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Rio+20 é igual a zero?

(Rio de Janeiro, brpress) - Apesar de fracasso aparente, Rio + 20 endossa economia verde, carro-chefe para "o futuro que queremos”. Por Sérgio Corrêa Vaz.

(Rio de Janeiro, brpress) – A tempestade de críticas ácidas e irritadas com os resultados da Rio+20 começa a estiar por avaliações mais realistas e não tão pessimistas. 

    Criticado por parte da imprensa como “mornos e burocráticos”, os debates nas plenárias de chefes de Estado revelam, entretanto, o endosso ao conceito de economia verde como carro-chefe do desenvolvimento sustentável por parte dos países pobres e emergentes da África, América Latina e Ásia e, especialmente, por aqueles mais ameaçados por mudanças climáticas.  Foi o que se constatou nos pronunciamentos oficiais de mais de 50 delegações na Rio+20.

‘Caiu a ficha’

    Ou seja: as intervenções em plenário revelam que já “caiu a ficha” sobre a gravidade da crise ambiental em grande maioria das delegações internacionais e respectivos chefes de Estado. E, bom sinal, a discussão interminável sobre o papel da produção econômica no aquecimento global (e que conta com o respaldo de pesquisas conduzidas por milhares de cientistas e equipes especializadas no tema) já se desloca para o segundo plano.

    As críticas pesadas disparadas por ONGs ambientalistas, como o Greenpeace, e um leque amplo de cientistas talvez ofusquem, nesse primeiro momento, alguns avanços da Rio+20 não tão inexpressivos a prazo.  Muitos depositaram no anfitrião Brasil esperanças de uma liderança forte para a transição de uma economia verde e na governança mundial para o desenvolvimento sustentável.  Mas esse protagonismo não se confirmou.

    Para não repetir o vexame da conferência de Copenhague em 2009, o documento O Futuro que Queremos, com elaboração liderada pelo Brasil, foi proposto e ratificado sem metas precisas, sem recursos definidos e sem prazos definidos.
Para Yolanda Kakabdse,  presidente mundial da WWF (World Wide Fund For Nature), uma das mais respeitadas ONGs ambientalistas em todo o mundo, o documento final é “fraco, sem alma e sem ossos”. 

Desperdício

    Segundo ela, “se os governos não forem capazes de preencher o vazio do documento e cumprir com sua missão, então (o espaço) terá que ser preenchido com ações da sociedade civil e do setor produtivo”. Para o diretor geral da entidade, Jim Leape, “com poucos países dispostos a pressionar para a ação, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, escolheu por conduzir um processo sem conteúdo polêmico – em detrimento do planeta. O resultado é uma oportunidade desperdiçada, um acordo que não conduz o mundo na direção ao desenvolvimento sustentável. A urgência de agir, no entanto, não mudou.”

    Leape aponta uma direção: “Há várias iniciativas animadoras acontecendo em comunidades, cidades, governos e empresas, trabalhando para o desenvolvimento dos pilares para proteger o nosso ambiente, reduzir a pobreza, e nos levar a um planeta mais sustentável.”
Na avaliação da WWF, “a mudança para uma economia global ‘verde’ poderia não somente proteger o planeta dos piores efeitos das mudanças climáticas, mas também seria surpreendentemente acessível em termos de custos financeiros.”

Baixo carbono

    A avaliação, feita há dois anos, em 2009, em estudo conduzido pela WWF e a prestigiada consultoria internacional McKinsey, aponta caminhos para uma economia de baixo carbono [LINK ttp://www.worldwildlife.org/climate/WWFBinaryitem11334.pdf].
 
    Mesmo assim, e ainda cercado de difíceis divergências, meios de implementação para mudanças reais ganham o primeiro plano no debate internacional entre líderes de países, especialistas e ONGs. Países europeus hesitam em apoio concreto; EUA, Canadá, Rússia e Venezuela criam obstáculos para avanços e diversos países petrolíferos do Oriente Médio se insurgem frontalmente contra idéia de economia verde.

    Entretanto, de forma tímida, delegações de países pobres e com poucos recursos energéticos tomam a dianteira e assinalam que economia verde poderá ser a grande saída para conciliar a bandeira de erradicação da pobreza em todo o mundo,  com respeito ambiental e desenvolvimento sustentável. 

Insurgentes

    Em plenário, a delegação do Kuwait lidera, entre países produtores de petróleo, as críticas mais ásperas e frontais à idéia de economia verde. Para esse país do Oriente Médio, que produz 2,5 milhões de barris/dia de petróleo, qualquer limitação à sua economia “nacional” é uma intromissão inaceitável.
   
    Na outra ponta, a delegação da Bolívia fez longo pronunciamento contra a economia verde, que seria uma “precificação” inaceitável da natureza, prejudicando a “Grande Mãe Terra”. A Bolívia se insurge particularmente contra a proposta de indicar preços para os recursos naturais disponíveis (uma das possíveis ferramentas apontadas por economistas preocupados com o rápido esgotamento desses recursos).

    O primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, endossa a necessidade de um desenvolvimento sustentável no mundo e em seu país, mas pergunta quem pagará a conta: “Aqueles que vivem ao nível da subsistência não podem arcar com os custos das mudanças ambientais”.

    O conceito de economia verde teve o repúdio frontal da Cúpula dos Povos, evento paralelo que reuniu cerca de 30 mil pessoas, que, em sua declaração final, afirma: “A dita ‘economia verde’ é uma das expressões da atual fase financeira do capitalismo que também se utiliza de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento público-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas”.

    O UNEP (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) tem sido um dos maiores articuladores, em nível mundial, das iniciativas que denomina “economia verde inclusiva”. Essa proposta está diretamente vinculada ao fato de que o meio ambiente não será manejado sustentavelmente, no mesmo processo e ao mesmo tempo, se não se conseguir incorporar social e economicamente aqueles que estão no “fim da fila”: os mais pobres, especialmente da África, Ásia e América Latina.

Segurança alimentar

    Não por acaso, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, aproveitou o desenrolar da Conferência para lançar o Desafio Fome Zero (Zero Hunger Challange), em escala mundial. Inspirado parcialmente no Fome Zero brasileiro, mas também em programas similares de outros países, a campanha quer concentrar esforços para garantir segurança alimentar para milhões de pessoas que vivem hoje com menos de US$ 2 por dia e passam fome.
   
    De imediato, a Inglaterra se comprometeu com 150 milhões de libras para apoiar pequenos agricultores na Nigéria e na Etiópia. Não por acaso, é um agrônomo brasileiro, José Graziano da Silva, quem está à frente da FAO (Fundo para Alimentação e Agricultura), uma das principais agências internacionais que dará suporte ao programa. 

    Entre outras vozes, o superintendente-geral da Fundação Amazonas Sustentável, Virgílio Viana, ex-secretário de Meio Ambiente do Estado do Amazonas e Ph. D. por Harvard, não é tão pessimista: “Houve uma enorme penetração da sustentabilidade em territórios até então cegos e surdos ao tema”, referindo-se a governos em todo o mundo, bancos, grandes empresas públicas e privadas, lembrando que antes a questão estava restrita a poucos ambientalistas e líderes.  “A Rio 92 foi muito bem sucedida ao disseminar o conceito de desenvolvimento sustentável. Creio que a Rio + 20 será igualmente bem sucedida em consolidar o conceito de economia verde.”

(Sérgio Corrêa Vaz/Especial para a brpress)

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