Nem fascista nem socialista
(Londres, brpress) - Regime emanado da revolução iraniana de 1979 desperta visões opostas nas Américas do Norte e do Sul. Por Isaac Bigio.
(Londres, brpress) – O Irã desperta visões opostas nas Américas do Norte e do Sul. Enquanto que na do Norte ele é visto como um possível alvo militar e o candidato-surpresa das internas republicanas, Rick Santorum, caracteriza-o, assim como ao regime da Síria, como um “fascismo islâmico” e o principal perigo mundial, seu presidente Mahmoud Ahmadinejad peregrinou pela do Sul.
Os governos que visitou na Venezuela, Nicarágua, Cuba e Equador tratam-no como um líder que tem afinidades com as “revoluções bolivarianas do socialismo do século XXI”.
A verdade é que o regime emanado da revolução iraniana de 1979 não é nem fascista nem socialista.
O fascismo surgiu nos anos 20, como o inimigo principal da revoluções soviéticas, mobilizando as camadas médias e desempregadas contra os sindicatos e as esquerdas, e promovendo um regime de partido único nacionalista que encetasse uma economia protecionista a favor das grandes corporações privadas de seu respectivo país.
Este tipo de movimento chegou ao poder na Itália, Alemanha, Espanha e a maior parte da Europa continental até que, na segunda metade dos anos 1940, foram depostos para nunca mais voltar a dominar nenhum país da região.
Alguns regimes na América Latina e no Terceiro Mundo copiaram o culto à personalidade e a autocracia de Mussolini, mas não tiveram esse sistema de partido totalitário e economia fechada, e, por isso, não podem ser chamados de fascistas.
No Irã, não há nada parecido com um caudilho tipo Franco, Hitler e Mussolini, ou um partido único. Há um líder espiritual da revolução (o aiatolá Seyed Ali Khamenei) e um presidente que ganhou as eleições disputando-as com outros candidatos (Ahmadinejad).
Ainda que seu regime, como todos os do Oriente Médio, tenha reprimido os comunistas, não se sustenta no ódio contra estes e sim, ao contrário, procura aliar-se com muitos deles no exterior.
Choques
A república islâmica iraniana, criada em 1979, baseia-se em constantes choques com os EUA, a Otan e Israel. No entanto, esta nunca adotou a retórica do socialismo pan-árabe do Baath sírio e iraquiano, de Nasser, Gadafi e Arafat, que se inspirava na falecida União Soviética, com a qual estes governos se aliaram.
Os aiatolás não são árabes sunitas mas persas xiitas, e seu regime sempre foi hostil ao soviético. Em vez de buscar a unidade dos 200 milhões de árabes sob um socialismo autocrático, eles querem que os 1500 milhões de muçulmanos criem sociedades nacionalistas religiosas, estruturadas em torno do Corão e resistentes ao mundo ocidental.
(*) Isaac Bigio vive em Londres e é pós-graduado em História e Política Econômica, Ensino Político e Administração Pública na América Latina pela London School of Economics. É um dos analistas políticos latino-americanos mais publicados do mundo. Fale com ele pelo e-mail [email protected] , pelo Twitter @brpress e/ou no Facebook. Tradução: Angélica Campos/brpress.