Daniel Lee reempacota bagagem de 167 anos da Burberry
Début mais esperado da London Fashion Week Out-Inv23, desfile foi moderno e fiel à herança da marca, mas não empolgou fashionistas. Por Andrea Kirst
(Londres, brpress) – Quebrar um ciclo ou reinventar algo tradicional é certamente uma missão difícil para qualquer designer que assume a direção criativa de uma marca estabelecida. É preciso inovar e ao mesmo tempo dar continuidade a uma imagem, conceito, códigos e estilo construídos ao longo de décadas. No caso da Burberry, a maior casa de moda de luxo britânica, essa herança é de 167 anos. E foi com ela que o estilista inglês Daniel Lee costurou a nova coleção apresentada na London Fashion Week Outono-Inverno 23.
Como seus antecessores, Lee optou por reempacotar a bagagem carregada desde a época de Thomas Burberry, fundador da marca. A Burberry sempre teve o foco em roupas para usar ao ar livre (outdoors), destacando casacos, sobretudos e jaquetas impermeáveis. Tanto que seu carro-chefe são os trench-coats longos em gabardine de algodão, que custam a partir de 1.700 libras, cerca de R$11 mil). Recente e certeiramente, a Burberry também investiu em perfumaria, cosméticos e acessórios.
Estratégia na Bottega
Numa tenda montada no sul do Tâmisa especialmente para o desfile, Daniel Lee colocou para jogo um case de sucesso: reinventou a Bottega Veneta, marca italiana sonolenta e tradicional, com seu design vanguardista. Seu trunfo foi alinhar a herança artesanal em couro da Bottega a a cores vibrantes, tornando sapatos e bolsas desejados por uma clientela moderna e jovem.
Na Burberry, Daniel Lee quer agradar este mesmo público com sua visão de vanguarda – um um pouco diluída pela pesada bagagem da marca. O que se viu foi uma coleção extensa, casual e focada no streetwear. Os famosos xadrezes ganharam cores fortes contrastando com tons escuros. Houve ainda vestidos com estampas mais leves e claras, com patos e o cavaleiro da “nova-velha” logomarca (Equestrian Knight Design – EKD) no novo azul.
Sapatos, bolsas e echarpes
O primeiro look, com um casaco pesado de gola de pele verde, foi usado com uma bolsa também de pele e botas no mesmo tom. Vários outros looks seguiram esta composição: sapatos, bolsas e echarpes complementando a combinação.
São bolsas que remetem à tradição inglesa da caça à raposa, com “rabos” de pele ou mochilas práticas em tecidos resistentes; echarpes gigantes funcionam como capas; sandálias têm salto médio e base com pêlos (remetendo às Birkenstock com pele – coqueluche atual entre os jovens britânicos; botas, tênis e mocassins são enfeitados com uma rosa – outro símbolo da marca e da Inglaterra.
DNA londrino
Londres foi inspiração da direção de arte da nova campanha da coleção Heritage (herança) da Burberry, que rejuvenesce seu DNA com clássicos com um visual ultramoderno e casting estrelado. Daniel Lee declarou que se inspirou na “imensa criatividade que vem das ruas londrinas” e que quis “ser positivo” (num momento em que a economia do Reino Unido luta contra a inflação, tenta se recuperar do impacto da Covid e lidar com o Brexit).
Além de agradar a clientela e os fashionistas – que não suspiraram com o que viram na passarela –, o novo CEO, Jonathan Akeroyd, e o conselho administrativo da Burberry esperam que seu novo diretor criativo turbine o faturamento em cerca de 5 bilhões de libras (cerca de R$ 30 bilhões) até 2025.
Quem sabe este contexto, que torna a tarefa de Daniel Lee ainda mais hercúlea, o ajude a libertar a marca de carregar uma bagagem muito pesada por muito mais tempo.
(Andrea Kirst, especial para brpress)
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