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Golpe ovacionado pelas democracias

(Londres, brpress) - O paradoxal é que há duas décadas EUA e União Européia vêm demandando que militares se sujeitem à ordem constitucional, condenando sua intervenção. Por Isaac Bigio.

Isaac Bigio*/Especial para brpress

(Londres, brpress) – Na última sexta-feira (11/02), o exército egípcio depôs Hosni Mubarak. Nenhum artigo da Constituição permitia isso. O presidente deposto, além disso, podia reclamar que ele era o mandatário constitucional, eleito cinco vezes consecutivas e que era ele a garantia de que, em setembro, fosse substituído no cargo mediante eleições multipartidárias.

No entanto, este golpe foi saudado por todos os líderes ocidentais e até por Mohamed El-Baradei, o Prêmio Nobel da Paz egípcio, que aspira ser o primeiro democrata a governar o país. Para El-Baradei, somente as Forças Armadas (FFAA) poderiam ter evitado um caos e uma carnificina.

    O paradoxal nesta história é que, há duas décadas, os EUA e a União Européia vêm demandando que em todo o resto do globo as FFAA se sujeitem à ordem constitucional e que todo golpe seja condenado. Como conseqüência desta premissa, quase todos os países da Europa e das Américas elegem seus governos mediante votos – e não botas.

    Para Israel, o melhor cenário teria sido que o chefe da inteligência Omar Suleiman, que, em 29 de janeiro, foi nomeado o primeiro vice-presidente de Mubarak (por este mesmo, diga-se), o substituísse. Ele teria assegurado a continuidade do regime, dos acordos de paz e do processo eleitoral.

    Contudo, Mubarak se empenhou em manter-se no cargo, mesmo diante da reação popular. A população poderia acabar tomando o palácio e linchando o presidente (como fizeram os romenos em 1989, os bolivianos em 1946 e os italianos em 1943), obrigando o exército a cerrar fileiras com a ditadura e a reprimir os populares à bala, podendo gerar uma guerra civil.

    Hoje, o exército egípcio é favoravelmente reconhecido por muitos, dentro de seu próprio povo e entre governantes de todo o mundo. É inacreditável que esta seja  a mesma instituição que vem governando ininterruptamente o país, desde o golpe de 1952.

    São os militares que vêm regendo, com mãos de ferro, o Egito, sob a tutela dos “oficiais livres” de Nasser (desde 1952/54 até sua morte, em 1970), depois pelo general Sadat (de 1970 até seu assassinato, em 1981) e, finalmente, pelo general Mubarak, cujo último gabinete tinha generais como vice-presidente, primeiro ministro e vice-premier, ministro do interior e da defesa. Este último, o marechal Mohamed Hussein Tantawi (comandante em chefe das FFAA) é o chefe da nova Junta de Governo.

Mãos sujas e influenciadas

    Esta é integrada por militares que sempre apoiaram a ditadura e que tem as mãos sujas de sangue, pois todos eles lutaram contra o povo, reprimiram e torturaram civis. Os EUA, no entanto, os vêem com simpatia, pois todos eles passaram por sua escola.

    De acordo com a Al Jazeera, o ex vice-presidente Suleiman continua nesta Junta composta, ainda, pelos generais Sami Anan, Chefe do Exército; o marechal Mohamed, chefe da Aviação; o vice-almirante Hamish, chefe da Marinha, e o general self-Eideen, comandante da Força Aérea. Portanto, Mubarak continua influenciando o governo em sua casa de praia, em um balneário construído antes por Israel, no Sinai, e bem protegido por suas FFAA.

    Em seus comunicados, a Junta de Governo reconheceu os méritos de Mubarak, mas não revelou nenhum plano específico, além de assegurar a manutenção da antiga diplomacia, e tampouco revelou se convocará eleições  ou chamará para um governo mais amplo.
 
(*) Analista de política internacional, Isaac Bigio vive em Londres, onde lecionou na London School of Economics, e também assina coluna no jornal peruano Diario Correo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] ou pelo Blog do Leitor. Tradução: Angélica Campos/brpress.

Isaac Bigio

Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics . Tradução de Angélica Campos/brpress.

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