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José Mindlin: um homem que valeu tanto quanto os livros que juntou durante a vida.revistabrasileiros.com.brJosé Mindlin: um homem que valeu tanto quanto os livros que juntou durante a vida.revistabrasileiros.com.br

José Mindlin, homem de livros

brpress) - Ele comprava um livro num sebo e depois revendia noutro. O dinheiro que sobrava comprava... livros. Raros por um preço bom. Era um grande empresário e fazia isso. Por Paulo Betti.

Paulo Betti*/Especial para brpress

(brpress) – Amigos,
    Quando cheguei a São Paulo, no início dos anos 70, a novidade era uma empresa que patrocinava teatro. Logo inscrevemos nosso grupo, o Pessoal do Victor, para tentar uma verba na Metal Leve. Acho que foi a primeira vez que ouvi falar a palavra patrocínio.

É claro que, desde que fazia teatro amador em Sorocaba (SP), sempre contávamos com a ajuda de gente que gostava de teatro. Os programas das peças que fazíamos, estampava sempre o nome da gráfica que nos havia ajudado, ou então da Torrefação de Café São Paulo, cujo dono tinha a generosidade dos grandes mecenas.

Pioneiro

Mas foi José Mindlin, falecido em 28 de fevereiro último, que, pela primeira vez (que eu saiba), organizou o apoio aos projetos culturais numa espécie de edital. Concorremos diversas vezes, nunca ganhamos. Mas, sabíamos que era coisa séria.

Assim foi também com as Bolsas Vitae, que ele ajudou a organizar, pois o dinheiro vinha de uma entidade americana e não da empresa dele. Mindlin também foi secretário de Cultura do Estado de São Paulo. Posso estar enganado, mas creio que foi o responsável pela indicação do grande Sábato Magaldi para a secretaria de cultura do município de São Paulo. Certamente o melhor gestor que passou por ali.

Coragem

Desde os primórdios, as artes se desenvolveram graças ao apoio de pessoas de visão. Reis, imperadores, ditadores, grandes empresários. José Mindlin, além de ser um grande apoiador das artes, sempre foi um homem muito corajoso.

Durante o período terrível da ditadura militar, ele, juntamente com Antonio Ermírio, da Votorantim, foi dos poucos empresários que se recusaram a financiar a inacreditável Oban, Operação Bandeirantes, que financiava, através de um caixa sustentado por grandes empresários, a repressão à resistência à ditadura.

Livros

A informação está no filme documentário Cidadão Boilensen, de Chaim Litewsky. José Mindlin vai entrar para a história como um grande benfeitor das artes e, principalmente, como um amante dos livros e da leitura.

Segundo ele, o livro “ é para ser lido. Comprar só para ter na estante não tem sentido. Temos de comprar para ler.” Ele dizia também que a leitura não serve apenas para adquirir conhecimento, mas principalmente para se ter prazer.

Formou durante toda sua longa vida, uma grande biblioteca, com quase 40 mil títulos, sua mais querida e maior fortuna, que doou, num gesto de generosidade, com o consentimento da esposa e dos filhos, para a USP.

Freqüentava os sebos da região central de São Paulo e percebeu que os donos não costumavam conversar, portanto poderia achar livros que num eram caríssimos e noutro baratíssimos. Comprava um livro num sebo e depois revendia noutro. O dinheiro que sobrava comprava… livros.

Todos aqueles que amam sebos adoram negociar. Faz parte. Não se trata apenas de comprar um livro raro, o prazer é comprá-lo por um preço bom. Mindlin já era um grande empresário e fazia isso.

Prazer

O professor Antonio Cândido, talvez o homem vivo no Brasil mais justa e integralmente relacionado à palavra livro, depois da morte de Mindlin, disse dele:
”Indiscriminado e seletivo, glutão e refinado, ele é o tipo ideal de leitor, porque sabe que praticamente nenhuma leitura é perda de tempo se der prazer.”

Mindlin foi, acima de tudo, um “bibliófilo”. Um amante dos livros. Fez verdadeiras peripécias para conseguir o livro que queria. Foi um exemplo! Alguém disse que toda sua biblioteca pode caber num “pen drive”. Sim isso é verdade, salve os tempos modernos!
 
Mas e o conteúdo? Quem colocou todos aqueles e justamente aqueles livros juntos?
E o pen drive vai ter também o cheirinho de livro novo? Ou velho? Vai ser um objeto querido e bonito? Com capa ilustrada?

Salve José Mindlin, um homem que valeu tanto quanto os livros que juntou durante a vida.

xxxxxx

Nas bancas, novamente, a linda coleção de livros clássicos da Abril. Aliás, pode-se comprar livros bons e baratos nas bancas. Só não lê quem não quer.

(*) Paulo Betti é ator e diretor.

Paulo Betti

Paulo BettiPaulo Betti é ator e direitor e sua coluna foi publicada pela brpress.

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