Acesse nosso conteúdo

Populate the side area with widgets, images, and more. Easily add social icons linking to your social media pages and make sure that they are always just one click away.

@2016 brpress, Todos os direitos reservados.

Verão ‘quente’ para Sarkozy

(brpress) - Para ONU, há contradição entre Liberté, égalité, fraternité e expulsão dos ciganos, definida como “renascimento do racismo e da xenofobia”, camuflados por instrumentos legais. Por Leda Lu Muniz.

Leda Lu Muniz*/Especial para brpress

(brpress) – As autoridades francesas deportaram nas primeiras horas da manhã desta quinta-feira (19/08) uma dezena de ciganos romenos pelo aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, enquanto outros 79 partiram pelo aeroporto Saint-Exupéry em Lyon. Assim, a França começa a polêmica expulsão de 700 ciganos. São os primeiros voos de cinco que estão previstos para os próximos dias, de acordo com o ministro do interior Brice Hortefeux.

    Os deportados são da etnia romani, ciganos da Europa do Leste. Seus acampamentos estão sendo derrubados por todo o país, depois que Nicolas Sarkozy deu a ordem ao governo de evacuá-los e destruir a metade das instalações em que vivem num prazo de três meses. O ministro Hortefeux está cumprindo as ordens e, em menos de um mês, já desalojou mais de 50 acampamentos.

    A decisão de Sarkozy de expulsar os ciganos (romenos e búlgaros) da França surgiu exatamente quando o governo francês estava no alvo da crítica mundial devido ao escândalo político-financeiro conhecido como caso Bettencourt, envolvendo dinheiro para campanha presidencial por parte da herdeira da L’Oreal, Liliane Bettencourt,
e prevaricação envolvendo o ministro do Trabalho Eric Woerth.

    Estratégia eleitoreira para reconquistar a opinião pública, já que seu governo estava totalmente desmoralizado, usou a luta contra a delinquência como lema, para anunciar que “os delinquentes de origem estrangeira não merecem ser franceses”.
 
Ironia

    Irônico pensar que Sarkozy (filho de pai húngaro e marido de uma italiana, ambos naturalizados franceses), eleito por um país que sempre se vangloriou de valorizar os princípios de que todos os cidadãos nascidos ou naturalizados são iguais perante a Lei, acredite que essa medida desesperada e populista, vá conseguir sua reeleição.

    As críticas em relação a essa política do atual governo até pelos seus próprios deputados – Jean- Pierre Grand, do partido União Por um Movimento Popular comparou o fato às expulsões dos judeus da França pelos nazistas – estão sacudindo a opinião pública em todos os países-membros da UE.

    Moratória

    A Comissão Européia, por meio da vice-presidente para Justiça, Direitos Fundamentais e Cidadania, Viviane Reding, advertiu que a França “deve respeitar as regras no que se refere à liberdade de circulação e a liberdade de moradia” dos cidadãos europeus.

    Desde a entrada da Romênia e da Bulgária para a União Européia, seus cidadãos tem direito a livre circulação pelos países comunitários. Porém, a França impôs uma moratória até 2012 e que pretende se estender até 2014, e respondeu que as medidas adotadas “estão plenamente de acordo com as leis européias”.

    Contradição

    A ONU, por meio do Comitê para a Eliminação e a Discriminação Racial (CERD), após reunião em 11 e 12 de agosto, em Genebra, denunciou as recentes atitudes de Nicolas Sarkozy. O relator da sessão, o americano Pierre-Richard Prosper, clamou a França ao seu papel fundamental na defesa da liberdade e dos direitos do homem, destacando que atualmente existe uma contradição entre imagem que o país mostra ao mundo e a sua verdadeira realidade.

    Um outro especialista, Ewomsan Kokou, constatou também que a França está diante de um “renascimento do racismo e da xenofobia”, camuflados por instrumentos legais. A reação às críticas por parte do partido de Sarkozy foi igualmente dura. Seu porta-voz Dominique Paillé declarou que as conclusões do Comitê (CERD) o chocaram, já que “é composto por representantes de países que não respeitam os Direitos Humanos”. O Comitê é formado por 18 países entre esses China, Paquistão, Burkina Faso, além de Estados Unidos e Reino Unido.

    Algumas pesquisas de opinião apontaram um aumento na popularidade de Sarkozy que subiu para 34%, de acordo com o Le Parisien. Mas um dado curioso das pesquisas é que sete entre dez cidadãos acreditam que nenhuma das ações empreendidas nos últimos oito anos tenha sido eficaz para reduzir a criminalidade. Durante esse período Sarkozy ocupou duas vezes o Ministério do Interior, e chegou a Presidência em maio de 2007.

Agosto de 1789

    Os revolucionários franceses publicaram em 14 de julho de 1789 a Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão (aprovada pela Assembléia Nacional da França, em agosto de 1789) que representou a ruptura com o Ancien Regime, considerada a mais forte manifestação na defesa dos direitos fundamentais da pessoa humana na Europa.
 
    Nessa Declaração, os franceses reconheciam que “a ignorância, o esquecimento e o desprezo dos direitos humanos são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção do governo”. A Declaração se preocupou principalmente com a defesa da liberdade e da igualdade.

    Tal documento serviu de base para a Declaração Universal dos Direitos Humanos adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Portanto, a França possui um histórico na defesa da liberdade, da igualdade, da fraternidade.

    Segunda Guerra

    Após a experiência trágica da II Guerra Mundial e das atrocidades do nazismo, a Europa se voltou para a unificação e a igualdade.  Muitas foram os avanços nestes 60 anos. O bloco europeu hoje é constituído de 27 países, cujos cidadãos deveriam ter os mesmos direitos e deveres. E tais direitos estão sendo desrespeitados.

    A França faz parte de um bloco cujas regras e leis são para todos. Sarkozy quer se manter no poder a qualquer custo.
Até que ponto vale o risco? O mundo está atento…

(*) Leda Lu Muniz é mestre em Sociologia, especialista em Política Internacional, pesquisadora, consultora e analista de Relações Internacionais.  Fale com ela pelo e-mail [email protected], pelo Blog do Leitor ou pelo Twitter @brpress .

Cadastre-se para comentar e ganhe 6 dias de acesso grátis!
CADASTRAR
Translate