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Maça de Michael SchmidtMaça de Michael Schmidt

Prix Pictet questiona consumo

(Londres. brpress) - Morto após ganhar prêmio, Michael Schmidt deixa legado fotográfico sobre exploração de pessoas, animais e natureza pelo agronegócio. Por Geraldo Cantarino.

(Londres. brpress) – Um prêmio de fotografia que  revela os principais desafios sociais e ambientais da atualidade. Assim é o prestigioso Prix Pictet. A premiação tornou-se referência ao incentivar olhares que confrontam a humanidade e a finitude dos recursos naturais diante do cosumo desenfreado, tema da edição 2014, marcada pela morte inesperada do fotógrafo vencedor, o  alemão Michael Schmidt, de 69 anos.

Três dias depois de receber 100 mil francos suíços (cerca de R$ 250 mil), Schmidt faleceu em Berlim. Sua série de fotos intitulada Lebensmittel (“gêneros alimentícios”) foi escolhida entre 11 finalistas de nove países por ser considerada uma investigação épica de como consumimos alimentos atualmente.

“Com Lebensmittel, Michael Schmidt nos mostra como pessoas, animais e natureza são explorados no agronegócio. Suas fotos mostram a brutalidade de situações absurdas que se tornaram aceitáveis e corriqueiras, por meio da alienação. Elas são como uma fábula macabra do mundo moderno”, escreve o crítico Michael Fried, ao classificar o fotógrafo como “um dos artistas mais importantes do nosso tempo”.

    O anúncio do prêmio foi feito em 21 de maio, em cerimônia no museu Victoria & Albert, em Londres, onde uma mostra de fotografias com os trabalhos dos finalistas, selecionados entre 700 participantes, segue em cartaz até Victoria & Albert até 14/06/14. “Somos todos consumidores”, afirma o texto de apresentação da exposição.

    A entrega do prêmio foi realizada por Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU e presidente de honra do Prix Pictet. fundado na Suíça pelo Grupo Pictet de gestão de ativos. Seria o capitalismo preocupado com a sobrevivência de suas próprias engrenagens?

Persuasivas

    “Os artistas finalistas produziram imagens fortes que devem persuadir  governos, empresários – e cada um de nós como consumidores individuais – da necessidade de repensarmos os princípios sobre os quais a riqueza contemporânea é criada”, conclamou Annan.

    Para Michael Benson, diretor do Prix Pictet, a fotografia é uma linguagem internacional que pode influenciar na formulação de políticas mais sustentáveis numa escala mais ampla. Mas Annan lembrou que “a questão do consumo insustentável e, em particular, da segurança alimentar e nutricional, não está apenas em primeiro plano no cenário político mundial. Ela está agora firmemente na agenda pessoal de cada um de nós”.

    “Inventamos novas formas de construção, produção industrial, agricultura e energia; esvaziamos mares e devastamos a terra em nosso implacável impulso para satisfazer nossos insaciáveis desejos. Por vezes, sustentamos nossos apetites pela exploração das pessoas mais pobres do mundo. As consequências de nossa voracidade estão por toda parte, para que possamos ver,” conclui.

Alto nível

    Segundo Benson, em função do altíssimo nível, a seleção dos finalistas deste ano deu trabalho redobrado à comissão de jurados, presidida pelo professor Sir David King, representante especial para mudanças climáticas do Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido.

    Além do apuro técnico, o diretor destacou as diferentes interpretações que os fotógrafos fizeram do tema. O colombiano Juan Fernando Herrán, por exemplo, produziu uma série de fotos em comunidades carentes nos arredores de Medellín, segunda maior cidade da Colômbia.

    A intenção do colombiano foi observar grupos de pessoas que dificilmente participam da chamada “sociedade de consumo”. Para elas, a luta por espaços e territórios se torna essencial como condição básica para se viver.

Menos é mais

    Entretanto, segundo Herrán, essas pessoas aprenderam a solucionar problemas para compensar a falta de recursos e são extremamente criativas, engenhosas, organizadas e com senso estético. “É possível viver com muito, muito menos”, acredita.

    Nascido na Bélgica, o britânico Mishka Henner buscou retratar o impacto no meio ambiente provocado pela extraordinária demanda de consumo por dois preciosos produtos nos Estados Unidos: carne e petróleo.

Vista aérea

    Vistos da perspectiva de satélites que orbitam a Terra, enormes campos – alterados de sua forma original pelas mãos do homem –, representam uma sistemática intenção de maximizar a produção e os rendimentos com o objetivo de satisfazer os altíssimos níveis do consumo humano.

    O resultado é uma paisagem natural transformada em algo semelhante a placas de circuito eletrônico. “O consumo de carne e petróleo, que fazem parte do sonho americano, transformou-se, de alguma forma, num verdadeiro pesadelo”, afirma Mishka.

Consumismo desvairado

    A norte-americana Laurie Simmons, que mora em Nova York, também fez referência ao sonho americano e ao consumismo desvairado. “As pessoas vivem na superfície, numa busca vazia”, avalia. A série de fotos criadas por Simmons chama a atenção.

    Em 2009, ela iniciou uma nova fase de seu trabalho e encomendou do Japão uma “Love Doll” (boneca do amor), totalmente personalizada e de alta qualidade. “Para mim, isso é o máximo do consumismo”. Feita de látex, a “Love Doll” é uma versão sofisticada das bonecas infláveis, porém mais realistas.

    Simmons começou, então, a documentar o seu relacionamento com o novo “brinquedo”. “Eu fiquei imediatamente fascinada e confusa com a ideia de que um corpo – um corpo de tamanho natural e parecendo real – poderia ser comprado e entregue embalado numa caixa; uma mulher jovem entrando em sua casa como um produto de consumo, pronta para ser usada e tratada como um objeto de fetiche”, explica.

Insaciáveis

    Um ano depois, ela encomendou outra boneca e passou a criar e registrar situações de interatividade entre elas. Para os organizadores, o trabalho dos 11 finalistas deste ano representa um mundo em que nossos insaciáveis apetites estão nos conduzindo à beira do desastre.

    Depois do Victoria & Albert, a exposição fará um tour internacional, começando pelo espaço Palau Robert, em Barcelona, e o Museu de Fotografia Thessaloníki, na Grécia. Indagado se haveria chance de a exposição ir ao Brasil, Michael Benson disse que tudo é possível, e brincou: “Estamos aceitando reservas”.

    Participam da exposição os seguintes fotógrafos: Laurie Simmons (Estados Unidos), Mishka Henner (Reino Unido), Hong Hao (China), Motoyuki Daifu (Japão), Boris Mikhailov (Ucrânia), Abraham Oghobase (Nigéria), Rineke Dijkstra (Holanda), Adam Bartos (Estados Unidos), Juan Fernando Herrán (Colômbia), Michael Schmidt (Alemanha) e Allan Sekula (Estados Unidos).

(Geraldo Cantarino*/Especial para brpress)

(*) Geraldo Cantarino é jornalista, formado pela Universidade Federal Fluminense e com Mestrado em Documentário para Televisão pelo Goldsmiths College, Universidade de Londres, onde mora. É autor de quatro livros publicados pela Mauad Editora.

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