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Copa e crise de identidade

(brpress) - Para observadores atentos da sociedade contemporânea, fica mais fácil entender a crise pela qual as seleções europeias estão passando. Por Leda Lu Muniz.

Leda Lu Muniz*/Especial para brpress

(brpress) – As lentes do mundo estão voltadas para o Campeonato Mundial de futebol, o que pressupõe competição, entretenimento, alegria. Infelizmente, assistimos atônitos nestes últimos dias, fatos inimagináveis. Países europeus com uma tradição histórica no futebol voltam para casa, sequer chegando às finais de uma Copa de Mundo.
 
A França, envolvida em uma crise sem precedentes, num conflito interno entre técnico e jogadores, após vários desdobramentos, foi abandonada pelos patrocinadores (Carrefour, a companhia telefônica SFR, o grupo de energia GDF Suez, o Banco Credit Agricole), e precisou  
da intervenção da ministra dos esportes Roselyne Bachelot, enviada pelo presidente Nicolas Sarkozy, para entrar em campo na sua última partida contra a África do Sul.

A Itália, sem os jogadores estrangeiros de seus clubes (brasileiros e africanos) não demonstrou tradição e preparo, tendo um desempenho abaixo da média, voltando para casa cedo.

Entendo pouco de futebol. Meu interesse por esse esporte se limita aos jogos da Copa do Mundo e com restrições. Prefiro outros tipos de eventos, em que há muitas modalidades diferentes de competição, como as Olimpíadas.

Portanto, minha análise não diz respeito a bairrismos ou a qualquer entendimento técnico, uma vez que não os possuo.

Globalização

Para observadores atentos da sociedade contemporânea, fica mais fácil entender a crise pela qual as seleções europeias estão passando. Embora as opiniões da imprensa especializada tentem procurar culpados e causas técnicas, a questão aqui é muito mais profunda.

A globalização trouxe para o século XX e XXI muitos benefícios, mas também muitas complicações. Ao mesmo tempo em que uniu, conectou, transformou o mundo numa Aldeia Global, como profetizou Marshall McLuhan, provocou uma crise de identidade das próprias raízes.

A unificação de um “modus vivendi” global, a fácil mobilidade das pessoas, os deslocamentos do capital provocaram um abalo nos paradigmas existentes.

Estrangeiros

Os clubes europeus na ânsia de lucros exorbitantes, e angariando patrocínios bilionários, investiram durante décadas no contrato e no treinamento de atletas com bom potencial, mas originários de países sul-americanos e africanos.  

Deixaram de lado seus próprios atletas, pararam de procurar talentos em times menores, não investiram em seu treinamento para se tornarem iguais ou melhores que os estrangeiros.

Ao contrário, estimulam e investem durante todo o ano nos atletas estrangeiros, pagando salários exorbitantes, para faturarem ainda mais. Isso aconteceu na França, na Itália, na Espanha, no Reino Unido, na Alemanha (em menor escala), países competentes no futebol, com uma tradição consolidada.

Se observarmos, os jogadores importantes nos clubes italianos e espanhóis são estrangeiros (brasileiros e africanos). Onde estão os atletas nacionais?
Será que não há atletas à altura de defender seus próprios clubes nesses países? Com certeza, sim. Porém, isso exige investimento e tempo. E os patrocinadores exigem resultados imediatos, na sociedade do aqui e agora.  
 
Vestindo a camisa?

A França em seus clubes, abriga atletas das antigas colônias francesas da África, ou franceses filhos ou netos de imigrantes, que ainda hoje encontram problemas de aceitação em seu país, (mesmo representando a terceira ou quarta geração desses imigrantes). Como é possível abraçar a causa de representar e defender uma nação, sentindo-se discriminado?
 
Por outro lado, nos chamados países “colonizados”, independentemente das origens de suas gerações precedentes, todos se sentem brasileiros, argentinos, uruguaios, chilenos, nigerianos, etc. e são tratados como tal. Defendem a todo custo esses países, mesmo tendo um sobrenome de origem européia.  

Sob pressão

A pressão de um Campeonato Mundial é intensa. Há muito em jogo, literalmente.
Especialistas em comportamento humano afirmam que o indivíduo só se revela quando submetido a uma intensa pressão.

Aqui não há revelações individuais… Mas sociais… Cicatrizes sociais ficaram expostas a céu aberto diante das lentes do mundo inteiro. A desintegração, a discriminação, o desestímulo, o desapontamento. Em campo, está o retrato da sociedade contemporânea européia em busca da própria identidade…
Em busca de seus sonhos e integridade.

(*) Leda Lu Muniz é mestre em Sociologia pela Universidade La Sapienza/Roma, especialista em Política Internacional, pesquisadora, consultora e analista de Relações Internacionais.

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