Ovário congelado
(brpress) – Congelamento do tecido ovariano de mulheres submetidas a tratamentos é opção para filhos no futuro. Por Gabriel Bonis.
(brpress) – O congelamento de tecido ovariano, técnica experimental para preservação da fertilidade em mulheres que se submetem a tratamentos como radioterapia e quimioterapia, potencialmente danosos para a capacidade reprodutiva, tem avançado nos últimos anos, se tornando uma opção viável para o desejo de engravidar após a cura.
O procedimento relativamente recente consiste em remover os ovários ou parte deles para preservá-los utilizando meios crioprotetores, que protegem os tecidos de efeitos térmicos e osmóticos durante o congelamento em nitrogênio líquido.
O médico especialista em reprodução humana e doutor em ginecologia pela Unicamp Dr. Daniel Faúndes explica que é retirada dos ovários não é feita por inteiro e ocorre por meio de uma videolaparoscopia. “Normalmente, só retiramos entre a metade e 2/3 de cada órgão. Isto permite reintroduzir o tecido ovariano congelado em um segundo momento após o tratamento quimioterápico, quando a paciente receber alta do oncologista”, afirma Faúndes.
Alternativa
A técnica pode ser aplicada em mulheres que passarão por quimioterapia e radioterapia, procedimentos capazes de destruir o tecido germinativo (folículos ovarianos), ou seja, torná-las inférteis. “Caso não façam nada, teriam o risco de perder os ovários por conta destes tratamentos oncológicos”, explica o médico.
Para o especialista, o método é eficiente e sem risco de rejeição – pois o tecido é do próprio corpo da paciente. Porém, não há garantias da capacidade de engravidar. “Provavelmente, é a única alternativa que estas mulheres têm de preservar ou tentar preservar a fertilidade”, afirma Faúndes.
Por ser um tratamento considerado recente e ainda experimental, não é utilizado com frequência. “A maiorias das pessoas não sabe que existe esta possibilidade de tratamento conservador e os que sabem encaminham pacientes a clínicas de fertilização”, explica Faúndes. São poucas as clínicas que oferecem o procedimento no Brasil e no mundo.
Reimplante
O procedimento é realizado por meio de cirurgia laparoscópica ou por laparotomia, para recolocar o tecido ovariano congelado no que restou do ovário. O enxerto volta a funcionar normalmente, mas por enquanto tem duração média de três anos – o que proporciona a mulher apenas este período para tentar a gravidez.
No momento de realizar o reimplante, é possível colocar o tecido na região pélvica, na região das trompas, ou até mesmo no braço. Neste caso, é preciso utilizar medicamentos para induzir a ovulação e depois realizar fertilização in vitro.
Histórico
Os casos de reimplante e gravidez ainda são reduzidos, pois a técnica está em evolução. No mundo há registros do nascimento de nove crianças por mulheres que utilizaram a técnica. Recentemente, a dinamarquesa Stinne Holm Bergholdt teve o segundo filho após o procedimento. Em 2004, a jovem foi diagnosticada com sarcoma de Ewing, aos 27 anos.
Caso seja realizada a extração de ambos os ovários para conservá-los em criogenia, a paciente ficaria estéril (devido ausência de óvulos) – o que serviria como um método anticoncepcional considerado definitivo e com conseqüências hormonais importantes, pois entraria na menopausa devido ausência da produção de estrogênios eprogestogenios. Porém, após o reimplante os ovários voltam a funcionar normalmente.
Gravidez adiada
Mulheres jovens ou de meia idade que desejam postergar a maternidade para o futuro podem utilizar o procedimento como forma de preservar a fertilidade, mas o médico Daniel Faúndes alerta que nestes casos o mais indicado seria o congelamento de óvulos.
A técnica diminui os riscos de anormalidades genéticas, mais comuns entre mulheres que engravidam após os 40 anos, pois os óvulos ou tecido ovariano teriam a idade da mulher na época do congelamento. Sendo assim, os riscos de más formações seriam referentes à faixa etária da paciente no procedimento.
Preço
O procedimento envolve custos elevados, pois os convênios não cobrem estas técnicas por serem experimentais. ”Aproximadamente de R$ 15 mil a R$ 20 mil, incluindo cirurgia e criopreservação ovariana. Porém, nestes valores não estão incluídos o reenxerto do tecido nem a taxa de manutenção para o congelamento”, diz.
(Gabriel Bonis/Especial para brpress)