WikiLeaks vaza de novo
(brpress) - Publicação de cinco milhões de e-mails confidenciais Stratfor mostra atividades da empresa de espionagem da envolvendo governos, empresas e jornalistas.
(brpress) – “É com grande decepção pessoal que os informo que renuncio ao meu cargo como CEO da Stratfor”. A declaração foi feita ao final da noite do último domingo (26/02), por George Friedman, então chefe de inteligência, superintendente financeiro e CEO da Stratfor – empresa de inteligência e análise estratégica ligada ao governo dos EUA. A razão para Friedman se autoejetar do cargo: minutos antes o site WikiLeaks anunciara a publicação do The Global Intelligence Files, cinco milhões de e-mails confidenciais da empresa.
Conhecida como a “CIA paralela”, a Stratfor é uma empresa privada que compra e vende informações, incluse provenientes de espionagem industrial. Em seu portifólio estão peças fundamentais do governo norte-americano e empresas ao redor do mundo. Os e-mails que a colocam na berlinda, datados entre julho de 2004 e de dezembro de 2011, segundo o WikiLeaks, desnudam uma estrutura de suborno e técnicas de lavagem de dinheiro.
“Eles revelam o funcionamento interno da empresa e, como um editor de inteligência, fornece serviços confidenciais de grandes corporações”, diz o WikiLeaks em um comunicado à imprensa divulgado em Londres. Os documentos permitem compreender como a Stratfor acessa informações exclusivas providas por alto escalão de governos e empresas, além de jornalistas, em troca de dinheiro. Por exemplo, o material apreendido no covil de Bin Laden após sua eliminação e os relatórios sobre o estado de saúde de chefes de Estado.
“Controle financeiro, sexual ou psicológico”
O WikiLeaks aponta ainda a existência de provas confidenciais que ligam empresas de setores estratégicos, como farmacêutico e bélico – entre elas a Dow Chemical, Lockheed Martin e Raytheon – e agências governamentais. Neste particular aparecem o Departamento de Segurança Interna, os fuzileiros navais e a Agência de Inteligência de Defesa dos EUA, e uma rede de informantese agentes dispostos a tudo para conseguir aquilo que a Stratfor deseja.
“Você tem de ter controle sobre ele. Controle significa controle financeiro, sexual ou psicológico… Isso é para começarmos nossa conversa na sua nova fase”, teria dito o CEO George Friedman para a analista da Stratfor Reva Bhalla, no dia 06 de dezembro de 2011, sobre como explorar um informante da inteligência israelense para obter informações sobre o real estado de saúde do presidente venezuelano Hugo Chávez.
O próprio WikiLeaks é investigado em mais de quatro mil emails. A rede de ativistas Yes Men, de Bhopal, na Índia, segundo revela o WikiLeaks, também foi investigada pela Stratfor, numa tentativa de minar as atividades online organizada das vítimas da catástrofe de 1984 – o pior acidente global da história da indústria do gás, que deixou milhares de feridos e mortos, depois que uma nuvem tóxica vazou –, que querem indenização.
Brasil
Segundo e-mails obtidos pelo WikiLeaks, o Brasil está pronto para apoiar a Argentina em sua reivindicação sobre as ilhas Malvinas. Com a manchete “Brasil quer Inglaterra longe das Malvinas”. O jornal argentino Página 12, mostra que o anúncio, em 2009, sobre o início da perfuração em águas argentinas, perto das ilhas Falkland, desencadeou extenso diálogo entre analistas e espiões da Stratfor.
Em trecho divulgado pelo jornal argentino, representantes de Brasil e Argentina tecem o seguinte diálogo:
Fedirka Allison (Argentina): “Por agora, parece que a YPF-Repsol, Petrobras e Pan American Energy vão participar do exame. Não sei como as coisas vão afetar a associação entre PAE e a British Petroleum (ou se vão afetar). Eu não sei por que, mas acho que o Uruguai está envolvido. (É uma ilusão?)”.
Reva Bhalla (Stratfor): “É muito estranho que a Petrobras esteja envolvida (também é interessante o apoio da Espanha à Argentina). Paulo, você pode reunir análise, informação sobre o que está acontecendo aqui? A participação da Petrobras neste projeto é um apoio muito forte em uma disputa que parece perdida com a Argentina. Por que Petrobras/Brasil?”
Paulo Freire (Brasil): “Sim, eu vou tentar fazer uma análise. O Brasil mencionou várias vezes que o Atlântico Sul é a Amazônia Azul e que nenhum país deveria estar ocupando o norte. Desde que Lula chegou ao poder, o Brasil sinalizou apoio para a Argentina nas Malvinas. Eles não querem o Reino Unido sobre suas reservas de petróleo”.
Reva Bhalla (Stratfor): “Interessante. Então, o Brasil está se posicionando como o protetor da Argentina? Eu acho que eles podem fazer caso suponham que a Argentina está fraca”.
Paulo Freire (Brasil): “Eles acreditam que a Argentina não é uma ameaça. Eles têm mais medo do Reino Unido porque eles se associam com a OTAN. O mais recente plano nacional de defesa do Brasil disse que o Atlântico Sul deve ser uma prioridade para o Brasil na área de segurança”.