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Sakineh Mohammadi AshtianiSakineh Mohammadi Ashtiani

Negócios escusos

(brpress) - Enquanto governos e ONGs condenam apedrejamentos, Brasil, aliado e intermediador do regime brutal na ONU, rompeu silêncio quase cúmplice com telefonema. Isso basta. Por Leda Lu Muniz.
Leda Lu Muniz*/Especial para brpress

(brpress) – Apedrejamentos voltaram à mídia nos últimos dias. São os métodos de execução iranianos que têm feito horrendas manchetes, trazendo à tona a chamada violência de estado com requintes medievais.  Diante da barbárie – com direito a vídeos no YouTube –, a comunidade internacional está manifestando repúdio. O Brasil, aliado e intermediador do Irã na ONU, cedeu à pressão e rompeu silêncio quase cúmplice com um telefonema.

O pivô da vez é Sakineh Mohammadi Ashtiani, uma iraniana de 43 anos e dois filhos. Seria uma dona de casa como tantas outras, se não fizesse parte de um grupo restrito de iranianos destinados a morrer. Tal execução constitui-se em enterrar a pessoa até o pescoço e depois ser apedrejada na cabeça até a morte.

Sakineh foi acusada de relações ilícitas com dois homens. Segundo seu advogado Mohammad Mostafaie, não existe qualquer evidência para justificar uma acusação de adultério. Como ela pertence a uma minoria étnica, sua dificuldade em compreender a linguagem do tribunal no momento da acusação, contribuiu ainda mais para um julgamento duvidoso.

Segundo os iranianos, as famílias abandonam esses condenados, sendo ou não culpados, porque sua honra é atingida. Nem mesmo os nomes dos prisioneiros são falados em público, pois suas famílias não querem seus nomes citados ou suas fotos publicadas.

O filho de Sakineh, Sajad, e sua filha Farideh, no entanto, começaram, corajosamente, uma campanha internacional para mostrar ao mundo tamanha barbárie e salvar a mãe e todos os outros iranianos (12 mulheres e três homens) que estão nesse corredor da morte. Foram apoiados por organizações tais como Amnesty International, ativistas e artistas tais como Emma Thompson, Juliette Binoche e Colin Firth.

“Poupada”

O Irã proibiu as agências de notícias, jornais e canais de TV de publicar qualquer nota a respeito do caso. Mas por meio da campanha, o caso veio a conhecimento internacional, obrigando o governo iraniano a emitir uma nota oficial, via embaixada em Londres.

A nota garantia que Sakineh Mohammadi Ashtiani não seria apedrejada. Mesmo assim, nada garante que ela não seja executada por meio de enforcamento, como já aconteceu em outros casos semelhantes. 

As notícias sobre os métodos de execução iranianos não são novidade. Essa truculência, arriscando inclusive a própria imagem perante a mídia internacional, não surpreende. Os métodos de tortura utilizados forçam os cidadãos a confessar crimes que jamais imaginariam praticar. 

Lembremo-nos que, em várias situações, o governo iraniano proibiu seus cineastas de participar de festivais internacionais, como o de Cannes, mesmo sob protestos do mundo todo.

É a política do medo, que escolhe cidadãos a esmo, muitas vezes inocentes (principalmente mulheres) criando emboscadas para condená-los à morte, mostrando o que se faz com quem desobedece “a lei”.

Pressão

O governo de Ahmadinejad está sofrendo a pressão internacional, através da mídia, e de cartas do mundo todo. A Amnesty International lançou uma campanha pulverizada em mais de 150 países, para pressionar o governo e o tribunal iranianos a erradicar de vez as execuções sumárias.

Os governos de vários países (Estados Unidos e Reino Unido incluídos) se manifestaram, condenando tais ações. Mas será que isso basta? Condenar tais ações talvez não seja suficiente para intimidar as pretensões de Ahmadinejad.

Ultimamente, o governo iraniano começou a se aproximar de alguns países – principalmente o Brasil – em ascensão no cenário internacional, para estabelecer alianças e cooptar aliados.

A estratégia em escolher países em ascensão, ansiosos por projeção internacional e com uma espinha dorsal ainda em formação em questões mais pungentes, sem um histórico bélico no quesito militar ou étnico, favoreceria seus interesses velados sob a argumentação de acordos comerciais.

Infelizmente, o Brasil ficou fascinado pelo canto da sereia…

“Negócios”

Com essa aliança, o governo Lula corre o sério risco de perder todas as relações construídas durante décadas pelos nossos competentes diplomatas de carreira no cenário internacional. Além disso, permanece engessado para se posicionar em questões tão importantes como essa violação dos direitos humanos que beira à barbárie medieval. 

Durante os anos da ditadura militar no Brasil, ouviram-se os militantes da “chamada” esquerda, defenderem os direitos humanos ferreamente. O fato de mencionar que haviam sido torturados ou presos por motivos políticos, ou exilados, conferia a tais militantes uma aura de sacrifício que beirava à santidade.

Essa “esquerda”, hoje no poder, sequer enrubesce ao se aliar a ditadores, torturadores, a governos cujos métodos em nada se diferenciam daquela ditadura que os perseguiu. Pelo contrário, ainda declara em relação à aproximação com o Irã, que “negócios são negócios”, nas palavras do Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Se esse é o posicionamento, até nesse quesito (negócios), nosso governo deixa a desejar.  Depois de criticado pelos comentários, Amorim teria ligado a um ministro iraniano equivalente à sua pasta e manifestado desagravo, pedindo para   “aliviar” o brutal regime – cuja polícia matou a ativista Neda Agha-Soltan, numa das  manifestações da oposição nas eleições, em 2009.

Responsabilidade social

É sabido hoje, que quem faz “negócios” precisa se posicionar em relação à responsabilidade social e humana, defendendo a qualidade de vida e a preservação do ambiente, para não correr o risco de não vender seus produtos ou até mesmo ser boicotado pelos consumidores. 

Cada vez mais, as empresas se associam a parceiros que possuem em comum tais objetivos e visão de mundo, e que são vistos pelos outros como defensores de tais direitos. Isso inclui o direito à vida, a liberdade de expressão, a liberdade de religião.

Muitas empresas se empenham em ações contra a pobreza, na cura de doenças, incentivam os colaboradores ao voluntariado. 

Se as grandes corporações pressionassem “economicamente” tais governos ou promovessem ações contra essa barbárie, tão efetivas quanto suas campanhas publicitárias, as notícias nos jornais teriam outro teor.

(*) Leda Lu Muniz é mestre em Sociologia pela Universidade La Sapienza/Roma, especialista em Política Internacional (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), pesquisadora, consultora e analista de Relações Internacionais. Fale com ela pelo email [email protected] .

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