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Outono turbulento

(brpress) - Ano letivo e fiscal começa no Hemisfério Norte, com problemas no Fisco britânico e onda de protestos contra expulsão de romenos da França. Por Leda Lu Muniz.

(brpress) – O verão europeu terminou. À diferença dos países abaixo da linha do Equador (que começam o ano após o Carnaval), o Hemisfério Norte tem no dia 1º de setembro o início do ano letivo e fiscal. Reinicia com a reabertura dos órgãos públicos e privados, após as férias de verão. E parece que a Europa experimenta um recomeço turbulento. 

Na Grã-Bretanha, o Fisco enviou cartas a milhões de contribuintes, vítimas de erros de tributação causados por um problema no sistema de informatização de dados. No total, 5.7 milhões de britânicos serão contatados pela Receita antes do Natal, 4.3 milhões por terem pago mais impostos do que o devido e 1.4 milhão por terem pago menos que o devido. Estes últimos deverão quitar seus débitos em pelo menos 1.428 libras (1.722 euros) cada. Desse modo o governo deixou de arrecadar 2 milhões de libras (2.4 milhões de euros).

O governo duvida que esses erros possam ser totalmente reparados já que existe a possibilidade dos contribuintes contestarem judicialmente tais cobranças, e ainda serem indenizados pelos erros cometidos pelo Fisco.

Protestos

A França, em apenas três dias, foi palco de protestos de milhares de pessoas nas ruas. Dia 4 de setembro, um protesto encabeçado por ONGs, artistas e intelectuais foi contra as expulsões por parte do governo Sarkozy, de romenos e búlgaros (ciganos) do país (leia mais sobre aqui).

Tal manifestação se espalhou por outros países, em várias cidades do bloco: Madri, Barcelona, Bruxelas, Viena, Nicósia, Budapeste, Roma, Lisboa, Londres. Em Bruxelas, os manifestantes gritavam palavras de ordem na frente da Embaixada da França. 

Além disso, os sindicatos franceses pedem a cabeça do ministro do trabalho Eric Woerth, pelo escândalo político-financeiro conhecido como caso Bettencourt, envolvendo dinheiro para campanha presidencial (por parte da herdeira da L’Oreal, Liliane Bettencourt) e prevaricação.

Neste 7 de setembro, novamente a França parou. 2.7 milhões de franceses saíram às ruas, contra a reformulação da previdência e da idade para as aposentadorias (projeto do governo Sarkozy e do mesmo ministro do Trabalho). Transportes, correios, escolas e estabelecimentos públicos funcionaram no mínimo permitido, demonstrando o descontentamento com tal situação.   

Complexidade

Há quem diga que a Europa está cada vez mais complexa. Não mais do que há anos atrás, quando eram apenas dez ou quinze países. Essa fusão de soberanias, abdicando poderes por parte dos Estados, estabelecendo regras às quais tais Estados se submetem, constitui-se numa inovadora forma de articulação cujos métodos também são inovadores. 

Esse “bloco” compõe e articula 27 países com tradições próprias, culturas diferentes, idiomas distintos. Alguns analistas internacionais chegam a utilizar a palavra “milagre” para definir o multilinguismo praticado no Parlamento Europeu (em Strazburgo) e na Comissão Europeia (órgão executivo sediado em Bruxelas). 

A União Europeia hoje é uma máquina com engrenagens complexas e articuladas, com muitos desafios pela frente. Não obstante à crise econômica, cujo efeito dominó respingou em vários países individualmente (como o caso da Grécia) e no Bloco Europeu como um todo, ainda são muitos os problemas a serem enfrentados neste início de segunda década do milênio.

Cidadania: patrimônio

Embora os mais pessimistas vejam com preocupação este momento europeu, alguns indicadores demonstram que a cidadania ainda é o patrimônio mais arraigado e importante para os habitantes do continente. Os cidadãos vão para as ruas e praças e se fazem ouvir, se unem, se solidarizam. Ou param tudo para chamar a atenção do mundo: como a recente paralisação no metrô de Londres hoje.

A experiência pós-guerra ensinou aos europeus (pagando um alto custo) que, independente dos governantes, são os cidadãos que conduzem seus destinos e seu futuro, através dos inúmeros mecanismos democráticos disponíveis (desde o voto, até as manifestações de rua).

Ainda existe um respeito latente por essa cidadania, que tem o poder real de eleger ou destituir para sempre um governante ou um partido. Tal poder, com maior ou menor intensidade, reivindica, protesta, aprova ou desaprova. Grita. Sai às ruas. Faz estremecer ministros e presidentes à beira da “guilhotina”.

Nos países em desenvolvimento há  algo, ou melhor, muito o que aprender e beneficiar-se com a experiência de cidadania europeia. Cidadania é um processo e se conquista no dia-a-dia, nas pequenas e grandes atitudes.

(*) Leda Lu Muniz trabalhou durante 15 anos na área de Relações Institucionais e Internacionais da União Européia, é mestre em Sociologia, especialista em Política Internacional, pesquisadora, consultora e analista de Relações Internacionais. Fale com ela pelo e-mail [email protected], pelo Blog do Leitor ou pelo Twitter @brpress .

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