
Valéria Polizzi fala de Aids e teatro
(São Paulo, brpress) - Depois de escrever três livros, soropositiva por 24 anos vê Depois Daquela Viagem adaptado para o palco. Ela conversa com Juliana Resende.
(São Paulo, brpress) – Depois de escrever três livros, Valéria Polizzi, soropositiva por 24 anos, vê agora Depois Daquela Viagem (1997), adaptado para o teatro por Dib Carneiro Neto (Prêmio Shell de autor em 2008 por Salmo 91). Parte da vida de Valéria, que ela compartilhou com o mundo ao assumir sua soropositividade numa época em que as pessoas morriam de Aids e que o preconceito e ignorância andavam de mãos atadas, também está em cena de alguma forma.
Ela – que contraiu o vírus da Aids na primeira relação, porque, conforme conta, “transei sem camisinha” – conta, na entrevista a seguir, como é a sensação de ter sua vida contada em um espetáculo, além de compartilhar, mais uma vez, como vai a vida aos 40.
“É gratificante saber que minha história, ainda hoje, 13 anos depois de o livro ter sido publicado, continua ajudando a tratar da temática da Aids, do preconceito, adolescência e tantos outros temas relacionados”, diz. “Mas acredito que ver algumas cenas montadas no palco me fará entrar em contato novamente, e muitos anos depois, com trechos marcantes de minha vida. Isso dá um certo frio na barriga”, admite.
A produção é da jornalista e editora-executiva da Agência de Notícias da Aids, Roseli Tardelli, e está em cartaz no Teatro Anchieta.
Confira abaixo a entrevista concedida por email:
O que acha desta frase: “Hoje com 40 anos, Valéria Piassa Polizzi tem Aids há 24 anos”? Ter Aids, significa estar doente – o que é diferente de ter HIV e não estar doente. Por favor, fale sobre essa diferença e o frequente erro de interpretação e uso dos termos.
Valéria Polizzi – Não acho isso tão importante. Mesmo porque eu já estive doente e hoje estou bem de saúde.
Valéria, você, como muitos soropositivos, é a prova de que Aids é uma doença crônica administrável atualmente e que o ser portador do HIV não significa ser doente nem ter sentença de morte decretada. A que atribui sua boa saúde? Toma remédios/coquetel? Faz exercícios? Atividades com o corpo? Faz terapia?
VP – Tomo o coquetel todos os dias há 14 anos. Faço musculação e caminhadas. Já fiz terapia.
O que recomendaria aos demais soropositivos em termos de qualidade de vida?
VP – Se cuidar bastante, se tratar com um médico de sua confiança e buscar apoio na família e amigos.
Como prosseguiu com sua vida sexual após saber que era soropositiva? Teve receio de se relacionar?
VP – No começo sim, como todo soropositivo. Mas com o tempo a gente aprende a lidar com o assunto. Sempre preferi contar logo que eu tinha HIV, antes que rolasse algo. Hoje sou casada, meu marido não tem o vírus e nos cuidamos sempre.
O que acha que mudou com relação ao HIV hoje?
VP – O preconceito e tratamentos melhoraram muito.
Seu livro já foi sondado para virar filme?
VP – Sim, mas não tenho vontade, por enquanto.
Tem a intenção de escrever outro? Você trabalha como jornalista? Escreve regularmente sobre o tema HIV/Aids?
VP – Trabalhei por dois anos na Agência de Notícias da Aids e fiz várias matérias sobre o assunto. Agora, morando parte do tempo no exterior, estou estudando alemão e quero, sim, escrever mais livros, além dos três que já publiquei: Depois Daquela Viagem, Papo de Garota e Enquanto Estamos Crescendo.
Você se considera realizada ou há ainda muitos sonhos a serem realizados?
VP – Totalmente realizada. A peça é uma dessas realizações. Ver minha história no palco, adaptada por um dramaturgo tão competente como o Dib Carneiro, encenada e dirigida com tanta garra pelo elenco que é maravilhoso, está sendo demais!
Ingressos: R$ 10,00, R$ 5,00 e R$ 2,50.Bilheteria – De segunda a sexta, das 12h30 às 21h; sábados, das 9h às 21h; e domingos, das 14h às 20h.Classificação etária: 14 anos.
Teatro Sesc Anchieta – Rua Dr. Vila Nova, 245; (11) 3234-3000; www.sescsp.org.br
(Juliana Resende/brpress)