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Francis Ford Coppola em São PauloFrancis Ford Coppola em São Paulo

Coppola encantador

(São Paulo, brpress) - O que esperar de um cineasta que assina clássicos do calibre de O Poderoso Chefão e não precisa provar nada a Hollywood? Não exatamente candura e generosidade. Por Juliana Resende.
(São Paulo, brpress) – A expectativa era grande e lá se iam mais de meia hora de atraso quando o cineasta Francis Ford Coppola adentrou o salão da FAAP, para conceder entrevista coletiva a jornalistas brasileiros. Por falta de uma peça, seu avião particular também atrasou a chegada ao Brasil e a programação agendada para promover o lançamento de seu novo filme no Brasil, Tetro, em circuito dia 10/12.

Um senhor falante, amável e interessado em expressar seus pontos de vista e compartilhar sua experiênca de vida, do alto de seus 71 anos, foi o que se viu em pouco mais 30 minutos de perguntas e respostas do cineasta – sempre longas, generosas, apesar da “censura” das assessoras, repreendidas pelo próprio Coppola ao tentarem encerrar a entrevista antes que ele concluísse algumas ideias.

Preto e branco

Tetro – um drama familiar que une arte e sofrimento, no primeiro roteiro de Coppola desde A Conversação (The Conversation, 1974) e tão pessoal que se confunde com sua própria trajetória – é filmado em preto e branco, em Buenos Aires (“homenagem ao realismo fantástico latino-americano”) e parte da premissa de que não há dois gênios em uma única família.

O mote é forte o bastante para Coppola ser questionado sobre como vê o trabalho da sua filha e também cineasta, Sofia Coppola, que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza por Um Lugar Qualquer (Somewhere, 2010).

 “Acredito piamente nesta máxima – e não fui eu que inventei isso”, diz Coppola, provocando risos generalizados. “Sofia e meus outros filhos cresceram como que num circo por causa da minha atividade. E depois de trabalhar como modelo, querer ser pintora e escritora, ela optou por ser cineasta – e eu aprovei”, conta.

Experimentar e aprender

 “Acho que a função da juventude é experimentar”, aconselha. Já para um homem na sua idade e no seu patamar de vida e carreira – um cineasta que fez sucesso em Hollywood (os clássicos O Poderoso Chefão e Apocalypse Now são apenas exemplos) e não precisa mais se curvar à indústria para filmar projetos alternativos –, o que importa é aprender. “Aprendemos que esse é o grande prazer da vida”.

E, para Coppola, fazer um filme é ter sempre a possibilidade de aprender mais sobre um determinado assunto. No caso de Tetro, “escrevê-lo foi como ordenar perguntas e filmá-lo foi como encontrar respostas. Sobre ele mesmo e sua família, o cineasta não esconde, “problemática como todas”. Parece que Coppola não volta mais para Hollywood, uma vez que não quer parar de “aprender mais sobre si mesmo”.

 “Quer privilégio maior?”, ele pergunta, gesticulante, revelando o sangue carcamano que corre em suas veias. “Acordar de manhã e dizer: o que quero filmar? E não ter de depender do dinheiro de uma indústria que já se repete, apesar de tão jovem? O cinema tem só 100 anos e ainda precisa experimentar muito mais do que a indútria permite. Veja a ópera, por exemplo…”, comparar e argumenta.

3D? “Incomoda-me ter de usar aqueles óculos por duas horas…” Blockbusters? “No momento me dou ao luxo de fazer filmes cujo fracasso eu posso bancar, se for o caso. São filmes de baixo orçamento”, explica. O que o leva ao set? “Inspiração, como a que encontrei na literatura fantástica latino-americana de Vargas Llosa, Cortázar, Borges, Jorge Amado e Roberto Bolaño” – escritor chileno que o inspirou a criar a emblemática crítica Alone, vivida em Tetro por Carmen Maura.
   
Seria Alone a forma ácida com que Coppola vê a crítica em geral, personificada na persoagem de Maura? O cineasta sai pela tangente contanto que Alone na verdade deveria ser um homem, Farewell (de acordo com Bolaño), pensado para Javier Bardem. “Ele não aceitou fazer pois tinha acabado de ganhar  Oscar (por Onde os Fracos Não Têm Vez). Então, transformei o crítico em uma mulher”, conta Coppola.

Corman e Gallo

Chame de se inspirar ou mesmo se apropriar de ideias, o processo não importa muito para inquieto cineasta – “como dizia meu pai, ‘roube dos melhores'”, ensina citando Flaubert e Balzac. Ele nem bem fala de Tetro e já revela outro filme, também independente, bancado pela American Zoetrope Films: “Uma história de terror, sobre o Halloween, que remete ao meu passado de trabalhos com Roger Corman”.

Homem de múltiplos interesses, Coppola  se ocupa de projetos diversos como pesquisar os anos dourados da TV americana, quando tudo era feito ao vivo, ler ficção latino-americana e dirigir atores com fama de maus, como Vincent Gallo que encarna Tetro com uma entrega assustadora.

“Não tenho mais idade para me intimidar com esse tipo de coisa. Gallo é um ator fenomenal e eu apenas fiz meu trabalho dirigindo-o”, desconversa Coppola, humilde. E com uma generosidade típica dos sábios, deixando a sensação de que “se todos fossem iguais a você” o showbiz – e o mundo – seriam bem melhores.

(Juliana Resende/brpress)

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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