecia Danilo D’Alma dos seus tempos de dança de rua no Rio?

TS – Eu não o conhecia, mas o Ugo Alexandre disse ‘esse é o cara”. Estava indo para Paris e pegamos Danilo no meio do caminho para o aeroporto e, na primeira conversa, nosso santo bateu instantaneamente. Daí eu fiz meu check in e nós sentamos pra comer um lanche e já estruturamos o que viria a ser Roots. 

O que define Roots?

TS – Eu sempre dancei em companhias de fora, de repertório europeu e eu queria fazer um balé para rapazes que fosse nacional: com trilha e artistas brasileiros, que fosse feito aqui. Roots traz a gente de preto, tem essa pegada underground, mas ele tem a bandeira do Brasil estampada. O espetáculo define o meu momento, as minhas raízes e celebra essa brasilidade contemporânea. 

Quando você decidiu começar a se aventurar em trabalhos fora do repertório tradicional, depois de se consolidar como bailarino clássico? 

TS – Quando fiz Paixão (2015), com Deborah Colker, para marcar meus 15 anos de carreira. Foi aí que fiz La Bala, uma versão louca e em balé do filme Brokeback Mountain, criada especialmente para mim pelo coreógrafo português Arthur Pitta. Acho que chega a um ponto, depois de 182 apresentações de O Quebra-Nozes, que você começa a se questionar: para onde vou agora?

O que fará depois de Roots? Algum plano para os 20 anos de palco, quando você terá 40?

TS – Volto para Londres onde vou gravar um DVD de Diamonds (uma das três coreografias do balé Jewels, de George Balanchine), dançar After the Rain (de Christopher Wheeldon, com música de Arvo Pärt) e depois Mayerling, de Kenneth MacMillan, num dos meus papéis clássicos preferidos (Rudolf, o emocionalmente instável príncipe do império austro-húngaro, forçado a ser casar com a princesa Stephanie, e que acaba cometendo suicídio). Pretendo dançar até onde der, mas, ao parar, quero que seja com dignidade. 

(Juliana Resende, brpress)

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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