Fuga grega do euro
(Londres, brpress) - Euro passa por sua maior crise, e é muito provável que pouco antes ou pouco depois das Olimpíadas, nação converta-se na peça que pode dar um grande golpe na primeira moeda transnacional. Por Issac Bigio.
Isaac Bigio*/Especial para brpress
(Londres, brpress) – Quando o mundo começa a celebrar as Olimpíadas, o maior acontecimento esportivo de todos os tempos, o país que inventou esses jogos – a Grécia – converte-se na peça que pode dar um grande golpe na primeira moeda transnacional: o euro.
Se antes da II Guerra Mundial a economia global estava dividida em torno de várias moedas, após a derrota nazista houve uma que remodelou o globo: o dólar americano. No entanto, tão logo esta moeda afundou o rublo e venceu a Guerra Fria, abriram-se as condições para que as antigas potências europeias criassem o euro, uma moeda que começou a crescer inclusive dentro do pátio traseiro e latino da América do Norte e foi pensada como alternativa de divisa por vários exportadores de petróleo e outras matérias-primas.
Hoje, o euro passa por sua maior crise, e é muito provável que pouco antes ou pouco depois das Olimpíadas de Londres, que acontecem entre 27/07 a 12/08, a nação onde está o Olimpo lance um dardo no euro e fuja dele.
Fora da moeda?
A retirada grega deverá criar vários problemas nos mercados e abrirá um precedente que poderá influenciar as decadentes economias de Portugal, Espanha e Itália, inclusive o futuro do sistema financeiro europeu. Uma possível debandada grega não apenas irá afetar a unidade e poderio da União Europeia, mas representará um tremendo golpe moral.
A Grécia é o único país da Europa Oriental que derrotou uma insurreição comunista, que se manteve fora do bloco socialista e que aderiu à OTAN.
Berço cultural
Apesar de seu pequeno tamanho, população e economia, a Grécia mantém uma enorme influência cultural à sua volta. A Europa foi forjada pelos helenos, que construiram a primeira civilização e império deste continente. A filosofia, literatura, ciência, arte, religião e grande parte da nomenclatura linguística da Europa se devem aos helenos.
Alexandre Magno foi o primeiro europeu a conquistar as grandes civilizações da Ásia Menor e da África e a chegar à Índia, considerada sempre como a fonte de riquezas que logo faria com que os iberos conquistassem as Américas.
Economia pequena, prejuízo enorme
A cultura e a mitologia gregas serviram de base às de Roma, o primeiro e único império que uniificou o Mediterrâneo, que propagou o cristianismo, a maior religião de todos os tempos, e onde circulou a primeira moeda única da história: o denário (denarius, em latim, plural denarii).
O grego foi a língua comercial e cultural falada no mar Mediterrâneo e em seu entorno (sendo, então, mais importante do que hoje é o inglês no mundo globalizado). Em grego foi escrito o segundo testamento e se expandiu o primeiro cristianismo.
Do ponto de vista puramente econômico a Grécia tem pouco peso, mas sua saída do euro desiquilibrará esta moeda e tirará dela o sustento moral de estar ancorada no berço da civilização europeia.
(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics. É um dos analistas políticos latino-americanos mais publicados do mundo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] , pelo Twitter @brpress e/ou no Facebook. Tradução: Angélica Campos/brpress.