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Craig SamsCraig Sams

Craig Sams: uma vida verde

(Londres, brpress) - Ex-hippie que impulsionou onda orgânica na Inglaterra com a Whole Earth Foods agora vende carvão biológico. Por Juliana Resende.

(Londres, brpress) – Ele vale um perfil em bom português numa das melhores revistas do ramo, mas as publicações sobre negócios brasileiras parecem não estar interessadas na história do  homem que introduziu o arroz integral e a macrobiótica no Reino Unido, nos anos 60: o ex(e ainda hoje um pouco)-hippongo empresário septuagenário com corpinho de 40, Craig Sams. Ele é fundador da Greens & Black, pioneira na fabricação de chocolate orgânico e que faz o melhor e mais barato chocolate “verde” do Reino Unido.

Conhecemos e entrevistamos essa simpatia na galeria dele, a Muse, na icônica Portobello Road, onde estava expondo pela primeira vez obras do artista pop britânico Larry Smart, que era seu amigo e criou logos da primeira marca de produtos naturais do Reino Unido, a Whole Earth Foods, fundada por ele. O atual endereço da Muse foi seu primeiro restaurante natureba e onde tudo começou. “Começamos a fazer pão e quitutes integrais e logo a demanda cresceu e abrimos o restaurante Seeds”, conta Sams, ainda com o brilho nos olhos de um jovem e disposto startupeiro. “Amo criar novos negócios”, diz. 

Sementes

No Seeds, era comum ver gente da cena artística britânica e internacional – John Lennon, por exemplo, era freguês – ruminando grãos integrais e verduras frescas. “Fomos pioneiros num movimento que está na moda hoje. Nosso menu não continha aditivos, café, açúcar, carne industrializada e trigo”, lembra. “Achávamos que a macrobiótica era um passo essencial para um futuro sustentável, num mundo caminhando para a escassez de recursos, com uma superpopulação e o aumento das doenças. Eu ainda penso assim”. 

Daí para a criação da marca pioneira em produtos orgânicos, a Whole Earth Foods, foi um pulo. A empresa é a joia da coroa de orgânicos da terra da Rainha, orgulhando-se de ter se comprometido a trazer boa comida para massas tratadas a chá com leite, fish and chips, sausage, toast and beans e doses cavalares de bacon. A  Whole Earth Foods produziu o primeiro corn flakes orgânico do país, a primeira geléia sem açúcar (adoçada com suco de maçã), ambos nos anos 70, e tem como outro carro-chefe a premiada pasta de amendoim (“cheia de fibra e proteína”). 

É bonito ver Craig Sams falar com tanta ternura de sua missão: “Levar comida de qualidade ao maior número possível de pessoas”. Sabendo que a reportagem é do Brasil, Sams traz o guaraná Gusto para degustação. Surpreendente o sabor equilibrado do xarope do guaraná (“sim, a matéria prima vem do Brasil!”, revela ele) e a quantidade de água gaseificada (naturalmente), bem como o toque levemente doce (o refrigerante é feito com mascavo). Muito bom e estimulante como o puro pó de guaraná. 

Passamos pouco mais de uma hora com Craig Sams enquanto outros ex-hippies, artistas e gente louca por um charutinho de folha de uva com arroz integral e uma cerveja orgânica enchia a pequena galeria na abertura da expô de Larry Smart (1945-2005), Retro-spective. “É uma forma de homenagear um amigo querido, que não teve o devido reconhecimento em vida e que ajudou a criar a cara da Whole Earth Foods, desenhando rótulos dos produtos”, diz Sams. Mas o trabalho de Smart é, literalmente, muito mais esperto. O “maldito” da pop art britânica produziu retratos psicodélicos de Lennon, Bob Dylan e Jimi Hendrix que ficaram na história, além de vibrantes mandalas e coloridas paisagens mesclando natureza e mosaicos orientais – pra lá de Marrakesh, onde Larry Smart viveu. 

‘Barões do arroz integral”

A leveza da obra de Smart casa perfeitamente com o espírito sustentável de Sams. A sensação é que estamos de volta a 1967 no clube UFO, onde bandas como Pink Floyd começaram a tocar e onde os irmãos Craig e Gregory Sams – que ficariam conhecidos como “barões do arroz integral”– vendiam comidinhas integrais. Nunca é tarde para lembrar que a Whole Earth Foods inspirou grandes marcas como Whole Foods Market, rede global de produtos orgânicos que está sendo vendida para a Amazon por exorbitantes US$ 14 bilhões. A transação é alvo de grande polêmica. 

Um grupo de congressistas democratas emitiram um comunicado manifestando preocupação com o acesso a comida saudável a preços justos pela população nos EUA em face da aquisição da Whole Foods pela gigante Amazon (o interesse da companhia de Jeff Bezos é diversificar em seu core business, o e-commerce, e comida orgânica parece um segmento ideal). A Amazon representa a nova geração de lojas que vão levar o varejo a outro patamar, provavelmente aniquilando pequenos comerciantes e até grandes redes varejistas.  

Craig Sams também resolveu diversificar, mas dentro do seu guarda-chuva de sustentabilidade: atualmente é dono da Carbon Gold, que vende carvão biológico como adubo e melhorador do solo ecologicamente correto para agricultura. Ele mantém esse blog bacana, é autor de livros sobre macrobiótica traduzidos em oito idiomas e uma autoridade em vida saudável e negócios. 

(Juliana Resende/brpress) 

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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