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Cena de TatyanaCena de Tatyana

Deborah Colker: de Tatyana à Bela da Tarde

(Londres, brpress) - Antes de começar nova produção, adaptação de A Bela da Tarde, coreógrafa faz balanço da internacionalização da cia. Por Juliana Resende.

(Londres, brpress) – London, London, de Caetano Veloso, poderia bem ser trilha de uma coreografia de Deborah Colker. Parece coisa simples para quem foi a primeira mulher a dirigir um espetáculo do Cirque Du Soleil (Ovo, 2008) e a primeira artista brasileira a ganhar o célebre prêmio inglês Olivier pela Extraordinária Contribuição à Dança (‘Outstanding Achievement in Dance’) por Mix, apresentado em Londres, no Barbican Centre, em 2001.

Londres  – que recebeu, no mesmo Barbican, a primeira temporada de duas semanas de Deborah e cia. na cidade, com Tatyana, este ano – tem sido literalmente Rota para o mundo, um trocadilho com o marcante espetáculo de 1999, com o qual seu trabalho começou a ganhar notoriedade além-mar. “Tivemos 13 críticas positivas e nossa carreira internacional decolou com um vôo muito alto, pela resposta acolhedora do públlico londrino”, diz a coreógrafa, antes de embarcar do Rio para Londres, em entrevista exclusiva à brpress.

Colker tem uma relação especial com a capital britânica, apesar de conhecer os quatro cantos do planeta nas turnês que faz com sua companhia. Ela explica a predileção: “Londres compreendeu quase que institiva e instantaneamente meu trabalho”, declara-se. “Compreendeu a virada que eu estava querendo dar na dança contemporânea, de maneira criativa, diferente e extremamente profissional. Reconheceu a minha ousadia. Foi e é sempre vibrante.”

    Em retribuição, quem vibra é o público britânico com Tatyana, adaptação do clássico da literatura russa, Eugene Onegin, de Alexander Pushkin. Antes da temporada londrina, a coreografia foi apresentada somente uma noite, no eclético e multicultural Festival Internacional de Edimburgo, em 11 de agosto de 2012 – portanto em plena Olimpíada de Londres.  A Companhia de Dança Deborah Colker  foi ovacionada naquela noite, estreia européia de Tatyana, que esta repórter teve o privilégio de presenciar em meio aos aplausos de uma das platéias mais cosmopolitas do mundo. Deu orgulho de ser brasileira – sensação tão rara e sublimemente desfrutada.

    Se a coreografia Rota é a que melhor se comunica com os jovens e com um público que não é necessariamente familiarizado com dança –  traço comum a todo o trabalho de Colker –, Tatyana é arrebatadora, contando uma história passional de um amor trágico. É uma produção impecável num cenário minimalista de Gringo Cardia (que também assina a direção de  arte), com direção executiva de João Elias e musical de Berna Ceppas, incluindo luz de Jorginho de Carvalho e figurino de Fabia Bercsek.

Bela da Tarde

Se Tatyana é sensual e fisicamente intensa, o que diremos da montagem de A Bela da Tarde – sim, Belle de Jour, livro de Joseph Kessel no qual Luiz Buñuel baseou seu cultuado filme –, que será o próximo trabalho de Deborah Colker. “Com Tatyana, foi a primeira vez que adaptei um livro. O resultado foi tão bom que já preparo a adaptação de outro”, conta ela, animada ao revelar, em primeira mão, a nova empreitada.

“Gosto quando o público já conhece a história em que a coreografia é baseada, mas também gosto quando chega às cegas e se entrega a aquilo que viu”, diz Colker. Em todo saguão de cada teatro, em cada canto do mundo, na língua que for preciso, a cia. coloca um resumo da história de Pushkin, que também vira personagem no palco em Tatyana. Com A Bela da Tarde não será difirente.

A estreia do novo espetáculo deve acontecer em 2014. A intrépida coreógrafa ainda não sabe quem será Séverine, a mulher burguesa que, entediada com o marido e a vida, passa as tardes prestando serviços no bordel de Madame Anais. “É mais uma personagem feminina incrível”, festeja Deborah. “Quero explorar o diálogo entre o instinto e a razão. Dessa vez, a sexualidade mais escancarada promete tomar lugar da rejeição sofrida de Tatyana. “Gosto muito desta história e desta mulher e sobre como conseguimos nos colocar nessa luta primária que é o sexo”.

    Deborah vai logo avisando: “Não é fácil criar um rendez vous!”. Que o diga alguém que colocou o nome do Brasil riscado entre uma acrobacia e dois pliés, numa  internacionalização sem volta de uma verdadeira grife em movimento, que é sua companhia. Antes de estourar em Londres, os passos marcantes, o lirismo misturado com escalada de paredes, os músculos e as pontas dos bailarinos extremamente fortes saltaram os olhos de programadores de diversos centros de dança europeus: os festivais de Lyon e Hanover, em 1996, e Weimar, em 1998, onde diretores do Peacock Theather, anexado ao Sadler’s Wells, maior casa de dança do Reino Unido, viram a cia. e encantaram-se.

    A imprensa britânica chama a Cia. Deborah Colker de “trailblazing”. A palavra combina com a coreógrafa: pioneira, inovadora, mas que ainda tem frio na barriga e se excita ao anunciar um novo espetáculo. Todo esse pique é mantido com uma aula de balé clássico que a coreógrafa faz e outra de dança contemporânea que ela dá para a companhia, diariamente. Fora as 2 horas e meia de preparação. “Meu segredo é fazer das aulas um grande prazer. Encaro também uma esteira por 45 minutos, lendo o jornal de manhã. Malho eventualmente, presto atenção na alimentação – e gosto de uma cachacinha”.

(Juliana Resende/brpress)

Juliana Resende

Jornalista, sócia e CCO da brpress, Juliana Resende assina conteúdos para veículos no Brasil e exterior, e atua como produtora. É autora do livro-reportagem Operação Rio – Relatos de Uma Guerra Brasileira e coprodutora do documentário Agora Eu Quero Gritar.

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